𝐍𝐚𝐧𝐚𝐦𝐢 𝐊𝐞𝐧𝐭𝐨

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- Uma estrela cadente! Faça um desejo, Nanami... - Disse olhando para o céu estrelado acima de nós.

Kento Nanami e eu nos conhecemos há poucas semanas. Vim para uma viagem de negócios em Tóquio, acabamos nos esbarrando algumas vezes, conversamos, tomamos cafés e transamos. Transamos mais do que conservamos eu acho. E, amanhã, antes do meio-dia, vou estar em um avião voltando para a Europa.

- Já desejei. - Respondeu fazendo um afago no meu cabelo.

Me deitei por cima do corpo do loiro que sorri levando a mão para o meu rosto, seus olhos esverdeados e gentis ziguezagueava entre minha boca e meus olhos. Nossos rostos estavam a centímetros de distância, podia sentir seu hálito fresco de menta fresca.

- O que desejou? - Perguntei apoiando minha cabeça em seu peito, inalando o perfume único dele.

- Que você fique. Venha morar comigo, S/N. É tudo que peço. - A confissão era... inesperada.

Não segurei o riso e me sentei em seu colo, amarrando meu cabelo em um coque para disfarçar a minha busca de palavras para uma resposta que partiria mais o meu coração que o dele. Sorri em seguida de um suspiro. Senti o corpo dele enrijecer embaixo de mim e ele se sentou, apoiado pelas mãos atrás do corpo, com os olhos sérios e incertos, a boca cerrada e uma ruga no meio da testa.

- É muito difícil a resposta que você vai me dar?

- Todas as respostas são difíceis, Kento... - Falei colocando minhas mãos em seu rosto e afastando as mechas loiras rebeldes após uma rodada de sexo dentro do carro e horas deitados no gramado do parque. - Eu não posso ficar.

- Por que? Eu posso te dar tudo aqui... posso te conseguir um emprego melhor remunerado, te dar uma vida confortável, o dinheiro que quiser para gastar em vestidos, cachorros, seja lá o que você gostar! - As argumentações fracas me pesavam forte no peito e forcei um sorriso para me encorajar.

- Eu não posso.

- Por que?! - Questionou segurando meus braços com força e me forcei a olhar outra coisa que não fosse as delineadas sobrancelhas franzidas e as orbes esverdeadas.

- Tente você ir para Londres, Kento! Abandone tudo que tens aqui! Sua família, seus amigos, seu emprego! Vá comigo para Inglaterra e comece do zero! - Gritei me levantando.

Os pés no gramado verde já não me pareciam tão atrativos e macios quanto antes, eram mais como espinhos que me forçavam a caminhar para longe.

- Eu... eu não poderia... - Sussurrou baixinho.

- Eu também não posso deixar tudo, Kento. Entenda meu lado. - Minha voz se embargava conforme sentia o nosso fim cada vez mais próximo do que eu temia. - Eu quero ficar, mas tenho a minha vida em Londres. Uma casa com hipoteca, um emprego maravilhoso e que eu amo, minha família toda está lá.

Os olhos dele lacrimejavam indicando o coração partido ao me segurar como se aquilo fosse impedir o avião de voar amanhã.

- Eu vou para Londres então, me de apenas alguns dias.

- Não seja tolo, Kento, o que você está sugerindo é apenas seus sentimentos tomando conta, você tem que ser racional...

- Não consigo ser racional com você, S/N. Eu te quero na minha vida cem por cento, te quero por inteiro e se para isso eu devo pegar um avião, voar para Londres, eu faço! Porque eu te amo, S/N, e não vai ser uma viagem de avião, mudança de emprego e todos os outros porém não vão mudar o que eu sinto. 

- Não diga tolices.

Caminhei até o carro sentindo uma tristeza me encher o peito junto das lágrimas que escorriam dos meus olhos. Me sentei no banco do passageiro, tentei inutilmente enxugar as lágrimas que caíam.

Nanami não disse nenhuma palavra enquanto me levava de volta ao hotel. Calcei meu tênis branco com marcas sutis de terra e grama na maior tentativa de esquivar minha mente concomitantemente de sujar os bancos de couro.

O carro estava gelado mesmo com o aquecedor ligado. Engoli um seco com a pressão que tinha dentro do carro. É a primeira vez que fico ansiosa para ir embora.

Quando o carro estacionou na frente do hotel, me obriguei a respirar fundo. Eu quero dizer algumas palavras, mas as palavras estavam aprisionadas na minha garganta.

Tomei coragem em olhar para o loiro e meu coração se partiu ao ver os olhos focados na estrada, olhos embargados, a mão apertava o volante com força ao ponto de branquear as juntas, a mandíbula travada evidenciando ainda mais o masculinidade do seu rosto.

- Eu...

- Não diga nada, S/N, se não eu faço você perder seu voo amanhã. - Disse levando as mãos ao rosto, esfregando as têmporas.

Suspirei abrindo a porta, saindo e deixando uma parte grande do meu coração no carro.

Dentro do quarto, eu desabei vendo as flores que recebi um dia antes. As rosas vermelhas começavam a murchar junto com a minha alegria das últimas semanas.

O dia seguinte foi lento, mais de onze horas passado dentro de um avião para ser recebida por abraço quente do meu pai que não aceitou qualquer desculpa para me levar em um jantar no nosso restaurante favorito. A comida japonesa deixou um gosto triste em minha boca junto do vinho tinto que revirou meu corpo com arrependimento.

Meu apartamento nunca pareceu tão desconfortável, o banho de água gelada não aliviou a mente, as cobertas quentes não me aqueciam da mesma forma que antes.

Uma semana se passou e eu não conseguia aproveitar o momento sem pensar que ele devia estar ali, de olhar para o lado e esperar por uma fala irônica, uma risada baixa ou apenas um olhar companheiro.

Hoje é sexta-feira e eu terminei mais um dia depois de muito estresse. Meu carro não estava muito longe, mas ainda tive que caminhar um pouco até chegar ao estacionamento pago.

O trovão indicando a tempestade que vinha me fez olhar para cima e encara os olhos afiados do homem que roubou meu coração em apenas algumas semanas, fez minha vida parecer tão triste e sem cor após uma noite mal resolvida.

As rosas vermelhas se destacavam no sobretudo escuro e ele sorriu. Aquele mesmo sorriso que provocou a perda da minha independência, das falas "eu não quero um homem na minha vida". 

Eu quero esse homem na minha vida.

- Eu estava com saudades. - Admitiu vindo até mim.

Não controlei meu próprios desejos e o abracei.

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