Já faziam três semanas que as aulas haviam começado, último ano do ensino médio e também primeiro ano de vestibular e sinceramente não me sinto muito motivada ou algo do tipo, depois dos últimos dois anos parece que tudo em mim sumiu, eu me perdi em um mar de confusão. É interessante o que uma pessoa pode fazer com você quando está cega de paixão e amor e não sei mais o que, você se vê tão consumido pelo sentimento de amar outra pessoa tanto que esquece de amar a si mesmo e para que? No fim fica apenas a solidão e o vazio de ter amado com tudo o que tinha e mesmo assim não ser suficiente..
Neste instante estou descendo as escadas da minha casa para mais uma segunda feira de puro caos e hormonios adolescentes naquela escola a qual eu desprezo com tanto vigor mas não tenho escolha, esses são os contras de morar em uma cidade do interior que tem apenas uma escola de ensino médio e uma de primario e ensino fundamental. Apesar de tudo, eu consigo pensar em algumas coisas as quais sou grata por ter, minha família, por mais que minha infância tenha sido ver meus pais se separando e minha mãe virando alcoolatra, ainda sim amo eles como ninguém mais e minha melhor e única amiga Andy, a qual esta comigo a sete longos anos.
Passo pela cozinha onde meus pais estão sentados como um belo casal que se ama o que hoje em dia realmente são, mas ainda sim o medo das coisas voltarem a ser como antes continua em minha cabeça em um lugar bem escondido ao qual eu não deixo o acesso livre.
- Bom dia! - com falso entusiasmo é o que digo aos dois
- Bom dia querida. - minha mãe, Vera, murmura enquanto toma seu café.
- Bom dia, Alicia, dormiu bem? - meu pai,Jack, sempre me chamando pelo meu nome o qual eu repudio pergunta olhando diretamente para mim.
- Claro, como sempre- minto sem muitos rodeios enquanto pego um prato com três panquecas e calda de chocolate na geladeira.
Sento a mesa para comer o mais rápido possivel antes que eles comecem a perguntar de minha vida, não me leve a mal eu amo meus pais mas acho que ninguem gosta de falar sobre a própria vida com a mae e o pai. Para minha sorte meu pai está entretido no jornal da manhã e minha mãe vendo algo no tiktok. Assim que acabo de comer anuncio minha partida para a escola, saindo rápido para que eles não queiram me levar.
O caminho para escola é sempre tranquilo, não fica muito longe de casa e com uma boa música tudo fica incrível. Ao chegar no portão percebo que estava um pouco atrasada, correndo para conseguir entrar eu acabo esbarrando em alguém e quase sendo levada ao chão se as mãos deste não estivessem me segurando com força contra seu tronco, olhando ao redor assutada e com muita vergonha percebo ser uma figura masculina com mãos tatuadas em um estilo atraente, levantei meu olhar torcendo para que eu não estivesse de um jeito muito vergonhoso, seus olhos negros eram tão atrativos quanto suas mão tatuadas.
- Você esta bem ? - sua voz era uma mistura de macia e rouca ao mesmo tempo, o que junto com seus cabelos bagunçados também negros seu maxilar quadrado e sua aparencia de ter nem mais nem menos de 28 anos se tornava a combinação perfeita de pecado. Ele me ajudou a me equilibrar e suas mãos se afastaram de meus braços.
- Estou, eu,é, me desculpe, eu estava com pressa e acabei não te vendo aqui. - Ajeitei meus cabelos rosados que, Deus! Eu nem sabia se estavam bagunçados.
- Esta tudo bem, que bom que não se machucou. - Ele pareceu continuar me analisando enquanto eu sentia minhas bochechas corarem e as palavras sumirem.- Melhor você ir, o sinal já vai tocar.
Eu acenei com a cabeça e caminhei lentamente para os portões que graças a deus estavam vazios. Ao entrar na escola eu ainda sentia seus olhos sobre mim, me causando arrepios.
Andy estava me esperando em frente a sala com a mochila em mãos, aparentemente havia acabado de subir também. Quando eu e ela ficamos frente a frente ela pareceu me analisar por um tempo, em completo silencio, apenas olhando para mim.
- O que aconteceu com você? - perguntou confusa e com olhar de quem estava desconfiando até mesmo da minha sombra.
- Nada aconteceu comigo Andy, por quê? - menti descaradamente em seu rosto, meu coração ainda estava acelerado pelo acontecimento de minutos atrás.
- Parece até que você viu um daqueles seus cruchs famosos. Ta mais vermelha que pimenta amiga.
- É só calor, vim andando como sempre - desconversei entrando na sala.
- Atá, e você com certeza chega assim todo dia né. -sorriu cínica para mim.
Ignorei seu comentário quando o professor de Inglês entrou na sala, arrumei minhas coisas para prestar atenção a aula mesmo que ela ainda me olhasse com desconfiança. Andy me conhecia melhor do que eu mesma.
O primeiro tempo e o recreio haviam passado rápido, ainda bem, eu não via a hora de ir para casa. Estávamos descendo para a quadra para a aula de Ed.Física, então peguei o livro que eu atualmente estava lendo e segui meu caminho com Andy, apesar de ela me abandonar sempre para jogar vôlei com a turma eu ainda a amava.
Quando chegamos a quadra eu já coloco meus fones e sigo caminho para o canto das arquibancadas aonde é mais tranquilo para ler e fugir um pouco daquela merda de realidade, me sentei ali, me acomodando no chão frio e desconfortável do banco de cimento ao qual faço morada desde o primeiro ano. Dando continuação a minha leitura atual que é um romance com muito drama ao qual eu amo, não percebo quando uma figura se aproxima a não ser por sua sombra sob meu livro, desvio meu olhar para xingar quem seja que estiver atrapalhando minha leitura, mas o que vejo me faz novamente perder o ar.
Era ele ali, em pé a minha frente, me olhando com um sorriso lateral que me tirou o ar.
- Olá Algodão doce, parece que nos encontramos novamente.
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Algodão Doce - CHRISS YOUNG
RomanceAlicia Still, uma estudante do último ano do ensino médio que se vê sem esperança nenhuma na vida, seja no amor, ou em sua vida profissional. Ela se vê se afogando em um mar de desilusão após superar um término que levou toda sua saúde mental embora...