Capítulo Único

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Todos os domingos, às dez da manhã, aquela cena se repetia

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Todos os domingos, às dez da manhã, aquela cena se repetia. A mesma mesa, no canto mais afastado da cafeteria, era ocupada. Um livro era tirado da bolsa e um pedido feito. Sempre um americano.

Jeff adorava frequentar aquele lugar e, de tanto ir, passou a ser o seu cantinho favorito da cidade. Cidade esta a qual havia se mudado há pouco tempo. Ainda se sentia deslocado. Tinha poucos amigos antes e isso não mudou com o novo endereço. 

Os funcionários da cafeteria o cumprimentavam sempre que ele punha seus pés na entrada espalhafatosa e o sininho tocava para indicar um cliente novo. Entre eles, ele era conhecido como o “menino silencioso”, mas ele não sabia disso. Às vezes, eles faziam uma aposta, sobre qual gênero diferente seria o livro da vez. Romance, suspense, fantasia, thriller. Um mar de oportunidades. Essa parte era a única que constantemente mudava.

O que nunca mudava mesmo era o motivo implícito pelo qual Jeff saía de sua casa todos os dias, pegava um ônibus, andava por 3 minutos e se locomovia até a mesa mais afastada do lugar. E esse motivo tinha nome, um metro e oitenta de altura, pele morena e o sorriso mais lindo que Jeff já havia visto em toda a sua vida. 

Todos os dias, independente de quem estivesse disponível, apenas um garçom vinha sempre atendê-lo. Alan, como posteriormente Jeff descobriu se chamar, ia até ele todos os dias com o mesmo sorriso caloroso e o perguntava o que iria pedir, mesmo que todos os funcionários daquele lugar estivessem carecas de saber que Jeff pediria o mesmo de sempre. Um americano sem açúcar.

Seu irmão Charlie costumava dizer que ele já havia morrido por dentro por beber café sem açúcar. Mas Jeff preferia assim. Sentir o sabor e o aroma de um café puro o dava mais satisfação do que qualquer coisa que ele pudesse colocar ali. Além disso, qualquer doçura que pudesse querer estava na cadência suave da voz de Alan quando ele dizia “Bom dia! Já sabe o que vai pedir?”.

O que Jeff nunca havia reparado, em todos esses dias indo até a cafeteria, é que não importava quem pudesse atendê-lo, caso Alan estivesse ocupado. Ninguém movia um músculo sequer para ir à sua mesa até que Alan pudesse fazer ele próprio.

A rotina era clara e todos seguiam os seus papéis da melhor forma possível. Até ela não ser mais. 

Em um dia de outono, no qual uma chuva torrencial atingiu a capital da Tailândia, Jeff esqueceu de pegar um guarda-chuva. Mas não voltou para casa para buscar, tampouco desistiu de ir à sua amada cafeteria. Como resultado, quando chegou lá precisou tirar os sapatos, para que a água acumulada após pisar numa poça d'água saísse dele, e torcer o casaco ensopado. O ar condicionado no interior do lugar também não ajudou muito.

Alan abriu um sorriso ao vê-lo sentar na mesa de sempre, mas o sorriso foi perdendo vigor conforme se aproximava.

— Você está bem?

Jeff ficou um tanto perdido. Apesar de esperar, em seu inconsciente, que algum dia sua conversa com Alan seria algo além de “um americano sem açúcar, por favor”, ele não estava psicologicamente preparado para isso. Aquela mudança brusca na rotina o deixou sem palavras. Então ele só encarou Alan.

Quente como café (AlanJeff » Pitbabe)Onde histórias criam vida. Descubra agora