𝐔𝐌

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Acordei num sobressalto. Minha respiração estava ofegante e senti suor escorrendo pela minha testa até o resto da minha bochecha. Minhas marcas alteanas estavam a brilhar, e isso não era um bom sinal. Não de todo. Ou então, era apenas por estar nervoso.

Tentei respirar fundo enquanto olhava para a janela. O sol brilhava lá fora, os raios solares atravessavam a minha janela e a do resto da Fazenda.

Havia tido mais um pesadelo. Sempre os tive após a guerra, após termos-nos separado e tudo ficar bem. Mas algo me dizia que não estava tudo bem. Ainda não.

Sonhei novamente com Keith. Estava num ambiente escuro, parecia de noite e eu estava dentro da Fazenda a cuidar das flores alteanas, como sempre. Até ouvir um estrondo do lado de fora. Isso assustou-me e, ao me aproximar da janela, observei uma nave familiar. Houve um black out e agora encontrava-me do lado de Keith. Ele estava inconsciente. A sangrar muito e com algumas cicatrizes ensanguentadas também. Acordei antes de saber se ele estava vivo.

Tinha sido apenas um pesadelo, eu sei, mas era estranho eu sempre ter tido este mesmo pesadelo durante tantas noites seguidas. Sentia que algo estava para acontecer. E de muito mau.

Os meus pensamentos foram interrompidos pela minha irmã Verónica a entrar pelo meu quarto adentro.

— Vais ficar aí eternamente? — Ela diz enquanto cruza os braços e se encosta à porta do quarto. — O pequeno-almoço está pronto.

Tentei me recompor e apenas limpei o suor da testa, rezando para que Verónica não tivesse percebido. Não havia contado a ninguém sobre os pesadelos que andava a ter. — Estou a ir! Acalma-te.

Acho que não fiz um bom trabalho, pois Verónica olhou-me estranhamente.

— O que se passa?

— Nada. Acabei de acordar, óbvio que estou com cara de morto. — Eu repliquei com as minhas típicas respostas, algo característico. Esperava que ela caísse nisso.

— Não é isso. — Ela entrou. — Pareces preocupado. E mais, as tuas marcas estão a brilhar.

Às vezes esquecia-me que as marcas brilhavam ou quando algo estava para acontecer, quando estava a usar o poder alteano, ou quando eu estava nervoso.

— Pronto, está bem, ganhaste. — Eu disse enquanto me virava. — Tive um pesadelo. Nada muito preocupante.

— Queres contar-me? — Ela sentou-se a meu lado.

Não sabia se queria, mas provavelmente podia pelo menos fazer-me sentir melhor.

— Sonhei com o Keith. Resumidamente,  ele estava ferido. Tipo, muito.

Após a guerra, Keith de vez em quando (muitas vezes) ia para fora da Terra. Como ele era metade Galra e havia planetas que ainda precisavam de ajuda ou suplementos, Keith sempre ajudava com a lâmina de marmora. Aquilo, obviamente, também incluía lutas, pois não era só a raça Galra que tinha más intenções.

Até a parte de lutar, estava quase tudo bem. Ele era um bom lutador e manuseava bem a espada e a lâmina. O problema é que ele tinha uma coisa por se arriscar por tudo e por todos.

— Estás preocupado então. — Verónica deu-me um encontrão no ombro com uma cara que eu sabia ler bem. Mas não prestei atenção. — Entendo que deves estar preocupado. Não o conheci tanto como tu mas, pelo que vi na guerra, acho que ele se safa bastante bem. Ele deu um bailinho àqueles aliens.

Aquilo tinha as suas verdades. Keith quase sempre se safava. Mas em segurança? Praticamente nenhuma vez.

— Talvez tenhas razão... — Dei um longo suspiro. — Foi apenas um pesadelo também.

— Exatamente. Agora bora, a comida vai ficar fria e eu bato-te.

. . .

Para ser sincero não comi muita coisa. Hunk tinha vindo ajudar Verónica a fazer o pequeno almoço, estava bastante bom. Hunk tinha se tornado cozinheiro após todos os eventos. Provavelmente ele e Pidge eram os únicos que eu ainda comunicava com mais frequência.

Hunk havia percebido que eu não estava a comer muita coisa e decidiu perguntar. — Está tudo bem, Lance?

— Hm? Sim, só estou sem fome. — Menti. Realmente não queria preocupar Hunk.

Ele não acreditou, percebi pela sua expressão, mas também não me pressionou para contar.

— Uhm... — Comecei. — Sabes alguma coisa da Pidge?

— Ah, sim. Ela estava em chamada com a Krolia para saber da missão.

Me sobressaltei. Krolia era a mãe de Keith. — Krolia? Então o Keith está bem?

— Não sei bem. Pidge disse que eles estavam em uma luta feia. Estou preocupado admito, mas.. É o Keith. — Hunk relaxou-me. — Também estás preocupado?

Aquilo deixou-me com um pé atrás. Eles estavam numa luta feia e aquele pesadelo... Não sei, parecia que estava conectado. Estava com medo do pior.

— Ei, sem stress. — Acho que Hunk percebeu que estava preocupado. — Sabes como o Keith é. Além disso, acho que ele Iria querer que confiasses nele.

Eu confiava nele. Mas mesmo assim estava preocupado.

— Eu sei. É, tens razão. O Mullet safa-se. — Disse a Hunk, mas soou mais como se eu estivesse a convencer-me mais a mim próprio do que a qualquer outra pessoa.

. . .

Já era tarde, pôr do sol. Eu estava na parte do jardim da Fazenda a regar as flores. Ocasionalmente olhava para o pôr do sol e, consequentemente, para o céu. Fazia-me lembrar de quando era um paladino, de quando voava com o Leão azul e, mais tarde, com o vermelho pela galáxia inteira e derrotava uns quantos soldados de Zarkon. Não sentia falta de Zarkon, como é óbvio, mas sentia falta de pilotar. Sempre quis ser um piloto, por isso havia me inscrito na Garrison quando era mais novo e foi por isso que aceitei esta coisa de ser salvador do universo para começo de conversa. ser herói soava-me bem na época. Sentia falta disso tudo.

Mas agora.. Nem sei o que me aconteceu. Não sei porque desisti quando a guerra terminou. A morte da Allura concerteza mexeu muito comigo, mas sinto que tomei a decisão errada. Provavelmente ela não iria querer isto para mim. Na verdade, nem eu queria. Mas não havia volta a dar.

Observando o céu, percebi uma estrela cadente a passar. Estava numa velocidade rápida, tipo.. Bastante. algo estava errado, não emitia a luz brilhante e amarela que as estrelas cadentes emitiam. Parecia mais.. Uma energia mais alaranjada.

Pousei o regador e ia me aproximar um bocado mais dos arbustos para ver se vai alguma coisa. Mas o que vi.. Ou, pelo menos, ouvi foi um estrondo. Não. Não pode ser.

Imediatamente larguei tudo o que estava a fazer e desatei a correr em direção ao local. Não sabia o quão longe estava, onde a coisa havia caído, mas se fosse o que eu estava a pensar, iriam haver destroços e seria fácil de encontrar. Eu esperava estar enganado.

A minha respiração cada vez ofegava mais, mas finalmente cheguei. Ao redor, tinha uma camada de chamas. Não muito fortes nem incrivelmente preocupantes, mas o que vi à minha frente era sim preocupante.

Aproximei-me. Sem dúvida... Era uma nave Galra. As minhas mãos tremiam e ao olhar para dentro vi uma figura familiar. Parecia estar deitada inconsciente no chão da nave e ensanguentado.

— Não....

Locksmith || KlanceOnde histórias criam vida. Descubra agora