Através da janela fumê do carro cinza de meus avós, eu observava a paisagem das árvores, do mato e dos Coqueiros através de uma velha cerca de madeira enrolada em arames farpados passarem rapidamente, meu corpo doía e alguns machucados sangravam. Do banco da frente, eu ouvia minha avó falar várias coisas pelo telefone, a voz dela demonstrava nervosismo, mas eu não conseguia prestar atenção em nada do que ela falava, A última coisa que eu ouvi ela dizer nitidamente foi: “se apresse! Temos que levar ela logo para a emergência!.A estrada estava vazia e escura, e a sombra das árvores e coqueiros formavam figuras assustadoras, como os monstros que se levantavam na madrugada para nos observar dormindo. Eu me sentia presa da escuridão da paisagem, me lembrando das coisas que aconteceram antes de entrar no carro.
Eu tive um Delírio bonito, e minha mente vagava nos eventos que aconteceram nele, foi tão mágico, e eu não conseguia parar de pensar na possibilidade de voltar para aquele lugar tão diferente de novo.
Flashback ON
Eram 23:36 horas em um pequeno município em esplanada. Uma criança morena de aproximadamente 9 anos de idade brincava no quintal de sua casa. Era época de São João, e do lado de fora dos muros da casa o brilho da chama forte da fogueira era visível.
Essa criança se chamava Larissa, e naquele momento ela estava sozinha, e não era por falta de companhia.
Na verdade, ela havia se desentendido com as outras crianças, e na chantagem, esperançosa de que se talvez dissesse que não iria mais brincar, as outras iriam finalmente começar a “brincar certo”, mas infelizmente, nenhuma de suas companhias se importou com isso.
Enquanto corria com um copo de vidro para agarrar os vagalumes que voavam por ali, mais além do que a luz amarela do fundo de sua casa iluminava, uma borboleta voava, ela era maior que a maioria das borboletas, e conforme batia as asas, sua cor era alterada, acompanhada de uma aura reluzente que se desfazia a cada farfalhar das asas, que ora eram azuis, verdes, amarelas, violetas, laranjas,rosas e vermelhas… Aquela borboleta parecia mais bela a cada bater de asas, cada vez mais brilhosa e chamativa.
Larissa a viu, e encantada, com o brilho das estrelas nos olhos, caminhou lentamente na direção do inseto que parecia ter saído de um de seus livros de conto de fadas.
Quanto mais se distanciava da luz da lâmpada, mais ela sentia o mato ficar maior e roçar em suas pernas. A lua cheia brilhava bem no topo do céu límpido, e as estrelas estavam bem visíveis no céu. Aquela era uma linda noite, mas a única coisa que atraía a menina para dentro da mata alta de seu quintal era aquela linda borboleta.
Ela chegou perto da criatura que voava em círculos, e quando estendeu sua mão para tocá-la, a borboleta voou para ainda mais longe, de seu alcance. Larissa seguiu o inseto assim como uma mariposa é atraída pela luz.
O inseto fantástico voou rápido, o suficiente para que a pequena Larissa precisasse correr com suas pequenas pernas. Os longos cabelos cacheados chacoalhavam no ar com as labaredas da fogueira que queimava na frente de sua casa, e os olhos juvenis e rebeldes da pequena não olhavam nada além da figura daquela incrível borboleta, mas essa sua atenção na criaturinha lhe fez tropeçar nas raízes da grande mangueira, e pisar em vários buracos espalhados no chão de terra batida, sujando as sapatilhas que calçavam seus pés.
Larissa correu até chegar na última e única coisa que a impedia de chegar na borboleta. Uma grande e longa cerca, feita de pedaços de madeira e galhos de árvores, mantidas juntas por arame farpado e meio soterradas no chão para ficarem de pé.
A borboleta havia passado por cima da cerca, e planava tranquilamente no ar até pousar no galho de uma laranjeira, ficando na cor de um branco prateado cintilante. A menina hesitou, sempre foi alertada de que não deveria pular a cerca e passar para o quintal de outros vizinhos, jamais, nem se eles deixassem, porque ela poderia se ferir ou até mesmo danificar a estrutura da cerca, mas ela estava tão perto.
Larissa nunca havia visto nada tão magnífico, e ela se sentia em um livro de conto de fadas, daqueles que tem várias criaturas mágicas que são impossíveis de existir. O copo de vidro em que usava para pegar vagalumes ainda estava em sua mão, vazio, e a borboleta nem estava tão afastada assim da cerca, então, na sua cabecinha infantil e pouco racional, ela poderia ir, capturar a borboleta e voltar sem que ninguém notasse o que havia feito.
Larissa se sentia prestes a cometer um crime, e se sentia mal por desobedecer a família, mas eles não iriam saber, então que mal faria?
Foi pensando assim que ela tocou um grande e grosso galho de árvore cheio de rasgos e farpas, apoiou um dos pés do arame e olhou pra frente, viu a borboleta que se destacava em meio a escuridão daquele lugar desconhecido para ela, escalou um pouco mais usando os galhos e o arame como apoio até chegar no limite da cerca, ela jogou o corpo um pouco para trás para dar impulso, e num só pulo, Larissa pulou de uma só vez, tentou equilibrar o corpo para cair de pé, mas caiu com tudo no chão.
Ela arranhou os joelhos e ganhou várias farpas na palma das mãos, além de cortes nas articulações dos dedos. A menina sentiu os olhos lacrimejarem pela dor e ardência dos machucados, chiando e balançando as pequenas mãos, esperando que o ato aliviasse a dor das feridas , que cada vez iam sangrando e ficando inchadas.
deu uma olhada pra trás pra conferir se não tinha ninguém a olhar o "crime" que a mesma estava cometendo e voltou a olhar pra frente, vendo a borboleta levantar vôo e começar a se distanciar.
— AH! você não vai fugir não!! -
disse a menina indo em encontro com o inseto voador que novamente ia aumentando a velocidade que voava. Larissa também apressava os passos como pôde, pois os joelhos ralados ardiam tanto, tanto, que ela podia mudar que estavam pegando fogo.
A corrida ficava mais rápida, e quando a menina deu por si, estava correndo atrás da borboleta de novo. Ela corria o quanto suas pernas feridas permitiam, mas num lapso de consciência, a sensação de perigo por correr em um terreno escuro e desconhecido tomou conta de si. percebendo isso, Larissa sentiu um aperto no peito,e em seguida, olhou para trás.
Ela não enxergava mais a cerca, apenas inúmeras árvores grandes e a escuridão, tão profunda que nem mesmo o brilho da lua atravessava as folhas das árvores, enquanto corria, ela sentia o mato bem mais alto que o do seu quintal, chicoteado sob a sua cintura.
Mas num piscar de olhos, o chão sumiu, e Larissa sentiu os pés balançarem no ar por pouco tempo, antes do corpo cair num barranco enorme.
Foi quase como queda livre, o corpo pequeno e frágil da menina rolou na terra cheia de pedra e espinhos antes de parar em uma superfície com ainda mais pedras e folhas secas. Sua cabeça parecia ter sido batida com um martelo por todos os lados possíveis junto com uma tontura horrível.
Larissa caiu por cima de um dos braços, tendo ele deslocado, e no outro, um grande espinho o perfurou até quase o atravessar. Sangue espesso escorria da ferida, diante dos olhos de Larissa, que chorava de dor e de medo.
A borboleta nem lhe importava mais, a doce menina só conseguia se preocupar em quando iriam encontrar ela.
— Será que eu vou morrer aqui? - pergunta a voz chorosa ao vento, com a sua inocência infantil.
Não muito longe de onde estava, ela ouviu passos leves, e esperançosa de que poderia ser a ajuda, moveu a cabeça na direção do som.
A visão turva e o corpo fraco não colaborou muito com a sua consciência, mas Larissa pôde jurar ter visto a silhueta de uma mulher vestida de branco, ela também viu a borboleta pousar no dedo da figura.
Uma risada doce e delicada soprou em seus ouvidos como o vento.
— Eu vou ajudar você -
Essa foi a última coisa que Larissa ouviu.
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Sonhos e Pesadelos
Fantasy"Quem insiste em sonhar acordado, deve estar preparado para ter constantes pesadelos dormindo." ... Larissa era somente uma adolescente curiosa e sonhadora, até que os seus piores pesadelos emergiram da escuridão de seu subconsciente para viver a...