Convidados Inesperados

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Fábrica de Chocolate – 16:37 hrs

Altivo estava encantado com o novo nome.

Apesar de saber que havia sido criado, a princípio, para mascarar seu verdadeiro apelido — o pejorativo "tampinha" —, ele precisava de um nome para se destacar entre os demais companheiros, afinal, havia sido escalado pelo próprio Willy Wonka como o coordenador do departamento de degustação da fábrica. Contudo, não era isso que estava em sua mente naquela fatídica tarde de verão: um homem desconhecido, vestindo roupas estranhas para época em que estavam, cruzou o corredor, completamente alheio às coisas à sua volta. Tinha o olhar vago, parecia estar tranquilamente procurando uma saída ou qualquer outra coisa nesse sentido. Altivo notou que o homem não havia percebido sua presença; por isso, aproveitou aquela situação e se esgueirou por outros caminhos para trancar as salas onde os demais Oompa-Loompa estavam, para assim mantê-los seguros. Uma vez feito isso, correu para o escritório do Wonka, que, à essa altura, estava lendo e fazendo contratos unilaterais, aproveitando-se de suas iguarias exclusivas para manter sua fábrica bem sucedida e deixar os concorrentes sob seu controle. Sim, é fato que o jovem garoto estava mais recluso, mais amargo; todavia, Altivo nunca deixou de ter esperança de que, um dia, ele voltaria a ser aquele jovem rapaz que havia conhecido. Naquele verão, Willy Wonka tinha acabado de iniciar os seus 33 anos de idade.

— Willy...

O chamou. Ele não se virou, estava ocupado usando os conhecimentos que Noodle havia lhe transmitido sobre leitura, em um passado não muito distante, para persuadir o futuro leitor daquele contrato, a fim de beneficiar os seus propósitos. Altivo retornou a chamá-lo, e era o único Oompa-Loompa que tinha a liberdade de usar o seu primeiro nome. Wonka virou o olhar no segundo chamado.

— Temos um problema.

— Já disse pra não me trazer problemas, Altivo. Eu já estou com os meus, me traga soluções.

— É um problema que eu não consigo resolver, "vossa alteza" — disse o homenzinho, revirando os olhos em sequência; ele também era o único com liberdade e coragem o suficiente para usar de sarcasmo não moderado com o rapaz; afinal, era o seu sócio. — Tem um desconhecido na fábrica.

— Como assim? — aquilo foi o bastante para que o rapaz virasse bruscamente na direção do seu interlocutor, o suficiente para que a longa bata de veludo do seu casaco cor de vinho girasse com o movimento.

— Eu não sei como ele entrou, mas ele não me notou. Os outros estão seguros no rio de chocolate, mas as demais alas estão vulneráveis.

Wonka soltou um suspiro forte, estava a pouco de se estressar. Rapidamente saiu de sua posição, tomou sua cartola, a bengala de madeira dourada, e partiu para fora de sua sala, sem dizer a Altivo o que estava planejando.

— O-o que vai fazer??

— Vamos gentilmente tirar ele daqui.

Ao abrir os portões da varanda para o pátio de processamento de nozes, percebeu não somente um homem estranho perambulando pelo local, mas dois, três, quatro ou mais daquelas pessoas vestidas de maneira suspeita, completamente perdidas. Wonka desconhecia todas aquelas pessoas e tudo o que elas utilizavam; saias, bermudas, os brincos e os piercings, as câmeras fotográficas em seus pescoços e os celulares nas mãos. Era época de pós-segunda guerra mundial, joias e câmeras fotográficas até existiam, mas eram completamente diferentes das que aqueles indivíduos estavam utilizando. Ele encarou todas aquelas pessoas, compenetrado.

— E-ei, ei!

Tentou chamar a atenção do que parecia ser um rapaz, embora estivesse utilizando acessórios que ele considerava femininos demais para seu estilo de vida.

Wonka - SegredoOnde histórias criam vida. Descubra agora