Capítulo 2. - Não quero só sobreviver. Quero viver também.

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Duas semanas depois já tinha aprendido muito sobre como sobreviver em um navio pirata. Não adiantava o clamor da justiça. Você simplesmente tinha que ser mais filho da puta senão nem comer direito poderia porque alguém sempre queria te passar a perna. Como conseguiram viver sem se matar até agora? Olma realmente me mandava fazer tudo o que podia e me mantinha ocupado a maior parte do tempo. O coitado do Bob precisava colaborar comigo porque, tecnicamente, estava responsável por mim. Vivia resmungando, mas tinha percebido que se tentasse agradar a mulher também podia conseguir brandir uma espada. Lógico que não dependi completamente da aprovação de algum espadachim do barco, treinava sozinho usando um cabo de vassoura ou algum pedaço de pau. Fazia exercício quando tinha tempo, apesar de que estava sempre fazendo alguma atividade que exigia força. Força essa que me faltava as vezes.

Aprendi também os nomes da tripulação, o capitão Baltazar, a médica Geany que namorava a cozinheira Tereza, acho que as duas eram casadas. O primeiro imediato Tobias que não costumava conversar, era um cara forte e alto, parecia jovem se comparado aos outros tripulantes e me tratava relativamente bem. Tim que havia me ensinado a jogar era o timoneiro, também havia Ulisses, Kelp, Don, Frida, Eric, que cuidavam da manutenção do navio. Guto, Demi e Trisha eram os atiradores e costumavam estar atentos aos arredores. A navegadora era Madra. Olma e Fátima eram as espadachins. O nome do navio era Pequena Penélope. Haviam outros jovens que estavam responsáveis por ajudar em serviços gerais e era um desses. E o cara que não gostava nem um pouco: Remus, o que tentou me atacar e recebeu um corte no braço, desse queria distância.

A vida era tranquila. Havia bebido rum pela primeira vez há duas noites atrás e foi uma experiência pavorosa. Como sabido, sou o único ômega da tripulação e isso parece ser um tabu não dito por todos. Sei que é meio perigoso, mas a ideia de ser largado em alguma cidade me fazia sentir pânico. Preferia o mar. Nos primeiros dias fiquei um pouco enjoado, mas não era tão ruim, o balançar das ondas trazia muita tranquilidade e a comida era gostosa. Não era aquele mingau sem gosto que comi quando estava de cama.

- Você joga todos os dias com a Olma e acha que pode vencer? - Bob estava apoiado com o queixo na vassoura encarando o mar.

- Sim. Vou descobrir o truque maldito e passar por cima disso. - Solto um suspiro pesado. Todos os dias chegava desafiando a Olma. Já tinha recebido oitenta dracons, o que me rendeu algumas boas economias quando chegasse a alguma ilha. Compraria roupas novas, definitivamente, e algo que me ajudasse a cuidar do cabelo.

Queria deixar meu cabelo crescer. Tinha cabelos castanhos encaracolados, a pele marrom, olhos verdes e algumas sardas na bochecha. O corpo magro sem tanta musculatura, mais curvas do que gostaria. Também tinha alguns sinais na nuca, três pontos que Bob dizia que pareciam estrelas. Meus lunares.

- Está fazendo um bom trabalho? - Olma se aproxima enquanto estávamos jogando conversa fora. - Esse chão não vai se limpar sozinho.

- A gente tá quase terminando, senhora. - Bob diz rapidamente voltando a esfregar freneticamente.

- Darcy, o capitão está te chamando. - Olma diz apática com a situação. Apenas concordo com a cabeça entregando o esfregão a Bob lhe dando um sorriso cúmplice e saindo antes das suas reclamações.

Quando subia as escadas na direção do leme, podia ouvir a voz de Madra com o capitão.
- Não deveríamos desviar o curso. Vamos atrasar a entrega da mercadoria. - Sua voz complacente era calma e arrastada.

- Não importa. É necessário. Não quero correr risco por causa de uma semana. - O capitão dizia mais irritado e impaciente.

Não demorei a ser percebido. Madra desceu passando por mim, apertando meu ombro suavemente de forma cúmplice e voltando a sua sala de mapas. Fiquei intrigado, mas continuei a subir até onde estava Baltazar.

Piratas E Castelos - a honra Rebelde Onde histórias criam vida. Descubra agora