Origens.

96 10 5
                                    

Após algumas horas de viagem, agora enfrentavam uma estrada de terra totalmente silenciosa e sem trânsito. Beth estava terminando seu segundo sanduíche natural que havia sido feito por Dalila que tinha lhe dado permissão total para comer quantos quisesse e depois de fazer muita recusa, a moça que estava faminta, aceitou o lanche. Tinha vários, ela havia os confeccionado em abundância e estavam deliciosos.

Pareciam estar pegando mais intimidade, o assunto não morria tão rápido e a professora se mostrava realmente disposta a se deixar ser acessada, sem ressalvas, coisa que a aluna não tinha visto antes. Isso dava abertura para que pudessem conversar melhor, de maneira mais liberta e Beth se aproveitou para se deixar ser livre, sem segurar o seu lado brincalhão que por causa do etarismo, temia que a mulher mais velha a visse como infantil, porém a moça estava tão confortável que até se sentia mais a vontade de se demonstrar assim também.

Era compreensível, Dalila era naturalmente mais séria e haviam bagagens que vinham sim com a idade que era um pouco maior que a de Beth, apesar da sua aluna já ser uma mulher formada e nem um pouco distante da sua faixa etária. Porém, ainda sim os lugares e papéis sociais obrigavam a mais velha a agir com mais seriedade e ser mais reservada. Era uma professora, que precisava conduzir uma sala de aula, precisava obter respeito, precisava vistoriar seus alunos justamente para que eles não confundissem demais o seu papel e não descartassem a sua devida importância, porém agora, distante de todo esse ambiente, Lila passava a revelar a Lila que estava presente em rodas de samba, a que era animada, empolgada, que gostava de coisas fúteis e banais também, a que ria por besteira e que falava besteira.

Ninguém é 100% uma coisa o tempo inteiro. Somos seres multifacetados com as suas devidas complexidades.

— Você realmente pode botar suas músicas pra tocar aí. — Deu liberdade ligando o som novamente após uma parada rápida para comprar água em um mercadinho pequeno que haviam achado. — Conecta o bluetooth. — Sugeriu.

— Eu não tenho músicas baixadas no celular e também não tenho assinatura em aplicativos para poder escutá-las offline. — Justificou-se limpando a boca após engolir o último pedaço do lanche.

— Hum... — Absorveu a resposta diminuindo a velocidade do carro e apanhou o celular, desbloqueando e abrindo no aplicativo, em seguida cedeu para ela. — Tem as minhas, coloca aí. — Deu de ombros. — Você só está proibida de entrar nas playlists que tem o nome de macumba, na que tem um coração pegando fogo e na que tem o nome da Beyoncé. — Confessou.

— Beyoncé? — Beth ergueu as sobrancelhas surpresa e a outra assentiu, segurando a risada. — Você não escuta Beyoncé. — Negou com a cabeça, desconfiada.

— Ué, por que não? Uma senhora de setenta e nove anos, como eu, não pode escutar Beyoncé? — Aumentou totalmente sua idade para dar  humor, ainda nem tinha chegado na casa dos quarenta.

— Nem fodendo, Dalila. — Negou semicerrando os olhos e rindo.

— Garota? Eu sou a maior fã girl da Beyoncé existente nesse mundo. — A afrontou com uma expressão de deboche fazendo a loira rir ainda mais. — Sei cantar absolutamente todas as letras, já gravei na cabeça todo o instrumental. É por isso que você está proibida de colocar porque eu começo a performar e não vai dar certo. — Pontuou justificando para ela a proibição.

— Isso vai demorar de entrar na minha cabeça, mas tudo bem. — Aceitou, já com as bochechas doendo.

— Ué, por quê? — Quis entender a reação, apesar de ter brincado com ela. Chutava no etarismo, talvez a aluna achasse que pessoas um pouco mais velhas não tivessem esses gostos.

— Posso ter lido você errado. Estou mudando muitos conceitos só pelo que vi hoje, tenho gostado de lhe conhecer mais. — A respondeu acalmando sua respiração e passeando seus olhos pelas playlists.

Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora