Ansiedade

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POV Kiki

O show de boas vindas vai ser no sábado, hoje é terça feira... Martin já sabe o que vai cantar, Ruslana já se decidiu sobre qual música vai escolher, na saída do auditório ontem, logo depois da palestra, vi Alex e Omar conversando e aparentemente eles também já tem decidido o que vão fazer. Todos estão planejando alguma coisa, pedindo ajuda para os professores e reservando salas para ensaiar, então isso faz de mim a única bolsista inútil que não sabe o que vai fazer ainda. Ótimo, logo na primeira semana eles vão se dar conta de que fizeram uma besteira me dando essa bolsa e vão me expulsar do conservatório, nunca mais vão querer olhar na minha cara, eu nunca vou conseguir ter minha vida na música e...
- Seu pensamento está em Marte ou em Saturno? - a voz de Violeta soou no ambiente me tirando do meu devaneio, olhei a ruiva sentar ao meu lado na mesa do refeitório.
- O que? - perguntei sem entender muito bem sua pergunta.
- Era só pra ter uma noção do quão longe ele estava da terra! - Violeta deu de ombros sorrindo, colocou sua bolsa em cima da mesa e apoiou suas costas no encosto da cadeira logo me encarando.
- Está em sábado na verdade - fiz uma careta e respirei fundo, mas sem sentir realmente que o ar estava entrando em meus pulmões.
- O show de abertura? - Violeta perguntou e eu apenas assenti com a cabeça.
- Eu já pensei em tudo, mas ao mesmo tempo não pensei em nada, não consegui decidir nada... Não faço ideia de como vou preparar algo, sem ter noção nenhuma do que vou fazer - falei com a frustração estampada no meu tom de voz.
- Kiki, calma! Vai dar certo, você vai conseguir! - falou com um tom de voz suave, mas as vozes na minha cabeça gritavam todas ao mesmo tempo.
- Não, Violeta! Não vai dar nada certo, isso vai ser um desastre! - minha respiração acelerou - Eu vou ser a maior vergonha das bolsas notáveis na história da ECAM! É bem provável que sábado mesmo eles vejam que eu sou uma fraude e retirem minha bolsa. Se eu não consigo lidar com a pressão do show de abertura, como vou conseguir fazer qualquer outra coisa nesse conservatório? Depois do desastre que vai ser sábado acabou tudo: acabou o sonho, acabou a música... Eu devia mesmo ter imaginado que tudo estava bem de mais pra ser verdade, é claro que eu nunca conseguiria fazer...
- KIKI! - Violeta falou em um tom de voz mais alto interrompendo meu surto e agarrou meus ombros me fazendo virar de frente pra ela - Para com isso! Se acalma, por favor! - seus olhos encontraram os meus com uma expressão preocupada - Posso te dar um abraço? - ela perguntou suavemente, concordei parecendo estar hipnotizada por seus olhos castanhos me encarando de tão perto. Violeta me puxou para mais perto e me envolveu em seu abraço, algo nela fez com que toda a gritaria e confusão que estava na minha cabeça se acalmasse, respirei fundo e dessa vez realmente senti o ar oxigenando meus pulmões. Fechei os olhos por alguns segundos sentindo meu corpo relaxar enquanto ela fazia um carinho leve nas minhas costas. Isso não faz sentido nenhum, eu nunca gostei de ninguém me abraçando quando estou nesses momentos de estresse e ansiedade, prefiro ficar sozinha, mas porque eu estou tão confortável nesse abraço? Porque ele me deu uma sensação de querer ficar aqui o resto da vida? - Tudo bem? Está mais calma? - perguntou ainda sem me soltar, concordei com a cabeça e ela me soltou de seus braços delicadamente, mas manteve sua mão em meu antebraço fazendo um carinho delicado voltando a me encarar.
- Desculpa... E obrigada! - falei levemente envergonhada e encarei o chão sem conseguir sustentar seu olhar.
- Kiki você não precisa pedir desculpas! - falou, sua voz estava tão tranquila e me passava tanto conforto que voltei a encará-la - Acho que você precisa de um café e um pouco de ar fresco - Violeta sorriu mostrando sua covinha, e eu acabei sorrindo em concordância - Vamos! Vem comigo! - ela levantou pegando nossas bolsas e colocando em um de seus ombros, Violeta passou seu outro braço por meus ombros me abraçando de lado e me conduziu para fora do refeitório em direção ao corredor. Ficamos em um silêncio confortável enquanto caminhamos pelo corredor em direção ao terraço. Subimos a escada e chegamos no local que para nossa sorte e surpresa estava vazio.

Letra e música - KiViOnde histórias criam vida. Descubra agora