Fairy & Love

PRÓLOGO

Cada degrau que avançava subindo a escura escadaria, lhe trazia uma lembrança. Queria ele que fossem boas, mas não eram. Sentia uma dor no peito, que o fez morder o lábio inferior como forma de segurar o choro que já estava à beira de escapar.

O garoto de semblante triste abriu a porta do terraço e caminhou até a beirada. Podia ver uma grande parte da cidade, luzes para todos os lados, buzinas e sons dos veículos que circulavam pelas ruas abaixo.

A jaqueta balançava ao vento em suas mãos, seu cabelo acompanhava a dança, ele soltou a blusa deixando-a ir voando. Sem hesitar, subiu no parapeito e abriu os braços e deixou sua voz sair em forma de um grito que foi abafado pelo som da cidade.

Sabia que se hesitasse não conseguiria, aquela era a hora de acabar com todos os seus problemas, finalmente sua dor chegaria ao fim, enquanto olhava a vista dos prédios coloridos a noite, sentia seu coração acelerar. Não deveria mais pensar, então fechou os olhos e se lançou no vazio.

A sensação era de estar flutuando, o vento assobiava em seus ouvidos a última melodia que ouviria, em sua mente passava um filme de toda a sua vida, de tudo que havia suportado até aquela noite. Até que sentiu algo sólido tocar seu corpo e em seguida o silêncio absoluto junto com uma escuridão o envolveu.

Quanto tempo havia passado? Será que tinha morrido? Não sentia dor, não sentia seu corpo. Queria abrir os olhos, porém estava com medo, até que finalmente seus sentidos começaram a voltar.

"Que som é esse? Parece pessoas gritando... não consigo entender o que dizem... será que é inglês? Não, não... que idioma é este?"

Um flash passa por seus olhos clareando brevemente as suas pálpebras, quanta força precisava para conseguir abri-los? Com esforço finalmente conseguiu, porém, ainda não conseguia enxergar direito. Tudo se encontrava embaçado, a luz era muito forte.

- Finalmente acordou - falou uma voz masculina.

"Essa voz, eu não a reconheço."

Sua visão ainda estava embaçada, ao tentar olhar ao redor, viu alguns vislumbres do que fora uma cidade, havia chamas para todo lado.

"Os gritos, eram..."

- Eu desejei tanto que esse dia chegasse... - a voz continuou chamando sua atenção.

Sentia todos os seus músculos doerem, as costas escoradas em algo solido como rocha. Mesmo com a visão borrada, olhou para frente, focando para conseguir enxergar.

O homem em sua frente usava uma roupa preta longa como um sobretudo, seu rosto não era nítido, em uma das mãos carregava uma espada longa, a lâmina era larga, na empunhadura havia uma serpente.

Algo não fazia sentido, devia ser devido ao seu estado, podia jurar que viu asas vermelhas se encolherem nas costas da pessoa em sua frente.

- Você ama tanto os humanos a ponto de morrer por eles enquanto assiste o nosso mundo ser destruído por eles? - Disse o homem irritado se aproximando devagar.

- Eu... eu... não... - sua voz quase não era audível.

- Espero que tenha valido a pena, mas agora eu vou libertar o nosso povo - falou o homem erguendo a espada.

O corpo não respondia, a dor era insuportável, não havia outra forma de evitar.

"Está errado, eu não sei o que está dizendo, que povo é esse?"

A lâmina desceu firme, podia sentir ela perfurando seu abdômen.

- Sua morte marca o dia de nossa libertação - disse o homem puxando a espada. Ele virou e partiu.

"Isso tem que ser um sonho, sim, é só um sonho."

Já não conseguia mais manter os olhos abertos, então se entregou aquela sensação de estar flutuando.

Tudo estava escuro, mas o silêncio foi rompido com um som agonizante de um despertador.

O garoto sonolento apoiou um braço na cama para se levantar um pouco, enquanto com o outro fazia várias tentativas de alcançar o celular que gritava em cima da estante. Quando conseguiu finalmente silenciá-lo, deitou novamente olhando para o teto, o quarto estava escuro, então não fazia diferença se ficava de olhos abertos ou fechados.

"Que sonho estranho, eu havia morrido? Uma vida antiga? Não... isso não existe... preciso parar de assistir aos filmes que o Cassio me indica... não queria ir para a escola hoje, mas logo as provas vão começar e já faltei ontem... queria morrer de verdade."

***

FIM