Sobre se desapaixonar

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☆•°▪︎Oi, gente, desculpa por sumir durante fevereiro inteiro. Comecei a faculdade e ainda estou me adaptando. Enfim, escrevi! Só queria avisar antes que é um imagine meio triste. Me inspirei na música que está linkada e etc. Boa leitura :3


Era meia-noite. As luzes piscavam, trocando de cores de um modo meio mágico e irreal. A música do trenzinho da alegria chegava abafada para S/N, apesar de as caixas de som estarem prestes a explodir ao seu lado.

Foi ao ver o rosto dele, a pele piscando vermelho, verde e azul conforme as faixas coloridas trocavam de cor; ao observar o horizonte de seu sorriso e o brilho nos seus olhos, que algo se partiu.

Algo mais profundo e cruel que apenas seu coração.

Depois de um ano inteiro de namoro sem brigas ou discussões, sem dúvidas, sem sequer um pingo de receio, algo mudou.

Saiko olhava para S/N do mesmo jeito que olhou há um ano, mas o sentimento não era mais recíproco.

E a vontade de continuar tentando havia acabado de se partir.

S/N piscou, e a música do trenzinho da alegria voltou a ecoar normalmente. Vermelho, verde e azul piscando. Dezenas de vozes gritando umas sobre as outras.

"Saiko," chamou, puxando o namorado pelo braço e o trazendo perto o suficiente para ouvir sua voz. "Minha cabeça está doendo. Vamos voltar para casa."

O sorriso brincalhão dele foi contido. Ele acenou e desceu a mão sobre o braço de S/N até intercalar seus dedos. Não levou muito tempo até que os dois estivessem novamente a sós no meio da rua.

Meia-noite e quinze. Quando os olhos escuros e profundos de Rodrigo buscaram os seus, S/N se virou para o céu. Seria impossível encará-lo agora. Pelo menos as nuvens haviam ido embora, deixando uma vista limpa e completamente escura para trás; pelo menos o céu era um bom distrator.

Enquanto Saiko chamava um Uber, S/N se perguntava se valia a pena continuar mentindo, para ele e para si. Em detrimento da verdade, a ilusão poderia continuar a oferecer algum conforto, né...? Todos os caminhos eram perigosos, e aquela não era uma decisão fácil.

O carro chegou às meia noite e meia. O vento havia esfriado tudo, levado embora o calor dos corpos dos dois. Quando Saiko buscou a mão de S/N, seus dedos estavam gelados.

Dentro do Uber, o aquecedor havia sido ligado na potência mais alta. O calor voltou, encantador em meio à noite fria.

O motorista dirigiu em silêncio. O único som vinha dos pneus rodando sobre o asfalto, respirações e, em algum momento, a vozinha de Saiko cantando, tão baixinho que apenas S/N conseguia ouvir.

"Ontem eu comi pipoca com sal... Fiquei todo empazinado, tô mal, mal, mal, mal..."

S/N abriu um sorriso duro. Será que ele deixaria de ser essa pessoa espontânea se tivesse o coração partido? Era por ele seu pulso corria mais rápido. Ele, com seu senso de humor duvidoso, risada contagiosa e gentileza escondida atrás do sarcasmo. Ele ainda era o mesmo, mas, então, por que os sentimentos haviam ido embora?

Talvez tenha sido S/N quem mudou.

Talvez seja assim porque há de ser.

Tudo acaba.

Quando o relógio marcou uma da manhã, eles chegaram em casa. Interruptores sendo ligados, chaves tilintando e o caminho direto que S/N percorreu até a cama. Chegou ao quarto e se jogou no colchão, de cara para o travesseiro. A culpa consumia todos os seus pensamentos. Como terminar com alguém que não fez nada de errado? É possível minimizar os danos, se as palavras certas, mais delicadas, forem usadas? Ou será que o estrago continua sendo o mesmo? Pelo menos dormindo S/N não pensaria na culpa. Fechou os olhos e puxou bem o ar, mas antes que pudesse expirar, as luzes foram acesas.

"Pega aqui," Saiko chamou, trazendo nas mãos um copo d'água e um comprimido. "Para passar a dor de cabeça."

S/N levantou o olhar do travesseiro e se arrependeu na mesma hora de olhá-lo nos olhos. Aquela contemplação tinha o mesmo brilho de sempre, mas ganhava um peso absurdo quando não se sabia mais o que fazer com tanto amor.

"Valeu," S/N murmurou, somente, e se sentou para poder engolir o comprimido. Quando o devolveu o copo vazio, voltou a se afundar no travesseiro e torceu para que o espaço ao seu lado, na cama, permanecesse vazio por mais um tempo. Saiko se retirou do quarto, e por um momento, S/N acreditou que seu desejo fosse ser realizado, mas aí ele voltou. Apagou as luzes, fechou a porta, e o colchão afundou com o peso de seu corpo.

S/N fechou os olhos e se virou para a parede.

O silêncio ocupou todo o espaço do quarto, e o sono começou a se manifestar por meio das pálpebras pesadas, da respiração lenta e profunda, de S/N.

"Posso te perguntar uma coisa?" Saiko murmurou.

"...Pode."

Ele respirou fundo. Na escuridão, suas expressões eram todas ocultas, mas ainda era perceptível o quão tenso ele estava pelo tom de sua voz.

"Eu fiz algo de errado?"

A culpa voltou a se esgueirar pelas sombras.

"Não," respondeu. É claro que não.

"Tem certeza?"

"Absoluta."

Ele soltou um suspiro e mordeu o lábio inferior.

"Parece que eu fiz algo de errado."

"Você não fez nada de errado."

"Parece que fiz... " ele repetiu. "Tu mal olha para mim, S/N."

Outro suspiro. Passando pela lista infinita de palavras e frases que existia na sua cabeça, as únicas capazes de arranhar a garganta de S/N e sair foram "Não é tua culpa".

"Já tem um tempo," ele continuou. "Desde o mês passado, eu acho. Se foi algo que eu fiz ou que eu falei, por favor, me conta. Parece que a gente está brigado, eu não gosto de ficar assim com você."

A sensação de ouvir aquilo era horrível. Como se não bastasse o peso que S/N havia carregado o dia inteiro, ter seu comportamento recente escancarado assim era... triste. Talvez a madrugada não fosse o melhor horário para admitir para seu namorado que você não o ama mais como antes, mas teria que servir. A verdade é que não tem horário bom para essas coisas. Mais cedo ou mais tarde, a verdade vai machucar.

"Saiko..." S/N começou, embora as incertezas ainda seguissem logo atrás. "Tu não fez nada de errado. Nunca fez... O problema sou eu. Eu não sou mais a pessoa que era quando nós nos conhecemos... As coisas mudam e... sei lá..." Suspirou. "Me desculpa por isso."

Foi possível perceber o momento exato em que a percepção daquilo o quebrou.

"Você... você está terminando comigo, né?"

"...Me desculpa. Mesmo."

"Tudo bem."

"Eu sei que-"

"É sério, S/N, não é culpa sua."

"Mas também não é sua."

"É... talvez."

Um suspiro cansado em meio à escuridão. S/N se remexeu na cama até virar seu corpo para o lado, de frente para Saiko. Como uma ironia cruel, a única parte de seu rosto que era visível eram seus olhos brilhantes.

"Me desculpa mesmo," S/N repetiu, e teve que se segurar para que a sua voz não ficasse chorosa.

"Tá tudo bem," ele fungou, "é sério."

S/N teve vontade de reconfortá-lo, de o trazer para perto e isolar sua tristeza com um beijo, um cafuné, um carinho que fosse... mas não se moveu. Aquilo não era correto mais. Um abraço só traria mais dor. Palavras de aconchego seriam torturantes, palavras de amor, uma mentira. Tudo o que restou foi o silêncio e o quarto; a paixão e a falta dela; um final precoce para algo que nunca teve a oportunidade de ser mais. Um começo e um fim.

Na manhã seguinte, S/N fez suas malas, arrumou suas coisas e foi embora para nunca mais voltar.

Tudo acaba.

one shots • saikomene x leitorOnde histórias criam vida. Descubra agora