Mendes
Rocinha, Rio de Janeiro.
Subi para o alto da laje, bolei um fino de maconha e acendi. Dei um trago no meu baseado e fiquei de marola, olhando toda minha favela daqui de cima. Rocinha pô! Meu império, conquistado com muito suor.
Entrei pra essa vida por necessidade mesmo, não tive outra escolha já que para os sangue bom do asfalto quem mora em favela na maioria das vezes não deve ter nenhuma oportunidade na vida além do tráfico.
Se eu falar que não tentei ser alguém na vida eu vou tá mentindo pô. Eu tenho meus estudos completos e até cheguei a fazer alguns cursinhos grátis que a escola disponibilizava para os ex-lunos, naquele tempo eu realmente acreditava que tudo daria certo e abominava pra caralho essa vida que levo hoje, grande hipocrisia!
Meu pai foi morto em uma emboscada armada pelos bota, eu tinha quinze anos na época e lembro até hoje o sofrimento da minha coroa ao ver meu pai lá jogado no chão com vários tiros no peito. Mas ele também era envolvido com o tráfico, era braço direito do antigo dono da rocinha e conhecido por muitos como terror! O meu coroa era foda pra caralho e tava fazendo história no mundo do tráfico, isso despertou a raiva de muitos incluindo a dos bota que não pensou duas vezes ao agir na covardia.
Desde então minha coroa teve que se virar sozinha, trabalhou por anos em dois empregos pra ter que sustentar a casa e mesmo assim não era o suficiente, afinal além de mim tinha mais duas bocas pra alimentar e uma delas tinha apenas um ano.
A gente até pensou em usar o dinheiro que meu pai guardava todo mês pra nos sustentar, mas essa porra foi tomada pelo antigo dono do morro, quando eu tentei argumentar que o dinheiro era nosso ainda levei uma coronhada na cabeça com a arma.
Meu pai confiava nesse filho da puta de olhos fechados pô, ele frequentava nossa casa, e só esperou meu pai morrer pra agir na trairagem e tomar tudo que era nosso a troco de porra nenhuma.
Foi aí que decidi entrar para o mundo do tráfico. Comecei sendo aviãozinho e toda grana que eu ganhava dava nas mãos da minha coroa, daí fui só mostrando serviço até subir pra vapor, fui pegando condição aos poucos e subindo degrau por degrau até chegar onde eu estou hoje.
Virei braço direito do lobão antigo dono do morro e conquistei mais ainda sua confiança, até que matei ele com cinco tiro na cabeça pra vingar o meu pai e a trairagem que ele cometeu contra a minha família. Ele não era um bom dono mermo, então fiz um favor pra essa favela.
Depois disso eu assumi o comando do morro e virei o dono da rocinha! Ganhei o respeito de várias pessoas, mas também criei vários inimigos e querendo ou não isso faz parte.
Não me arrependo de nada que fiz pra chegar até aqui, faria tudo de novo só pra ver a minha mãe e as minhas irmãs bem.
— Eaí meu parceiro, vai descer não? — Dudu se aproximou de mim com um cigarro de maconha preso entre os lábios.
— Vou! — termino de tragar o baseado e apago a bituca no muro.
— Hoje o baile tá frenético, tava faltando só tu amor. — morde os lábios e desce o olhar por todo meu abdômen parando na entrada da minha virilha.
— Deixa de viadagem porra e para de me olhar assim. — dou um pescotapa em sua nuca.
— Tava olhando sem maldade nenhuma pô, tu tem trinta e dois anos nas costas e continua gostoso, olha esse abdômen trincando e esses músculos preenchidos, caralho. — me encarou de cima abaixo e eu fiquei serinho.
— Tá de gestação né pô? — perguntei ficando bolado pra caralho, pegando a minha camisa e jogando por cima do ombro.
— Tô não senhor Mendes, sou um homem sincero e sem masculinidade frágil, te acho gostoso e falei sem caô nenhum. — dar um tapinha no meu peito.
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Meu Declínio
Romance+16 | "A gente decidiu então recomeçar fazer diferente da última vez..." "Deita nessa cama, para de querer formar caô Deixa a luz apagada com a porta trancada Vamos recomeçar eu e você curtindo num motel."