II

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Os portões de ferro nunca pareceram tão intimidantes para mim quanto nesse momento. Ao contrário de agora, eles sempre foram sinônimos de casa.

Depois de uma longa viagem, era um alívio avistar essas pontas de ferro a distância. Quer dizer, não que eu tenha viajado muito. EmEm toda a minha vida, eu só saí do castelo duas vezes, e em ambas com meu pai, Alfred e dezenas de guardas.

Eu sempre estranhei ser  acompanhada de perto por tantos guardas. Meu pai dizia que era para nossa segurança e que os outros reinos nunca saíam com menos de uma centena.

Ele nunca me explicou do que estava nos protegendo.

Nosso povo sempre foi gentil  conosco, e nunca tivemos uma invasão. Nossa maior preocupação foi a entrada de um urso pelos portões, e esse problema foi resolvido rapidamente graças ao meu querido e doce irmão, que amavelmente levou o urso de volta para a floresta com a ajuda de alguns guardas e algumas gotas de elixir mágico feito pelo Alfred.

- É, você sabe como chamar atenção. – Filipe parece impressionado ao meu lado.

Meus olhos vão involuntariamente para ele, e encontro  um sorriso arrogante em seu rosto. Seus olhos, porém, estão passeando entre pontos distintos, o que acaba chamando minha atenção.

Sigo seu olhar, e encontro pequenos amontoados de pessoas me encarando com cautela e surpresa.

– Por que eles estão me olhando? – sussurro de volta.

– Talvez estejam surpresos por  você ter tido um encontro com um troll e saído ilesa.

– E como eles sabem disso?

– As notícias se espalham rápido, Srta. Saddie. Achei que você soubesse disso.

Um bolo se forma na minha barriga, e é como se um nó tivesse surgido em minha garganta.

Eu tento ignorar os olhares, mas é difícil, já que cada vez mais surge uma plateia nova.

As pessoas vão saindo de suas casas para me encarar com choque e ... algo mais. Admiração, talvez?

Ignorando o meu eu interior que me diz para desviar o olhar, fixo minha atenção em um homem de aproximadamente 30 anos, e com certeza há admiração em seus olhos.

Minha atenção passa para uma mulher com uma garotinha. E enquanto a mãe me encara boquiaberta, a filha me olha com um brilho nos olhos, como se eu fosse uma espécie de heroína ou algo assim.

Ela abre um largo sorriso faltando um dente, e no reflexo, faço o mesmo.

– Precisamos nos apressar. – Filipe diz subitamente, já aumentando o ritmo do seu cavalo.

Pelo seu tom de voz, nem me atrevo a responder com algum comentário engraçadinho. Simplesmente o acompanho.

Em poucos segundos, torna-se difícil cavalgar sem pisotear alguém. É como se cada morador tivesse decidido sair de casa para nos ver.

– O que está havendo?!

– Você, é o que está havendo. – Filipe diz, o que me pega de surpresa. Achei que tivesse sussurrado.

– Como assim?

Ele desvia seus olhos da multidão ao nosso redor, e me observa com um olhar indecifrável.

– Nós precisamos chegar logo ao castelo. – É tudo o que ele diz. – Afastem-se! – ele ordena, enquanto a multidão insiste em se aproximar.

Meu cavalo relincha com a agitação, e tento tranquiliza-lo, algo que eu mesma não consigo.

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