capítulo único.

1.6K 116 23
                                    

Teus sinais me confundem da cabeça aos pés

Mas por dentro eu te devoro

Teu olhar não me diz exato quem tu és

Mesmo assim eu te devoro

Um feixe de luz adentrou o quarto iluminando parcialmente o rosto de Pitel que, no mesmo instante, notou um cheiro delicioso de brigadeiro e o som alto de Djavan tocar no outro lado do apartamento. Não passavam das sete, os seus olhos permaneciam fechados e o calor e o mormaço de Itaipu aqueciam o seu corpo por baixo dos lençóis. Ela ouve passos rápidos e empolgados vindos do corredor até sentir o colchão se afundar ao seu lado. Nanda envolveu as pernas entre as suas e a abraçou por trás, apertando o seu quadril com suas coxas grossas em um movimento quase desesperado, como se já não suportasse ficar nem mais um minuto sem os seus chamegos.

Elas são o completo oposto. Nanda sempre sente tudo demais, de modo tão intenso que certas vezes suas emoções não cabem dentro de si. Amor, raiva, tristeza, desejo. Nunca há um meio termo. Já Pitel é mais racional, seletiva e a única pessoa capaz de acalmar o seu coração. A realidade da maceioense a fez amadurecer muito cedo, podando seus afetos, tornando difícil demonstrar seu amor e carinho pelas pessoas, pois não foi o que recebeu quando menor. Nanda sabe disso, é por isso que ela aproveita toda e qualquer oportunidade de dizer o quão incrível ela é em tudo o que faz.

"Bom dia, meu amor." A carioca diz ao pé do ouvido, aninhando seu rosto no pescoço da cacheada, recebendo um murmúrio sonolento como resposta. "Já terminei o seu bolo, só falta você vir decorar comigo."

"Meu aniversário é só amanhã, Fernanda."

"Eu sei", Nanda disse sorrindo. "É que eu estou ansiosa. A gente pode levar para praia mais tarde e comemorar quando der meia-noite. O que você acha?"

"Pode ser, meu amor." Pitel respondeu, ainda com as pálpebras pesadas e a voz embargada de sono. "Agora fica aqui comigo um pouquinho."

"Ficar assim? Agarradinho?" Nanda sorriu apertando Pitel ainda mais forte, encantada com o seu tom manhoso, não conseguindo resistir ao impulso de morder de leve seu pescoço e distribuir selinhos carinhosos pelo ombro desnudo da mais jovem.

"Isso. Bem agarradinho."

"Mas está um dia tão gostoso lá fora, se sairmos agora vamos aproveitar bem mais. Vamos, vem. Foi caríssimo alugar esse apartamento de frente ao mar, não podemos perder tempo dormindo nesse quarto." Ela disse ao sair do abraço e se sentou, estendendo os braços em direção a Pitel, que enfim abriu os olhos após soltar um longo e profundo suspiro.

"Não tenho forças para me levantchar."

"E o que eu posso fazer para te dar forças? Um beijinho?" Sugeriu de modo perverso.

"Um beijinho seria bom."

"E dois?"

"Dois seria ótimo."

"E três?"

"Três acho que seria perfeitcho."

E quando Fernanda finalmente a beija, Giovanna está sorrindo. Ela retribui o beijo, que é doce, lento e apaixonado, passando a mão gentilmente por trás de sua nuca, e elas o repetem um total de três vezes até se levantarem.

Momentos como esses as fazem pensar que não existe mais ninguém no mundo além delas. Desde que se conheceram, ambas se tornaram muito próximas de um modo natural e repentino. Uma não vive sem a outra e tudo o que Nanda quer após um longo dia trabalhando e se dedicando aos filhos é ter Pitel dormindo ao seu lado todas as noites e acordando no mesmo lugar todas as manhãs. Elas não precisam de mais nada, nem de muita coisa. Nanda pensa que, no auge de seus 32 anos, ela tem muita sorte de ter a encontrado após tantos relacionamentos malsucedidos. O amor de Pitel mudou a sua vida e pela primeira vez ela sente que alguém se importa com ela e com os seus filhos verdadeiramente. Ela sente, pela primeira vez, que pode formar uma família.

Teus SinaisOnde histórias criam vida. Descubra agora