Entre dois mundos

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Nós já estávamos a um bom tempo escolhendo móveis, as lâmpadas de led que iríamos por no consultório, cores de tinta, entre outras coisas...minha mãe estava bem mais entusiasmada que eu e não poderia ser diferente, até porque eu não estava entendendo nada do que estava acontecendo.

— Seu consultório vai ficar lindo, querida! — Ela diz quase dando pulinhos de alegria quando encontrou a cor, segundo ela, perfeita, para as paredes do consultório.

Era uma cor amarela bem clarinha, que lembravam em muito as cores do quarto onde acordei. A cor era de fato muito bonita, sútil e alegre como um amanhecer ensolarado. Eu também gostei, embora ela sequer tivesse perguntado a minha opinião. Ela simplesmente viu a cor e disse "É essa! É essa!"

Mas eu sei que ela não fez por mal, muito pelo contrário. Ela estava transbordando de felicidade.
"É para o consultório da minha filha!" Ela dizia orgulhosa, para quem quisesse ouvir.


Será que foi assim que o Tyler se sentiu ?

Parece que eu tinha me formado em nutrição e iria abrir o meu próprio consultório médico. A ideia aqueceu meu coração por dentro, mas tão logo ela surgiu, eu a reprimi. Aquilo não era meu...quer dizer...essa versão de mim. Eu me recusei a me sentir importante, especial, por algo que não fui eu que fiz. Eu não posso usurpar o lugar da minha outra eu dessa maneira, não é ?

— Dahyun! — Minha mãe me chama. — Preta ou bege ? — Ela pergunta e eu fico boiando. — As poltronas, querida. As poltronas para os pacientes...

— Que tal...aquelas ali ? — Eu aponto para duas poltronas na cor marrom café que eu tinha visto.  Estava na cara da minha mãe que ela não gostou, mas ela não se opôs e deixou eu escolher mesmo assim. Comecei a gostar ainda mais dela por isso.

Eram tantas coisas; móveis, plantas decorativas, iluminação, material de escritório, tapetes, abajures...eu já estava exausta.

Quando finalmente fomos atendidas no caixa, mamãe pegou o cartão e pagou tudo pra mim. Ainda bem...porque eu não sei a senha dos cartões de crédito...

— Pode deixar comigo, meu amor. Considere esse um presente da mamãe pela sua conclusão da especialização. — Ela diz, acariciando minhas costas.

Como alguns móveis eram bem grandes, ela pediu que tudo fosse entregue num mesmo caminhão para um endereço informado por ela, que era o endereço do tal consultório. Enquanto ela se acertava com a atendente da loja, seu celular começo a tocar


Eu observei a maneira que ela olhou para mim, enquanto falava com a outra pessoa do outro lado da linha.

— Ah, sim, ela está aqui comigo. Querida, é pra você. — Ela diz e me entrega o celular.

— Quem é ? — Para o meu desespero, ela me ignora, voltando a falar com a atendente.

— Alõ? — A voz do outro lado chama ansiosa.

— Ah...oi?

— Dahyun...você já deveria estar aqui a uns quarenta minutos. Onde você está ? Eu estou ficando desesperada aqui.

Aquela voz era doce e manhosa. Mesmo sem saber como era o rosto da dona daquela voz, eu pude imaginar ela fazendo biquinho do outro lado da linha enquanto falava.

Eu olhei  na tela  do celular e vi o nome daquele contato, Sana.

— Ah...por favor, me perdoe. Eu chego aí num minuto, está bem? — Falo, sem saber onde estava me metendo. Mas que escolha eu tinha ?

— Você jura? Por favor, não me larga aqui sozinha, eu estou quase cancelando algumas consultas porque não vou dar conta de tudo. Nós começamos agora, Kim, não podemos vacilar! — Aquela voz é tão manhosa que eu acabo deixando um riso escapar. Eu me senti  incapaz de não atender aquele pedido de socorro.

— Eu...eu prometo! Já estou a caminho.

Mas que droga que eu tô fazendo ?

— Mamãe! Você pode me levar pra ver a Sana? Ela precisa de mim. — Eu digo, enquanto caminhamos até o carro, finalmente saindo da loja.

— Amor, você não pode pedir um táxi ? Eu tenho que ir para o escritório.


— N-Não! Se você me levar, vai ser mais rápido. — Eu não sabia o endereço e vai ser estranho se eu pedir.

Mas eu também havia me tocado de que eu não sabia onde Sana estava e nem com o que eu deveria ajudá-la. Quando esse inferno vai acabar ? Talvez eu devesse fingir que estava passando mal e ir para casa, ela não poderia me culpar por "passar mal" não é ?

— Ah...Dahyun...você vai fazer eu me atrasar! — Ela diz, estressada, fechando a porta do carro e dando a partida.

— Por favor, mamãe! — Junto as mãos em forma de presse e faço meu melhor olhar triste, com biquinho.

Ela reluta mentalmente, mas logo diz:

— Está bem...

Eu fico pensando no quanto eu tinha sido idiota por me meter em ainda mais confusão, mas...aquela garota, Sana, estava tão desesperada.

Não demorou muito para que nós chegássemos até o lugar, não sei quanto tempo levou, mas foi bem menos do que eu esperava. Era uma clínica médica lindíssima, com portas de vidro automáticas na entrada, o piso era de porcelanato líquido que refletia quem caminhava e o teto com acabamento em gesso com lâmpadas de led.

— Querida, eu já vou indo. Dá um beijo na Sana por mim. — Mamãe diz quando eu desço e rapidamente arranca com o carro.
Quando entrei, eu  vi uma bela recepcionista que assim que me viu , tratou de me cumprimentar com um largo sorriso.

— Olá, senhorita Kim, bom dia! — Ela diz, vi em seu crachá que se chamava Hwasa.

Eu também a cumprimento e antes que eu pudesse raciocinar direito, uma mulher de cabelos castanhos, que vinham até o meio das costas, aparece, vindo rapidamente na minha direção.

— Finalmente você chegou! — Ela pega em minha mão e me puxa em direção ao consultório ou seja lá para onde que ela estivesse me levando.


A mão dela era suave e delicada, mesmo me segurando com tanta firmeza. Eu reconheci aquela voz no exato momento em que a ouvi, era Sana.

Ela fecha a porta e me olha zangada.

— Por que você demorou tanto ? — Ela diz, cruzando os braços.

Eu engulo em seco, olho para ela, impactada com sua beleza. Quero levá-la a sério, não que eu não esteja levando, eu estou, mas ela era tão linda, tão delicada, que mais parecia uma fada. Ao invés de ficar intimidada com sua bronca, eu corei. Além de ser linda, ela também estava usando um perfume que entorpeceu os meus sentidos assim que eu entrei em contato com ele. Era um aroma adocicado e cheio de frescor, delicado assim como ela.

Conforme eu fui tendo consciência do ambiente ao meu redor, eu me lembrei que devia uma resposta, e ela me encarava com seus olhos cor de mel inquisidores.

— Minha mãe...me fez demorar muito enquanto comprávamos as coisas do consultório. — Desculpa, mãe!

— E você não podia atender o celular ? Eu te liguei umas 14 vezes, Kim! — Sua voz sai num tom zangado e manhoso.

— Caramba! Agora que eu percebi! Eu esqueci o meu celular em casa.

Ela leva as mãos até a cintura sem dizer nada. Seu lindo rosto com uma expressão séria, me fuzilando com o olhar. Agora sim eu estava ficando com medo.


— Por favor, Sana-ah! Me perdoa. — Num ato de desespero, eu pego em suas mãos juntando elas, olhando no fundo de seus olhos cor de mel com um pedido de desculpas sincero.

Sinto algo em meu peito ao sentir suas mãos macias e delicadas junto das minhas e mesmo enrubrecendo, eu continuo as segurando.

O rosto sério de Sana se converte pouco a pouco em um sorriso e ela desvia o olhar para disfarçar. Quando eu vejo aquele sorriso manhoso, meu coração se aquece de uma maneira que eu não sei explicar e eu acabo sorrindo com ela.

— Vem, nós temos muito trabalho. — Ela diz enquanto o telefone dentro do consultório começa a tocar.

Sana atende, era Hwasa, dizendo que um paciente tinha chegado.

— Toma. Pega isso. — A  japonesa diz. Era uma pasta bem volumosa, dentro dela, eu vi vários exames de pacientes. — Eu vou para o meu consultório, está bem ?

Ela diz e um nó se forma no meu peito. Eu iria ficar ali, sozinha ?

Assim que ela sai e fecha a porta, eu fico desesperada, encarando a mobília do lugar. Tinha uma mesa de escritório com um computador ligado. Ela tinha uma plaquinha e um carimbo  com o meu nome: Dra. Kim Dahyun

Pendurado na parede, estava meu diploma.
Universidade Federal de Seul confere o título de médico (a) a  Kim Dahyun. Especialista em nutrição Clínica e esportiva.

Aquilo era lindo e assustador ao mesmo tempo. As minhas mãos estavam ficando trêmulas novamente. Eu estava tendo outra crise de ansiedade. Estava orgulhosa de mim, quer dizer, da minha outra eu. Meus olhos ficaram marejados com aquela discoberta, mas...eu, no meu mundo, o mais longe que cheguei profissionalmente foi ser gerente de uma loja de chocolates que ficava no aeroporto de Seul, onde eu trabalhei por quatro anos, na esperança de conseguir dinheiro para fazer algum curso rumo a algo maior, já que uma faculdade de medicina era muito cara e eu nunca consegui uma bolsa de estudos.


Fiquei surpresa que a minha outra eu se formou em uma universidade federal, já que ela tem dinheiro mais que o suficiente para ter feito uma faculdade paga. Isso só mostra o quanto ela é inteligente, já que pelo menos no meu mundo, a prova para conseguir uma bolsa é extremamente difícil.

Eu vesti o meu jaleco, que estava pendurado em um gancho ao lado de uma prateleira cheia de livros e  sentei na cadeira, apoiando as mãos sobre a minha mesa e num ato de desespero, eu fechei os olhos, tentando recuperar as memórias da minha outra eu. Mas que idiota que eu fui...pois, obviamente, não aconteceu nada. Eu fiquei lá, mantendo a minha mente limpa, como se um backup de memória fosse acontecer do nada.

O telefone tocou, e quando eu atendi, Hwasa me disse que mais um paciente estava pronto para ser atendido.


— Pode deixar ele entrar. — Eu disse, com a voz fraca, inexpressiva. O telefone tremia em minha mão.

Eu rapidamente enchi um copo com água, pegando ela do filtro ao lado da minha mesa. Eu tomei tudo num gole só e joguei o copo descartável no lixo, antes do paciente entrar.

Era um homem já na terceira idade, chamado Saul, tinha 61 anos e para a minha sorte, era muito simpático.

— Bom dia, doutora. E aí, o resultado foi pior do que eu pensava ? — Ele pergunta, se acomodando na cadeira.

Obrigada pela dica, Saul...

Eu pego a pasta que Sana tinha me dado, com os resultados dos exames dos pacientes e procuro pelo nome de Saul. Lá estava ele. Mas quando eu olhei, eu não sabia interpretar aquilo. Era um diagrama, informando resultados de coisas que eu nunca ouvi falar na vida, como Triglicérides, lipoproteína de alta e baixa densidade, glicemia, hemoglobina...

Dahyun, sua idiota...quem você quer enganar ? Por mais que eu conseguisse enganar o primeiro paciente, quanto tempo iria levar até eu ser descoberta ?

— Doutora, está tudo bem ? — Eu vejo Saul olhar para mim com uma expressão de medo. Minha mãos estavam tão trêmulas enquanto eu segurava o exame que já estava impossível de disfarçar.

— Por favor, espere aqui, está bem ?

Eu me levanto e saio desesperada atrás de Sana. No mesmo corredor onde ficava o meu consultório, estava também o consultório dela, então, eu não demorei para ver o seu nome em uma das portas. Eu estava tão desesperada que eu sequer bati. Eu abri a porta e vi Sana me olhar surpresa, junto de um paciente.

— Sana, por favor, preciso falar com você urgentemente. — Falo com a voz embargada.

— O senhor pode esperar um minuto? — Eu ouço ela dizer para o paciente, que acente e a japonesa vem ao meu encontro.

— Dahyun...o que aconteceu ? — Ela pergunta, segurando minhas mãos de maneira tranquilizadora.


— Eu preciso que você...eu preciso que você olhe isso. — Eu abaixo a cabeça e começo a chorar. Aquilo era um gesto de confissão...eu estava admitindo a minha incapacidade de atender quem quer que fosse.

Sana pega o papel e fecha a porta, ela pega minha mão e me leva para um lugar mais reservado, ainda no corredor.

— Mas o quê? Por que você está chorando? — Ela diz enquanto olha o resultado do exame. — Há algo que você não entendeu ? — Ela dobra o papel e segura meu rosto em suas mãos, secando minhas lágrimas carinhosamente com os seus polegares.  — Por um acaso, aquele homem te distratou ou fez algo de ruim com você ? — A japonesa pergunta com um tom mais sério e preocupado em sua voz.

Eu faço que não com a cabeça. Eu não quero responder aquelas perguntas, eu só quero que ela faça aquilo parar...eu estava me sentindo tão medíocre. Eu queria parar de ser alguém que eu não sou.

— Por favor, por favor...— A minha voz sai quase inexistente. — Você pode terminar de atender ele? Eu não consigo...

— Shhh. Vem aqui. — Ela me abraça e afaga o meu cabelo. — Eu estou aqui com você, está bem? Não precisa ficar assim. — Ela caminha até o bebedouro  perto da recepção e enche um copo discartável com água. — Toma, beba isso.

Eu tomo a água e Sana não tira os olhos de mim nem por um minuto, observando cada reação.

— Você se sente melhor? Quer ir pra casa ou no hospital?

Eu apenas faço que não com a cabeça, porque eu não sabia chegar em nenhum dos dois sozinha.

— Certo. Me espera aqui, está bem ?

===

Sana atendeu os dois pacientes. Eu tinha me trancado no banheiro porque estava com tanta vergonha, que não conseguiria olhar para a cara do Saul. Eu só sai de lá quando Sana me chamou. Ela me levou para dentro do seu consultório e eu me sentei em uma poltrona de courino vinho , a japonesa se sentou diante de mim e segurou uma das minhas mãos, acariciando suavemente o meu rosto com a outra, para me acalmar. Funcionou bem mais do que eu imaginava.

— Agora, me diz o que está acontecendo.

Depois negar que estava doente, ou que alguém tinha feito algo comigo, ou que algo aconteceu em casa, percebi que a japonesa não sabia mais por onde me encurralar.


— Não é nada. Eu só...— Eu volto a chorar novamente. Era quase como se o meu coração estivesse me obrigando a contar, uma vez que Sana me fez se sentir acolhida.

— Dahyun, Já chega ! — Ela segura minhas mãos firmemente  em seu colo —Vamos parar com esse rodeio sem fim. Eu sei muito bem que aconteceu alguma coisa e você sabe que não vai sair daqui enquanto não me contar, então abra logo esse bico!

— Eu não posso. Você não vai acreditar em mim.


— E por que você não me dá uma chance ?

Eu respiro fundo. Já estava de saco cheio daquilo. Até porque esse é um jogo que eu não posso vencer. Por mais que eu quisesse e eu não quero, não tem como eu viver a vida da minha outra eu. Não sem uma cúmplice. Alguém para me dar informações que eu não posso conseguir sozinha, então, é melhor eu acabar com isso de uma vez por todas.

— Você vai ter que confiar em mim como nunca confiou em toda sua vida. — Eu digo, olhando nos olhos dela.

— Isso não vai ser difícil. — A japonesa diz, com confiança inabalável.

Eu fecho meus olhos, me preparando psicologicamente para começar a dizer e antes que eu junte coragem para desistir, começo a falar:

— Eu não sou a sua Dahyun. — Começo a dizer, olhando para aqueles olhos castanhos novamente. — Eu não pertenço a esse mundo. Não conheço você, os meus pais dessa realidade ou quem mais que seja. Eu não sou daqui, você entende ?

Já não fazia mais diferença se ela iria acreditar em mim ou não. Eu só não queria mais fingir ser quem eu não era, se isso iria me render uma camisa de força, então, que assim seja.

Sana fica calada por mais tempo do que imaginei que ela ficaria. Ela me olha séria, se quer pisca, pela sua expressão, eu não sabia dizer se ela estava acreditando em mim ou não.

— Está tentando me dizer que não se lembra de nada ?

Faço que sim com a cabeça, ainda que não seja exatamente isso.

— E você me garante que isso não é nenhum tipo de brincadeira...— A japonesa questiona, sua voz firme e o olhar sério.

Com raiva, eu me levanto da poltrona e aponto para ela.

— Eu te dei uma chance.

Antes que eu pudesse caminhar até a porta, Sana me segura pelo braço.

— Espere! Espere...—  A japonesa fecha os olhos e puxa o ar. — Eu só estou tentando entender a situação aqui. Por favor, me explique novamente.

Eu me acalmei um pouco e me sentei novamente. Tentei escolher bem as palavras, para contar a história da melhor maneira possível.

Contei para Sana que eu não me lembrava de quem eu era, dela, dos meus pais e das coisas ao meu redor, porque eu não era a sua Dahyun. Que eu tinha vindo de outro mundo, outra dimensão, outra realidade ou seja lá que diabos tenha acontecido. Um lugar onde eu não era médica e...ela não existia, pelo menos, não na minha vida.

Sana novamente se cala, mesmo quando eu já tinha terminado de explicar. A ansiedade começa a voltar, porque estou sentindo que ela não está acreditando em mim e eu comecei a ser tomada pelo desespero.

—  Por favor...acredite em mim...— Falo com a voz embargada e os lábios trêmulos, enquanto lágrimas pesadas desciam pelo meu rosto.

Sana me abraça. Ela começa a afagar o meu cabelo enquanto aninha minha cabeça em seu peito.

— E você...não contou nada disso pra mais ninguém? — A japonesa pergunta.

— Não...

— Está tudo bem, Dahyun. Eu vou cuidar de você. Só fiquei calma, está bem ?

===

Estávamos na recepção da clínica novamente. A japonesa já tinha guardado seu jaleco e pegado a sua bolsa . Sana pediu para Hwasa cancelar todos os compromissos, os meus e os dela, durante toda a quela tarde e disse que ela poderia ir para casa quando terminasse.

— Mas Sana...os seus pacientes...não quero que se prejudique por minha causa.

— Está tudo bem. Você é a minha paciente agora.

Meu coração se aqueceu dentro do peito e começou a bater bem mais acelerado. Ela pega a chave de seu carro, me pega pela mão e diz:

— Vamos ?

===

Nós entramos em um Jeep Renegade na cor prata e ela me leva para longe dali. Estou nervosa, fico calada dentro do carro, olhando para ela de vez em quando. Não sabia para onde estávamos indo e nem o que se passava em sua cabeça, então, a situação era totalmente desconfortável.

— Para onde nós estamos indo ?

— Um lugar tranquilo. — É tudo que ela diz.

Sana estaciona quando chegamos em um gigantesco parque. Havia dezenas de crianças correndo pra lá e pra cá enquanto brincavam. O tempo estava ajudando, pois fazia um lindo dia de Sol. Nós descemos, Sana tranca as portas do carro e novamente segura em mim mão, tomando a frente, enquanto me guia até uma bela árvore , que tinha uma copa gigantesca, que se estendia com seus galhos e folhagens por alguns metros.

— Que bom, hoje está vazio aqui. — Ela diz, me puxando para se sentar na grama, ao lado dela.

Quando olhei para frente, tive a visão linda daquele parque. Tudo era verde, cercado por árvores e dava para ver um belo lago onde as pessoas andavam em pedalinhos com forma de cisne.  Os pássaros voavam de um lado para o outro, formando um show a parte, enquanto cantavam. Eram de todos os tipos e tamanhos.

— Você já está com um semblante melhor. — Ela diz. — Eu pensei em te levar para comer alguma coisa, mas achei que você gostaria mais de vir até aqui. Até porque esse é o nosso lugar favorito e nós podemos comer daqui a pouco, de qualquer maneira. Eu só queria alguma coisa que te fizesse sorrir. — A japonesa olha para mim, entrelaçando os nossos dedos.

Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, já estava sorrindo para ela. Um vendedor de sorvetes passou e ela me perguntou se eu queria um. Eu fiz que sim e ela rapidamente se levantou e correu em direção ao senhor de idade que tinha os cabelos branquinhos como algodão doce. Eu fiquei sentada, encostada no tronco da árvore, apenas observando. Sana voltou alegre e radiante, segurando dois potes. Ela me deu um pote com sorvete de maçã verde.

Fiquei olhando para ele, intrigada. Pois nunca  tinha provado aquele sabor.

— Ah, Meu Deus. Que idiota que eu sou. Me perdoe. — Ela diz, abaixando a cabeça com um olhar triste. — Eu peguei esse sem te perguntar nada porque é o seu favorito. Quer dizer...

— Está tudo bem, obrigada. Você não fez nada de errado. — Digo abrindo o pote de sorvete e enfiando a colherzinha avermelhada  nele, levado-a até a boca em seguida.

Foi como provar o amor de uma mãe. Eu nunca tinha tomado algo tão delicioso em toda minha vida.

Sana respirou aliviada depois que viu minha reação. Depois de tomarmos o nosso sorvete, ela me levou para dar uma volta nos pedalinhos no lago.

Eu estava adorando o passeio, mas senti que ela estava usando aquilo para evitar falar sobre o que tinha acontecido. Eu queria continuar aquela nossa conversa, porque precisava que ela me ajudasse e principalmente, que ela acreditasse em mim. Mas resolvi aceitar aquele momento como um tipo de pausa, até porque aquilo estava me fazendo um bem enorme.

Não sei explicar...tem algo nela que me atrai. Sana tem um magnetismo, uma aura, que ilumina tudo ao seu redor. Mesmo ela sendo uma completa estranha, talvez agora, não tão estranha assim, eu sinto que posso confiar nela, então, eu simplesmente me deixo levar.

Quando nós subimos no pedalinho em forma de cisne e ficamos sentadas lado a lado, indo pra lá e pra cá, aquilo foi a coisa mais boba e doce que eu já fiz e que já me aconteceu. Eu senti um calorzinho tão bom no peito. Foi como se estivesse tudo bem, como se eu conhecesse Sana a minha vida inteira e eu iria me sentir a pior pessoa do mundo se estragasse aquele momento, então, eu simplesmente deixei que ela me levasse para onde quisesse. Depois de mais sorvete e mais voltas no parque, aquele lindo dia ensolarado começou a se despedir e o Sol já estava quase se pondo.

Muitas pessoas já tinham ido embora e enquanto Sana e eu caminhavamos em direção ao carro da japonesa, ela viu uma vendedora de trufas e correu desesperada para comprá-las.

— E-Ei! Espere por mim! — Eu gritei.

— Oh meu Deus! As minhas adoradas trufas de maracujá! — Ela diz com um brilho no olhar.

A japonesa cumprimentou a vendedora que parecia já conhecer a muito tempo e pagou pelas trufas. No mesmo instante, ela começou a desembrulhá-las e sem cerimônia, ela as enfiou na boca.

— Você quer, Dahyun? Pode pegar. — Ela estava se referindo aos chocolates da vendedora. Mas quando olhou pra mim, suas bochechas estavam infladas devido as trufas enfiadas em sua boca.

Eu comecei a rir, não consegui me segurar. Ela estava tão fofa, parecia um esquilinho. O esquilinho mais lindo que eu já tinha visto. Eu chorei de rir com aquela cena.

— Dahyuuun! Pare já com isso! — A japonesa diz de forma manhosa. As palavras saindo emboladas de sua boca.

===

Sana perguntou se eu queria dormir em sua casa. Eu aceitei, ainda que receiosa, pois vi naquilo uma maneira de continuarmos aquela conversa.

A japonesa ligou para os meus pais e disse que eu estava com ela e que dormiria em sua casa.

" Juízo, Dahyun. A mamãe está com saudades. Amo você, querida."
Minha mãe tinha pedido para Sana passar o celular pra mim, para poder falar comigo

"O papai também! "
Meu pai grita ao fundo. Eu sorrio com as palavras deles, eles eram adoráveis. Era impossível não amá-los.


— Eu também amo vocês. — Digo segurando o choro e devolvo o celular para a japonesa.

— Pode deixar que eu vou cuidar bem dela, senhor e senhora Kim.

Sana e eu nos despedimos dos dois e eu a segui até a cozinha de sua casa. A japonesa tinha uma casa espetacular. Não era grande, até porque pude perceber que ela morava sozinha, mas era aconchegante, extremamente linda, limpa e bem cuidada.

— Dahyun...sente-se aí. Nós precisamos conversar.

Eu puxo uma cadeira e me sento. Sana se senta diante de mim e coloca as mãos sobre a mesa. Estava com a mesma expressão séria do consultório.

— Amanhã eu quero levar você no psiquiatra e no neurologista. Está bem ? E eu não aceito um não como resposta.

— Mas...por que você quer fazer isso? Eu não estou doente.

— É justamente para descobrirmos isso que nós iremos até lá. Você não percebe o quanto isso pode ser grave ?

Eu fiquei com tanta raiva ao ouvir ela dizer aquilo. Minhas esperanças dela acreditar em mim se esvaíram. Sana era uma mulher de ciência e eu respeito isso. Sabia que como médica, ela tinha praticamente a obrigação de tratar aquilo de maneira científica e racional e era o que ela estava fazendo. Ela estava procurando algum sinal clínico de doença em mim, para justificar o que eu tinha  contado para ela.

Tento reprimir aquele sentimento. Até porque eu sabia que teria feito a mesma coisa no lugar dela e a contra gosto, eu engulo aquela raiva. Acabei cedendo.

A japonesa sorriu vitoriosa e se levantou dizendo que iria tomar um banho rápido. Ela me pediu para aguardar em seu quarto e eu timidamente me sentei sobre a enorme e confortável cama de casal, aguardando por ela. Qual não foi a minha surpresa ao vê-la retornar em uma camisola cor de rosa, que mal passava da cintura ? Eu engulo em seco, enquanto ela distraidamente coloca o pé sobre a cama e começa a passar creme hidratante por toda sua perna, aquele som de suas mãos esfregando suas coxas...

Meu coração estava batendo tão acelerado.  Minha temperatura subiu mais rápido do que eu poderia fazer alguma coisa. Não consigo tirar os meus olhos das partes do seu corpo que estavam desprotegidas pelo tecido de seda. Aquele som soava quase como uma provocação, mais rápido, mais forte...

A minha voz da consciência gritou para que eu parasse de olhar porque aquilo era evasivo e errado de muitas formas, mas eu continuei mesmo assim e como se já não fosse o bastante, eu percebi que a japonesa não estava usando sutiã por debaixo da camisola. Eu tinha que parar imediatamente com aquilo, porque ao voltar a olhá-la da cintura para baixo, me deu uma vontade quase louca de morder.

— Tá olhando o quê? — Ela pergunta, deixando um riso escapar no final.


— N-Nada.

— Se você também quiser ir, eu te empresto um dos meu pijamas. Eu sou pouca coisa maior que você, então ele vai ficar folgado ao invés de ficar curto. — Eu ouço a sua voz bem longe. Estou fazendo um esforço Herculico para não quebrar o contato visual e olhar mais para baixo. Seus seios estavam confortáveis debaixo do tecido fino de seda da camisola.

— Ah...certo.

— O que acha de pedirmos uma pizza? Queria assistir algumas séries de novo com você.

===

O banheiro da japonesa tinha um verdadeiro arsenal de óleos corporais, hidratantes e sabonetes liquido. Parecia uma perfumaria e mesmo assim, era tudo muito bem organizado. Sana me deu um pijama todo branco para vestir quando saísse do banheiro e eu procurei não abusar da sua boa vontade.

— Dahyun! Tem uma escova nova aí dentro do armário. Pode pegar pra você usar. — Ela grita do outro lado da porta.

— Está bem, obrigada.

Eu procuro caprichar o máximo que posso. Quero ficar cheirosa igual ela. Enquanto eu tomava banho, foi impossível não lembrar da cena de agora a pouco. Eu procurei ser o mais breve possível no banho para não ficar pensando besteira.

Quando eu saí, o pedido já havia chegado, o que me fez questionar se eu tinha demorado demais, na minha cabeça, foram apenas alguns minutos.

— Me desculpa...eu demorei muito ?

— Não, não se preocupe com isso. Essa pizzaria é aqui perto de casa. Eles nunca demoram mais que vinte minuros. Vem comer, Kim.

A japonesa já tinha colocado  os pratos, copos e os talheres sobre a mesa. Nós nos servimos e ela me chamou para irmos comer no quarto, enquanto assistíamos série. Ela colocou uma  de investigação criminal que ela adorava e que eu não sabia se existia no meu mundo, já que nunca ouvi falar nela e quando eu perguntei se ela já tinha assistido Game Of Thrones, Breaking Bad ou The Boys, ela disse que nunca tinha ouvido falar nelas, o que me fez crer que aqui elas não existiam.

Foi divertido. Nós comemos e  nos entupidos de Coca-Cola e demos boas risadas. A série até que era bem interessante, mas o que valeu a pena foi ficar ali com ela. Depois que comeu, Sana se deitou confortavelmente e me chamou para se deitar ao lado dela.

Eu engatinhei sobre a cama e me acomodei ao seu lado, mas para minha surpresa, não demorou muito para que seu ronco começasse a ecoar pelo quarto. Eu sorrio ao vê-la dormir da maneira mais fofa possível e peguei os pratos e os copos levando eles para a cozinha.

Quando voltei, desliguei a televisão do quarto, deixando Sana dormir. Fiquei olhando para ela alguns instantes, aquela vista me deixando louca. Uma mistura de querer agarrá-la e colocar num potinho, ou agarrá-la e...é melhor eu ir dormir.

====

Foi como se alguém tivesse cravado um machado no meu crânio e começado a separar as partes bem devagar, puxando. A dor era dilacerante, tão forte que deixou meu corpo inerte. Eu gemia de medo e de dor, tentando entender o que estava acontecendo. Aquilo foi subindo, subindo, até me fazer gritar, chorar, de tanta dor.

— Sana! Sana! — Eu grito desesperada.

Aquilo era tão desesperador que eu tinha certeza que iria morrer.

Ouço Sana correndo em minha direção. Ela acende a luz da sala e rapidamente se ajoelha ao meu lado, no sofá.

— Meu Deus, o que foi? O que você tem ?

— Está doendo...— Digo em um ranger de dentes. Eu não conseguia nem abrir os olhos.

— Shhh...olha pra mim, Dahyun. — Sinto ela segurar meu rosto em suas mãos. — Abre os olhos.

Olho para ela com dificuldade, minhas vistas estavam como uma áurea negra, como se eu estivesse com enxaqueca.

— A minha cabeça. Por favor, me leva pro hospital.

— Você consegue se levantar ?

Ela tenta me ajudar a ficar em pé, mas quando eu fiz menção de se levantar, a dor foi tão forte que eu gritei muito alto.

— Não, Kim, fica parada. É melhor assim. Nós não sabemos o que a sua cabeça tem. Eu vou chamar uma ambulância.


"Alô? Eu preciso de uma ambulância urgente! Minha amiga sofreu um acidente doméstico gravíssimo aqui em casa."

Ouço Sana falar no telefone.

"Sim! Sim! Por favor, moça a ambulância! "

Sana passa o endereço, disse que eu tinha batido forte com a cabeça e mentiu alguns detalhes, disse até mesmo que eu estava sangrando e incosciente. Provavelmente para que eles viessem mais rápido.

Quando desligou, ela voltou correndo para mim.

— Eu estou aqui. Estou aqui, Dahyun. — Ela segura uma das minhas mãos e acarica meu rosto com a outra— Eles não irão dermorar. Esse convênio tem uma cobertura para emergências excelente. Agora se acalma, está bem? Não pense na dor, apenas olhe para mim.

Tento fazer o que ela me pede, mas até manter os olhos abertos era um desafio. Estou ficando com náuseas e aquela dor não passa. Parece que minha cabeça está inflando como um balão, até explodir.

— Está doendo muito. — Falo com a voz embargada, em meio a agonia.

— Eu sei, meu amor, eu sei. Mas tenta não se concentrar nisso, ignore a dor e só se concentra em mim, está bem ? Respire junto comigo. Eu quero que você puxe o ar e solte no meu ritmo.

Ela segura minha mão bem forte e começa a respirar e inspirar. Eu tento acompanha-la, tento buscar abrigo em seus olhos cor de mel, em sua voz. Fico fazendo o que ela me pede, como se fosse um mantra.
Respirar e inspirar, respirar e inspirar...

Estava funcionando. A dor ainda era agonizante, mas eu senti que enquanto Sana estivesse ali comigo, eu iria ficar bem. Então isso foi reconfortante, porque ela só saiu de perto de mim quando a ambulância chegou. Sana levantou e correu em direção a porta. Dois homens entraram dentro da casa segurando uma maca.

Eles me pegaram e me imobilizaram firmemente sobre ela e colocaram o colar cervical no meu pescoço.

— Vai ficar tudo bem, Dahyun. Eu estou aqui, estou aqui. — Ela dizia. Sua voz embargada. Ela estava tão nervosa. — Eu irei acompanhá-la. — Ela diz para os dois homens.

Sana corre para o quarto e volta segundos depois, envolvida em um sobretudo. Os homens me colocam na ambulância e Sana entra junto comigo.

Eu me lembro dela ligando para os meus pais, de dentro da ambulância, das luzes do giroflex, da ambulância se movendo em alta velocidade, com sua sirene esncandalosa e de Sana segurando minha mão a todo momento.  A voz dela foi ficando longe, tudo foi ficando tão distorcido.

Eu senti quando começaram a me carregar as pressas para dentro do hospital. Vi vultos de pessoas de jaleco branco, o som de falatório, pessoas correndo pra lá e pra cá, a imagem distorcida do rosto de Sana, sua expressão de medo, seus olhos vermelhos. Não quero vê-la assim...

E tudo aquilo foi sumindo...sumimdo...até se tornar tão distante que eu não podia mais ouvir e derrepente, escuridão.

Foi como cair num abismo. Eu não podia me mexer. Estava imóvel. Senti meu corpo em cima de algo macio, mas eu não podia falar, abrir os olhos ou o que quer que seja. O desespero tomou conta de mim. Eu estava morta ?

Me esforcei para me mexer o máximo que eu pude, mas eu estava inerte como um cadáver. Tudo estava quieto e escuro, exceto por um bip que se repetia várias e várias vezes e eu finalmente pude ouvir o som da minha respiração. Isso foi bom, afastou a ideia da morte.

Eu me esforço para abrir os olhos, mas eu não consegui. Não! Eu não iria aceitar aquilo. Fiz mais força, o máximo que eu pude, então, eu finalmente consegui me sentar. Foi estranho, porque meus olhos ainda estavam fechados e eu tinha muita dificuldade para abri-los. E meu corpo também estava estranho. Eu tinha dificuldades para me mover. Será que foi algum tipo de anestesia?

Quando eu finalmente consegui  abrir os olhos e me levantar, eu olhei para trás e vi a cena mais assustadora que eu já devo ter visto em toda minha vida. O meu corpo, em cima de uma maca. Aquela cena foi tão assustadora que eu entrei em estado de choque. Eu estava entubada e minha cabeça estava enrolada com ataduras, o que significava que os médicos tinham raspado meu cabelo para fazer algum tipo de procedimento cirúrgico.

Os aparelhos hospitalares mediam minha pressão e os meus batimentos cardíacos.
Eu...eu estou morta ?

Diante daquela cena eu entro em Pânico e começo a gritar de desespero. Eu não queria morrer, não queria estar morta. Olho ao redor e não vejo Sana, nem meus pais. Meu...corpo...estava sozinho dentro do quarto de hospital. Eu tentei respirar fundo e me acalmar. Isso foi insanamente difícil.

Se acalme...se acalme...você precisa raciocinar, Dahyun, Pense!

Eu percebi que o aparelho que monitorava os meus batimentos cardíacos continuava bipando de maneira regular. Não era como nos filmes, que ficava aquele som agudo e constante. Então...eu não tinha morrido ? Mas então, por que eu estou vendo o meu corpo ?

Eu cheguei mais perto, para ver se eu não estava me confundindo, mas não havia dúvidas. Aquela...coisa, toda machucada em cima daquela maca era eu.

Eu vi que tinha uma mesa de cabeceira ao lado da maca, com algumas flores e derrepente, mais escuridão e mais paralisia. Parecia que eu tinha caído no abismo novamente, até que ouvi vozes abafadas e melancólicas dentro do quarto.

Quando eu abri os meus olhos, Sana e minha mãe estavam lá.

— Mamãe...Sana! — Eu falo me sentando sobre a maca.

— Own! Querida!— Minha mãe me abraça e afaga o meu cabelo. Sana se junta ao abraço.

Minha mãe está chorando de soluçar e eu também ouço a japonesa fungar.

— Que susto você me deu, meu amor. — Ela continua.

Espera ai...meu cabelo! Eu rompo o abraço rapidamente, levando as mãos até a cabeça. Meus longos fios negros estavam lá e não tinha nenhuma atadura. Eu olhei ao meu redor e examinei o meu corpo, tateando com as mãos, eu não estava entubada e nem vi as flores de momentos atrás. Aquele quarto era outro e para a minha sorte, a dor havia passado.

— Você está bem, Kim ? — A japonesa pergunta, estranhando o meu comportamento.

Eu nada respondo. Abraço bem forte as duas e começo a chorar.

A garota esquilo (SaiDa)Onde histórias criam vida. Descubra agora