Malie.
Alguns minutos depois de entrar em casa ouço a porta abrir, me viro na esperança de ser minha avó com a enxurrada de sermão mas é Alika. Ela trás com sigo algumas sacolas com besteiras comestíveis e seus produtos de skin care.
— Você vai precisar de uma noite das garotas! — Ela certifica enquanto se aproxima e me abraça. — Vou te esperar lá em cima.
Alika sobe as escadas e no mesmo instante minha avó entra, passando pela porta furiosa, assim que se aproxima o suficiente para manter contato visual seu semblante muda de raiva para decepção.
— Nunca mais você faça isso, Malie! Nunca mais! — Ela comenta e aponta o dedo em minha direção.
— Eu esperava isso de qualquer pessoa, menos de você. Eu te criei da melhor maneira possível, criei você para que você não cometesse o mesmo erro que sua mãe cometeu e você está fazendo justamente o que ela fez!
— Me desculpe, vovó! — Solto um sussurro desanimado.
Estou tão envergonhada por ter fugido que não consigo olhar nos olhos da minha avó.
— A UNICA COISA QUE EU PEDI QUE NÃO FIZESSE ERA SE ENVOLVER COM UM HOMEM ESTRANGEIRO! A ÚNICA! — Ela berra.
— Vovó. — Sinto meus olhos marejar. — Isso não vai mais acontecer, eu prometo.
— Eu não vou passar por tudo o que passei com a sua mãe novamente, Malie! Eu não aguento passar por tudo de novo! Se continuar me desafiando dessa forma e desaparecendo com estranhos você vai ter que procurar outro lugar para viver. Eu prefiro não ver você destruir a sua vida como sua mãe fez com a dela. — Ela me olha mais uma vez e sai de casa novamente.
Desabo de chorar, não consigo me controlar, quando vejo estou chorando feito uma criança, me ajoelho no chão e cubro meu rosto com as mãos e logo depois sou acolhida pelo abraço de Alika.
— Ela vai te perdoar, Malie! Tenho certeza!. — Alika comenta enquando nos mantemos unidas.
— Eu decepcionei a pessoa que mais me apoia e me quer bem! — Respondo.
Alika passa alguns minutos me acalmando até eu me sentir melhor, depois minha avó retorna para casa mas ainda se mantém em silêncio.
— Vou me trocar para ir com a senhora para o restaurante. — Comento.
— Não! Não quero que venha hoje! — Ela responde com frieza.
— Por que não?! Quem vai te ajudar essa noite? — Pergunto.
— Eu sei muito bem que você não está vindo para me ajudar! — Ela retruca.
— Está vindo por que marcou com aquele marginal estrangeiro de ele passar lá no restaurante igual na noite anterior. — Ela franze o cenho enquanto me encara.
— Vamos subir, Malie! — Alika me puxa em direção a escada.
No quarto caminho de um lado para o outro enquieta.
— Amiga? — Alika me chama mas não paro de perambular pelo cômodo.
— MALIE!!! Calma! — Dessa vez paro com o berro de Alika. — Por que fugiu com o William? Sério, até agora eu não entendi, isso não tem nada haver com você; sair e passar o dia com um estranho. BEIJAR UM ESTRANHO! — Ela comenta.
— Não beijei ele! — Respondo só a parte que me interessa.
—Desde quando você conta mentiras? — Alika questiona. — Quando nos aproximamos, vocês estavam muito próximos que parecia que tinham acabado de se beijar. — Ela responde.
Paro e observo o chão.
— Você tá gostando do William? — Ela pergunta.
Mantenho meu olhar fixo ao chão, tenho certeza que ela veria bem explícito em meus olhos que estou atraída por William.
— Está, não é? Gosta dele?! Ah meu Deus, Malie! Você está gostando do gostosão do William! — Quando a encaro os olhos de Alika estão saltados em minha direção.
— Eu não sei o que fazer, Ali, eu sei que não posso ficar próxima dele mas ao mesmo tempo eu quero estar próxima, quero estar com ele e passar horas conversando e ouvindo a risada dele. — Abro o jogo para Alika.
— Eu espero por esse dia desde os seus 15 anos! — Alika faz um gesto eufórico para que eu me aproxime.
— Nós nunca conversamos sobre rapazes e você é a minha melhor amiga, esse é um evento canônico em nossas vidas!
Caminho até Alika e me junto a ela que está sentada na cama.
— Ele me beijou! – Conto. — Mas eu não consegui retribuir e congelei.
— Isso não é natural para uma pessoa de dezessete anos, mas como você nunca beijou ninguém então eu até que compreendo você. — Alika responde.
— Quando vão se ver agora? — Ela pergunta.
— Não sei... talvez eu o veja amanhã. — Respondo.
— Por que não vai para Elbow Cay passar uns dias com ele?... Aluga um quarto lá ou quem sabe não fica no quarto dele! — Alika conclui a frase com um olhar ousado.
— Não! Não vou ir para a cidade atrás dele, me enfiar em um quarto de hotel! — Respondo prontamente.
— Tem razão, ele pode te achar desesperada. — Ela alerta. — Você precisa comprar um celular com urgência pra poder falar com ele!
— Alika, ele é turista está aqui passando alguns dias e nada mais, nada disso vai para frente, a partir do momento em que ele embarcar no avião eu vou passar a ser somente uma lembrança, não vale a pena eu mudar o que sou para me adaptar à ele se eu nem sei se ele pretende ficar ou se vai me querer por perto! — Ponho para fora minhas inseguranças.
— Ah meu Deus. — Agora o olhar de Alika se entristece. — Está insegura!
Concordo com um gesto com a cabeça.
— A minha avó fala tanto que os turistas só vem para nos usar e ir embora, que tenho medo até de tocar nele e depois quando ele for embora e eu me sentir usada por ele. — Exponho mais uma de minhas inseguranças.
— Ele é mais velho e é mais experiente, estou sentindo tudo isso... estou passando por tudo pela primeira vez e é tudo novo para mim. Espero que eu só esteja emocionada e atrapalhada.
— Amiga. — Ela segura minhas mãos e me olha nos olhos. — Vocês tem muito potencial, a Leonor só disse coisas boas a respeito do William e daqui à alguns meses você vai se mudar para Nova York e vocês vão poder ficar juntinhos caso os dois queiram isso. Dá uma chance para o que você está sentindo, aposto que ele também gostou de você! —Ela conclui enquanto me olha cautelosa.
— Tem razão! — Respondo. — Agora só falta convencer a minha avó disso tudo!
Alika e eu passamos o início da noite toda conversando e fazendo planos para a minha ida a faculdade enquanto fazíamos skin care e as unhas. Fazia tempos que não tínhamos um momento assim, de amigas. Tim passou por aqui para fazer algumas entregas e nos trouxe o jantar, perguntei a ele como minha avó estava se virando sozinha no restaurante e ele me disse que ela contratou algumas pessoas. Tim não demora muito pois tem mais entregas para fazer, assim que ele sai Ali e eu nos encaramos com estranheza. Minha avó sempre repudiou a ideia de contratar funcionários e agora de uma hora para outra contrata pessoas? Não só uma pessoa, pelo o que Tim disse foram algumas pessoas!
— Estranho! — Comento enquanto fecho a porta do quarto com as sacolas de papel na mão.
— O que é estranho? — Logo Alika pergunta.
— Ouviu o que Tim disse?.. que a minha avó contratou funcionários para o restaurante. — Respondo enquanto coloco a sacola sobre a minha cômoda.
— Já era para ela ter feito isso a muito tempo! Você se mata de trabalhar naquele restaurante o verão inteiro e quase não sobra tempo para nada. — Ela comenta enquanto pega as vasilhas nas sacolas.
— É estranho. — Comento novamente.
— Não é estranho. É alta temporada o restaurante lota, é justo que ela contrate algumas pessoas. E você pode aproveitar o seu tempo livre para investir no William. — Responde Alika enquanto começa seu jantar.
O resto da noite passa rapidamente, Alika já pegou no sono e minha avó ainda não retornou do restaurante então decido sair para pensar. O meu lugar favorito é a costa do outro lado da rua, gosto de me sentar nas pedras e ouvir as ondas batendo, sentir a brisa fresca da noite. Eu posso estar no meu pior dia mas quando chego aqui tudo fica melhor e a única coisa que preciso fazer é atravessar a rua. As vezes eu me sinto mal por ter isso tudo e ainda não me sentir satisfeita, passo várias horas do meu dia preocupada com trabalho e com várias outras coisas que acabo não percebendo as coisas boas eu tenho a minha volta. Me sinto rica, não financeiramente, mas sou rica!
Retorno para casa assim que vejo a camionete da minha avó estacionada em frente a casa mas quando chego ela já havia ido dormir, provavelmente ainda está muito magoada com o que fiz e não queira conversar comigo.
Daqui à alguns meses vou me mudar para Nova York e ela não terá mais que lidar comigo e nem com as minhas inconsequências.
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A Garota Da Costa.
RomansaMalie Rolle tem 17 anos e é uma jovem de alma doce e ingênua, embora tenha sido criada por sua avó carrancuda; ela espalha sorrisos por onde passa. Malie está otimista em relação a sua ida para faculdade e quer aproveitar o seu último verão no ensin...