Entro no salão das rosas, acompanhada por dois guardas da rainha e caminho vacilante até me postar diante de seu trono.
Meia Noite mandou que me buscassem assim que pus os pés na entrada do palácio e deixou-me apreensiva com o tom de urgência implícito nesta convocação.
Agora que sei a respeito da queda na Normandia, tudo o que me vem à mente são cenários catastróficos.
— Perdoe-me por convocá-la às pressas — pede Meia Noite, observando-me desde seu assento com os olhos avermelhados.
Parece-me que não dorme há dias e nem mesmo suas vestes deslumbrantes são capazes de encobrir o seu profundo abatimento.
— Aconteceu alguma coisa, majestade? — questiono hesitante.
Alguma coisa grave? Era o que gostaria de acrescentar.
— Ah, muitas coisas tem acontecido — afirma a rainha, desabando os ombros em meio às rosas prateadas. — Meu marido se encontra enfermo e depois de todo o ataque que temos sofrido será necessário nos prevenir quanto a vossa segurança. Não podemos arriscar a vida da próxima rainha.
O quê? Henrique está acamado? Isso não é bom. Não é nada bom. Não pode ser bom. Sem a supervisão do rei este reino pode colapsar a qualquer momento.
— Vão redobrar minha guarda? — indago, tomada de aflição.
— Vamos transferi-la para outro castelo — esclarece Meia Noite, apoiando a própria testa com a ponta dos dedos enquanto evita olhar em meus olhos.
Nisso não há espanto.
Sinto que ela pode desmoronar como se fora uma montanha de gelo. Não deve estar sendo fácil suportar o peso de suas funções monárquicas.
Estranha-me que tenha se disposto a me atender nestes termos. Provavelmente, não encontrou um oficial capacitado. Noutra circunstância, tal reunião seria encabeçada pelo príncipe herdeiro, visto a inaptidão do rei, mas é obvio que não me deixariam encontrá-lo.
E nem quero!
— Tem a ver com a perda da Normandia? — averiguo ousadamente, causando-lhe um sobressalto.
Assim, ela me encara boquiaberta, mas, aos poucos, recupera a apatia nas feições e balança a cabeça como que decidindo relevar minha descoberta.
Até uma negação lhe parece exaustiva.
— Tem a ver com diversas coisas — responde com voz fraca. — Nós perdemos muito mais que a Normandia, mas não tenho condições de lhe detalhar nada agora.
Será que ainda existe a possibilidade de sair daqui correndo? Eu simplesmente não consigo assimilar o quanto a coisa está feia.
O que mais eles escondem de nós?
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À Espera da Coroa - LIVRO 4 - CIR.
Ficción históricaO casamento real se aproxima e a corte toda está em polvorosa! Exceto por uma pessoa... O que seria um fato isolado, e até irrelevante, se essa pessoa não fosse justamente a noiva. Panny Delyon recebeu a notícia que mais temia, ou que aprendera a te...