A tese de astarco: Virtus Caelestis

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Após o recesso, os filósofos retornaram à Acrópole e Astarco estava presente, como que em transe, em um estado de contemplação. Os filósofos sentaram-se e Astarco iniciou seu discurso, agora mais preparado do que nunca. Os gregos e clássicos não conseguiam perceber, mas ele respondeu:

- Senhores, creio que devo continuar, agora com o ápice da minha tese: a virtude. Devo dizer-lhes que as virtudes são a única forma de alcançar a verdade. Os filósofos conversaram e, em seguida, o mais velho perguntou:

- Astarco, você não consegue perceber? A verdade não existe. Os filósofos clássicos não conseguiram definir a verdade. Você é tolo?

Astarco respirou e calmamente disse:

- Fausto, eu te digo que a verdade que procuro é a mesma dos sábios anteriores, os mesmos que fizeram deste lugar o templo de Sofia. Portanto, não se esqueçam de Aleteia, a dama que todo sábio busca. Senhores, a verdade é algo que não pode ser esquecido, que permeia tudo como o ar que preenche nossos pulmões, algo tão inevitável quanto a morte e algo diante do qual todas as culturas se curvam. Isso é a verdade. Existe algo do qual não podemos fugir. O filósofo é o grande buscador da verdade, não se importando apenas com o destino final, mas sim com a própria jornada. Portanto, virtus est veritas, a virtude é a verdade. Seguir as virtudes é o caminho para alcançar a Aleteia da humanidade. O homem se torna mais humano quando desenvolve as virtudes.

Fausto estava determinado a confrontar Astarco. Ele então vociferou:

- Então, não é possível ser feliz rejeitando as virtudes? O homem não pode rejeitar as virtudes?

Astarco pensou e ponderou, e então respondeu:

- Nada é absoluto, mas a verdade é a verdade, não importa se você a aceita ou não. É claro que um homem corrupto pode ser feliz, porém em qual intensidade?

-Digo aos presentes que a felicidade está dentro, como um homem sem virtudes pode ver a felicidade dentro de uma alma vazia e sem pudor? As maleficiências provocadas pela falta de estímulo das virtudes desfocam a visão do belo. Chamo de belo tudo que está em consonância com a natureza, afinal, a natureza segue as leis do Kosmos. Eu digo que o homem virtuoso as reconhece e faz delas suas aliadas. O homem é naturalmente bom, mas agentes externos podem estimular sua maldade. A besta mora em todos os corações, e as virtudes apenas conseguem fazer tal monstro recuar diante da razão.

Fausto, então, sorriu e disse:

- Seria errado o homem justo estar em uma sociedade injusta? Como as virtudes poderiam ajudar esse homem? Elas não representam a maioria?

Astarco então dirigiu-se a todos, andando de um lado para o outro para oxigenar seus pensamentos:

- Eu mesmo vi, vi na pele e na experiência empírica, que tais sociedades são amargurantes. Em minha visão, são um desperdício de recursos. Porém, o homem virtuoso entende e preocupa-se apenas em seguir seu caminho. O tolo seria aquele inclinado a tentar mudar o pensamento da massa. Eu me pergunto: como ensinar a pensar alguém que deseja ser dominado em troca de prazer momentâneo?

Fausto não respondeu, e Astarco continuou seu discurso:

- Sábios de Atenas, eu vos digo que a virtude é a bela forma de estimular o homem a ter pensamentos sublimes. Acredito que existem muitas virtudes, e cada cultura pode ter sua própria lista de virtudes necessárias. Cito algumas: benevolência, bondade, justiça, equilíbrio, empatia, compreensão, sensibilidade, humildade, lucidez, misericórdia, honestidade, etc. Ainda assim, creio que existem outras sobre as quais terei que refletir pelo resto da vida. Mas a via do sábio, que chamo de trahentium sapientiae, é longa e repleta de trabalho e aprendizado. O homem deve se reformar, deve aprender e continuar aprendendo. A reflexão é uma das ferramentas do homem e é necessária para alcançar as virtudes.

Um filósofo então perguntou:

- Mas por que devemos ensinar as virtudes? Isso não é dever da família?

Astarco rebateu:

- Se você sabe matemática, vai esperar que outra pessoa se responsabilize?

- Digo-lhes para que seus ouvidos não esqueçam: o sábio não consegue se abster de ensinar e aprender. De que adianta conhecer todo o conhecimento do mundo para guardá-lo para si? Qual seria o sentido dessa avareza? Outro filósofo, ainda incrédulo, disse:

- Mas nossa competência é apenas acadêmica, não podemos nos envolver?

Astarco respondeu com raiva:

- Meu caro filósofo, vou dizer uma verdade: você já está envolvido. Como ensinar sem se envolver? Não é possível. O compromisso deve ser fervoroso. Você não pode ensinar sem se comprometer com o indivíduo, é claro que dentro de um espectro racional. O sábio tem apenas um compromisso: com a sabedoria e com estimular o conhecimento. Este deve ser separado de suas obrigações e deveres pessoais. Quanto às competências das virtudes, tenho plena certeza de que se a família e a academia agirem juntas, o discípulo sairá melhor. Nós poderíamos ensinar muito melhor se a família aprendesse junto, através do próprio discípulo. Afinal, o conhecimento não fica apenas na esfera pública, mas também chega à mesa da cozinha.

Um velho homem apareceu e olhou Astarco discursando. Ele parecia examinar o velho sábio e então perguntou:

- Tu, romano, que defende com tanto ardor as virtudes, diga-me qual é o mandamento obrigatório para o sábio. Sabe me dizer qual é a virtude mais importante?

Astarco pensou, mas até aquele momento não tinha considerado uma virtude necessária para o sábio, mesmo tendo estudado tanto no senado quanto nas melhores escolas. Após perder tudo, continuou estudando o mundo ao seu redor e agora se deparava com uma pergunta importante. Estava diante de algo que jamais havia pensado. Então, em meio a esse êxtase mental, ele disse:

- O senhor me pegou, eu me rendo. De fato, falo sobre as virtudes, mas não senti necessidade de definir algo como a mais importante. Minha tese ainda não está madura. Muitas questões surgem, especialmente porque sou velho e não sei se amanhã a morte me desejará. E, se isso acontecer, detestaria deixar um trabalho inacabado. No entanto, devo responder à sua pergunta, ou não conseguirei dormir esta noite. Portanto, digo-lhe que a maior virtude é a virtude da Paideia, mas no sentido de minha tese, como o ato de aprender como uma criança, ser dócil ao aprendizado, ser receptivo à pedagogia da vida. O homem que aceita ser corrigido, que aceita aprender, é mais feliz e também terá mais virtudes, pois ele consegue ver a si mesmo e ao mundo com a ânsia de uma criança, sendo tudo para ele um espanto, algo único que provoca sentimentos, incluindo a busca pela verdade, a busca do "como". Eu creio, senhores, que a filosofia, como todos sabem, é movida pela pergunta "como". Essa pergunta não é estranha aos seus ouvidos.

Os filósofos então se recolheram e chegaram ao veredito de que a tese de Astarco havia sido aceita; que de fato as virtudes são úteis e ferramentas para alcançar a felicidade e a sabedoria.

Astarco então saiu da academia e seguiu para casa, onde uma mulher o esperava. Ele sorriu e disse:

- Tu és a única flor que eu desejo. Sei o teu nome, mãe da república e senhora de todos os homens livres. Seu nome é Higieia, e eu já sei para onde vou.

A mulher pegou em seu braço e, de mãos dadas, juntos desceram as ruas em direção ao horizonte.

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