A minha cabeça já está latejando e eu não consigo dormir. Estou morta de cansaço e devem ser quase quatro da manhã.
Tive três surtos desde que entrei aqui.
No primeiro, eu gritei. No segundo, soquei a parede milhares de vezes. Já no terceiro, quebrei os copos de vidro com as mãos e não sei como.
E agora, olhando para ele, sinto que estou prestes a dar o quarto surto.
Respiro fundo, seguro a sua mão direita com as minhas duas mãos com força. Fecho os olhos.
Chamo o seu nome milhares de vezes.
Grito.
Um grito de dor.
A primeira vez que gritei, uma enfermeira veio reclamar, mas não abriu a boca quando olhei para ela e a expulsei.
As luzes piscam. Os corredores se tornam escuros.
Sangue no quarto todo. Em tudo. Em mim.
As paredes brancas se tornam vermelhas.
A claridade se torna escuridão.
O ar se torna névoa.
Um barulho.
Uma porta se bate.
Um sussurro.
Um ar frio em meus ouvidos.
Um cheiro estranho
familiar.
Dor.
Dores por todo o meu corpo.
Um movimento leve e...
Um suspiro.
Uma respiração pesada. Tensa e sufocada.
Tudo volta ao normal, excerto por...
Um coração batendo, muito, muito, muito devagar.
Um grito de agonia.
Seus lábios se mechem. Seus dedos apertam as minhas mãos.
- ARTHUR? ARTHUR, VOCÊ ESTÁ BEM? AJUDA, POR FAVOR!! - Grito, ainda segurando a sua mão.
Os aparelhos voltam a dar sinais que ainda não parecem bons.
Ele grita. Os gritos mais agonizantes que eu já ouvi.
A sua mão vai se afrouxando das minhas. Ele tenta aperta-las, mas não consegue.
Enquanto grito por ajuda tudo volta a ser uma ilusão. Ninguém aparece. Há sangue em tudo de novo.
- Esther... - Ele faz um esforço enorme para sussurrar o meu nome.
Olho para ele desesperada.
- Calma, meu amor. Alguém vai aparecer, eu prometo! - volto a olhar para porta e grito - ALGUÉM! O APARELHO ESTÁ FUNCIONANDO!!!
Arthur abre os olhos. Tenta sorrir para mim, mas seus lábios se contorcem de dor.
Ele começa a se contorcer pela cama e então percebo o que há em seu braço.
A minha mão, na qual ele não solta, não é apenas por quê ele não quer. Ele não consegue. Minhas mãos estão funcionando como um tipo de energia que traça uma linha azul brilhante reta de seus dedos ao seu peito, passando por todo o seu braço.
Logo, tiro uma das minhas mãos das suas e a coloco em seu peito. Vejo linhas azuis e douradas percorrem o seu corpo. Ela queima como fogo.
Ele grita, se contorce e aperta a minha mão tão forte que ouço o chacoalhar dos meus ossos novamente.
Minha visão está quase nula pelas lágrimas. A minha cabeça dói por girar de Arthur a porta tantas vezes.
Eu continuo pedindo ajuda, mas ninguém aparece. Pesso socorro milhares de vezes, mas ninguém me ouve.
Quero sair daqui e gritar na cara dos médicos para que possam me ajudar, mas não posso deixá-lo.
Meu corpo quer ceder, quer cair mas eu o faço se manter intacto por Arthur.
Sinto a minha garganta fechar. A minha voz está extremamente rouca e agora é como um sussurro.
Ele não para de se contorcer e em uma pausa de um grito ao outro grita o meu nome.
E então percebo que ele não está gritando o meu nome por que me quer aqui...
Ele implora para que eu o deixe ir. Para que eu me solte dele e acabe com esse sofrimento. Quer gritar para que eu pare de ajudá-lo, mas não consigo. E me sinto muito egoísta por isso.
Não consigo deixar ele ir por que eu preciso dele. Por que eu não vou conseguir viver sem ele.
Grita por mais nada a não ser misericórdia.
E sou incapaz de realizar o seu desejo.
Ele está ganhando cor e calor. A sua pele já não é fria. É intensa, quente como fogo, macia como espuma.
E então, tudo volta ao normal. Tudo está como antes.
O corpo dele está como antes...
Choro e grito. Saio correndo e chamo os médicos que me pedem para esperar do lado de fora.
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Os Desejos Mais Sombrios De Uma Alma
Mistério / SuspenseEsther, uma garota de 16 anos mora com a sua irmã mais nova, Alice de 8 anos e a sua mãe, Fernanda. Após sete anos da morte de seu pai, sua mãe decide mudar para uma cidadezinha para conseguir trabalhar um pouco menos e passar tempo com as filha...