Falha na matrix *ATT 2024*

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- E era verdade? - Gabriel perguntou enquanto me passava o cigarro.

Dei de ombros.

- Meio que sim, meio que não. Algumas coisas ali são verdade, principalmente das amigas de Scar - traguei a fumaça e prendi por alguns segundos, deixando escapar um pouco enquanto falava e tossia - Mas a maior parte era só um monte de merda que eu escrevi quando tava me sentindo solitária. - devolvi o cigarro.

Estávamos fumando maconha na garagem de sua casa, deitados no chão, olhando as vigas de madeira sob as telhas.

- E você vai me mostrar a minha ficha, maluca? - ele perguntou me chamando como costumava. E, não sei exatamente porque, mas eu não me ofendia em ser chamada de maluca por ele. Talvez fosse porque ele o fazia de forma despreocupada.

- Pra que você quer ver?- falei e virei para encará-lo, ele já estava fazendo o mesmo. Sorriu enquanto soprava a fumaça em meu rosto.

- Se é sobre mim, eu tenho o direito de saber, não acha?

Voltei a encarar as vigas de madeira sob as telhas.

- É só um monte de merda que uma garota egoísta escreveu. Nada que valha a pena ler.

O garoto virou de bruço, apoiando-se nos cotovelos para olhar em meu rosto.

- Acha que eu vou ficar chateado?

Não respondi.

- Se essa é sua preocupação, pode ficar tranquila que eu até que gosto do seu jeito rabugento. Pelo menos é honesto.

- É sim, tão honesto quanto um tiro de bazuca - falei e o garoto riu antes de voltar a deitar-se ao meu lado.

- Eu gosto da sua honestidade desmedida, maluca.

- Até parece - debochei.

- É serio! Gostei quando você chamou o Brandon de dinossauro também.

Não pude evitar de rir em lembrar da cena.

- Você é um péssimo amigo!

- Que nada, eu amo o Brandon! Mas foi engraçado ver uma tampinha igual você enfrentar ele.

-É, foi mesmo. Eu dei uma puta sorte dele não socar a minha fuça.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas tragando e soltando a fumaça pra cima, passando o beck de uma lado pro outro. Era bem legal o fato dos pais do Gabriel deixarem ele usar a garagem como bat caverna, para trazer os amigos e fazer festas.

- Gostei de te beijar no cinema aquele dia - o garoto soltou de repente, me pegando totalmente desprevenida. Mas se tinha uma coisa que eu tinha aprendido sobre Gabriel era que ele não tinha vergonha de nada; simplesmente pensava e falava, queria e fazia. E se alguém fosse sentir vergonha ou raiva, esse alguém não seria ele.

Senti meu rosto esnquentando e sabia que não poderia culpar a maconha por isso. Pisquei algumas vezes tentando encontrar uma frase escondida em minhas pálpebras, mas não achei nada.

- Eu vou tomar isso como um "pois eu odiei".

- NÃO! - me sentei - Não foi isso que eu quis dizer, eu só...

O garoto sentou-se a minha frente, cruzando as pernas como eu.

- Então você admite que gostou de me beijar também? - falou rindo, parecendo esquecer o cigarro entre os dedos - Então basicamente você tá dizendo que eu sou o melhor beijo da sua vida? - provocou.

- Também não é lá como se eu tivesse muito com o que comparar - tentei não inflar sua moral, principalmente porque o beijo que Gabriel me deu no cinema tinha sido muito gostoso e ele parecia estar bem ciente de suas habilidades.

- O quê? Vai dizer que eu fui seu primeiro beijo? - brincou.

- Claro que não. - tentei disfarçar a falta de experiência que eu mesma tinha exposto.

Então a expressão do projeto de punk a minha frente mudou: suas sobrancelhas franziram desconcertamento enquanto ele apagava o cigarro no chão frio. De repente a atmosfera leve e divertida tinha se esvaído pelo ralo e eu sinceramente não estava entendendo muito bem.

Gabriel segurou minhas mãos e olhou sério em meu rosto. E eu, sem saber o que fazer, apenas corei um pouco mais. O que diabos eu tinha dito de errado?!

- Valentina, é sério, me responde isso com toda honestidade do mundo, ok?

Confirmei com um aceno de cabeça.

- Aquele beijo... o nosso beijo, aquele dia no cinema... foi seu primeiro beijo?

- Claro que não - dei uma boa risada me sentindo muito mais tranquila em poder falar a verdade, já que eu não era lá muito boa em mentir de forma desprevenida. Às vezes, nem mesmo ensaiando antes.

O garoto pareceu ter tirado uma mochila de pedras das costas, chegando a passar a mão na testa em alívio.

- Ufa, então tá bom! Mas então me conta: como foi seu primeiro beijo? Foi com alguém que eu conheço?

E eu contei. Contei a história de como Scar me beijou durante a verdade sueca que jogamos em sua casa. Essa era uma ótima história que eu poderia sempre tirar da manga, sobre como numa tarde louca eu beijei minha melhor amiga e mostrei os seios. Estranhamente eu não tinha vergonha em admitir isso, na verdade a cada dia que passava eu achava essa história ainda mais divertida. Mas o garoto a minha frente não pareceu achar tanta graça assim. Pra ser honesta, eu estava esperando pelo menos um "toca aqui!" quando chegasse na parte em que eu basicamente fui beijada pela garota mais bonita da escola. Mas Gabriel apenas ficou me olhando muito sério durante toda minha narrativa teatral.

- Ééeé... - falei depois de algum tempo sob o silêncio constrangedor que se apossou da garagem - Quem diria que a platéia seria tão dificil de agradar - tentei arrancar alguma risadinha.

Remexi meus dedos no colo pelo simples impulso de não fazer a menor ideia do que dizer para clarear o ar.

- Val, o que você vai fazer hoje a tarde?

Dei de ombros.

- Sei lá, tipo... lição de casa? Por que?

- Você não quer sair comigo mais tarde?

Franzi o cenho perdida.

- A gente meio que não já ta fazendo isso agora, menino doido?

- Não, tipo... Estamos, mas eu to falando de algo de verdade. Tipo, você sair comigo.

Franzi ainda mais minhas sobrancelhas.

- Tipo um encontro, Valentina. Quer sair comigo hoje? Num encontro?

Pisquei algumas vezes para ver se encontrava alguma falha na matriz ou se aquilo era mesmo real.

- Okay? - respondi sem ter certeza do que estava me metendo.

- Beleza. Então as 17h eu passo na sua casa - Gabriel falou se levantando e me encaminhando direto pra rua - Coloca uma roupa legal e maquiagem e todas essas coisas.

- Tá dizendo que essa roupa não é legal?

- Não, esse seu casaco é super legal, mas você me entendeu. Coloca um vestido ou uma saia, uma coisa especial, ok?

- Ok.

- Então até mais tarde - e o portão se fechou na minha cara, me deixando sozinha na calçada.

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Hoje em dia é muito estranho escrever sobre alguém chamado Gabriel. Porque meu namorado se chama Gabriel :v

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⏰ Última atualização: Mar 30 ⏰

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