Capítulo II: Sequestro de camelos - Parte II.

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— Yve — A voz distraída de Daphne chama nossa atenção, ao que torcemos nossos corpos para encará-la. —, você tá dormindo muito ultimamente?

— Sim, no meu tempo livre, porque? — Yve murmura e me encara, dou de ombros.

— Olha, dormir toda hora é sinal de gravidez. — Daphne diz, com um sorriso cínico. — Será que o König vai ser papai?

Pa-pa. — O balbucio de Märkyg, que se apoia nas mãozinhas, que colocou sobre o peito de Daphne enquanto ela o segura com as mãos em sua cintura, para ficar em pé; fecha a tampa de meu caixão, e não sei em quê focar.

Me afogo em minha própria saliva e, nem se eu tentasse, conseguiria impedir o engasgo que me faz sentir meu peito doendo, enquanto tusso descontroladamente.

Yve está paralisada e parece que vai desmaiar — sinto o mesmo, a qualquer momento.

Pa-pa. — O menino repete devagar, sorrindo e batendo os pezinhos no chão.

— É sério, que você ensinou “pai” ao invés de “mãe”, Yvennia? — Daphne está sorrindo, ainda que um pouco indignada, sem perceber que estamos a ponto de desfalecer. — Vamos lá, garotão, diz “titia”! — Quando o bebê a ignora, a loira se dá por vencida. — Okay, é bem possível que você só me chame de Barbie, igual sua mãe.

— Ele… ele tá falando… — Yvennia finalmente murmura, os olhos lacrimejando. — Espera… como assim grávida!? Meu Deus do céu! Grávida!? Grávida!?

— Meu Deus, pra quê toda essa comoção, eu estou só supondo. — Daphne arqueia uma sobrancelha, os olhos azuis sobre nós. — Vocês usam camisinha?

— S-sim. — Respondo, após reaver minha capacidade de falar. — Meu Deus, eu lembro, nós usamos todas as vezes.

— Ah, então você só está cansada. — Ela declara, como se fosse simples, sorrindo para Märkyg. — Que pena, hein Märk. Não foi dessa vez que você ganhou um irmãozinho.

— Meu Deus, acho que vou perder as forças se eu tentar pegar ele. Consegue andar? — Pergunto, meio vacilante.

— Não, e se eu tentar pegar ele, provavelmente vou deixar meu bebezinho cair... meu Deus, ele cresceu tanto, ele tá falando e vai estar andando daqui um tempo. — Aceno com a cabeça, concordando.

Fiquei tanto tempo ensinando Märkyg, e esqueci de me preparar para o momento, em que o pequeno de olhos grandes realmente me chamasse. Abraço Yve com força e ela fica encolhida contra mim, paralisada e com os olhos marejados.

— Teve um tempo que eu pensava que nem chegaria a poder ver ele, e agora… — Murmura numa voz embargada, os olhos injetados como se estivesse se lembrando de algo.

Algo úmido rola por minha bochecha e sei bem que não é suor, não quando meus olhos queimam e minha garganta está fechada. Pela maneira com que Yve falou, tenho que me controlar para não perguntar o que quer dizer com isso.

Sei que isso provavelmente fará parte de alguma história, envolvendo aquele maldito.

Um gritinho alegre me faz voltar a realidade, fungo de um jeito discreto, enxugo a lágrima com meu capuz e viro meu rosto para encarar Märkyg, que engatinha e ri, enquanto persegue Morpheu, que por sua vez balança o rabo de um jeito animado e pula.

Porra, eu morreria por esse menino.

Daphne está no encalço de Märkyg, Ghost e Soap estão conversando em voz baixa, alheios a tudo e até me parece que o homem de moicano, está um pouco tenso.

𝙳𝙴𝚂𝙴𝚁𝚃 𝚁𝙾𝚂𝙴.Onde histórias criam vida. Descubra agora