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"Mãe, eu sei que é você quem tá lendo e que essa carta está nas suas mãos. Sei que você não é Amélia Grecco, sei que você não gosta de estar nesse posto com esse homem que você alega amar para os jornais. Você não quer estar aí, mas você também não quer e não pode voltar. O Luigi veio aqui na Clínica Terapeuta que a mansão se tornou e me mostrou sua foto na capa do jornal, com seu marido e o seu filho. O meu irmão, Daniel, que também já foi meu sobrinho e meu outro irmão. Sempre foi ele pra você, né? Mas não é sobre isso o intuito dessa carta.

Quando o Luigi chegou com esse jornal e eu vi que você tava viva meu coração se encheu de alegria, apesar da culpa por te manter distante. No mesmo instante ele me perguntou se eu quisesse voltar ao passado, o que eu faria? E isso me fez pensar muito, pensar em você, no papai e na nossa família. Mas principalmente em você e no seu passado. A mãe que eu tive nunca vai ser a mãe que você teve, muito menos o seu pai, você não foi a princesa dele como eu era a do meu pai e ele gostava de espalhar isso pra todo mundo.

Então, se eu nascesse novo eu queria ser a mãe que você não teve. Te daria todos os beijos que você queria mas nunca recebeu, leria todas as histórias que te faltaram quando criança, a noite te daria todo meu amor e te diria o quanto eu te amo! Que a vida é boa nos braços de quem te quer bem. Te compraria algodão doce e te cantaria canções enquanto jogamos algum joguinho fútil largadas
no chão. Pentearia seus cabelos todas as manhãs para ir ao colégio, e não teria que chorar tanto, não cresceria com tanta dor e seria uma menina feliz.

Eu queria tanto você de volta, sentir o  seu abraço e suas palavras de amor. Ser a sua princesinha enquanto você acariciava meus cabelos, ou quando você me pegava no colo e me dizia inúmeras vezes que me amava, que eu não sairia do seus braços e você nunca iria pra longe.

Mas você tá longe, em um lugar que eu nunca fui com gente que eu não conheço, com um irmão que eu não vi nascer e não tenho laço algum. Eu não te tenho aqui mãe, eu não tenho mais ninguém.

E eu sei que agora, você está chorando enquanto você lê isso. Então por favor, abre a porta."

Petra nunca foi melancólica, nunca escreveu cartas e nunca conseguiu se expressar com tanta facilidade, aquela carta expressava amor. Um amor quebrado e um amor cheio de rachaduras. Do outro lado do sofá, Antônio lia sua carta com os olhos chorosos e a mão trêmula.

"Oi pai.

Eu nem sei porque tô escrevendo essa carta afinal você nunca vai ler, então entregar ela junto com a da mamãe parece correto. Eu pensei muito antes de escrever qualquer palavra nessa folha com essa caneta quase falhando, ou talvez seja minha vista embargada por eu não conseguir controlar minhas lágrimas.

Você é minha maior saudade, eu não sei ainda acordar e não receber seu beijo na testa de bom dia, não sei agir diante das reuniões do grupo sem seu olhar me passando confiança. Eu queria muito que você visse a agrônoma que eu me tornei, a profissão que eu escolhi por você. Mas você sequer se deu a chance de pensar nisso, já que pra você era muito mais plausível pensar em um jeito de eliminar a Aline.

Depois que ela chegou, seus olhos se desviaram da nossa família. Você se transformou em outro homem, será que você entende isso? Será que você tem noção da sua ausência?

Quando você me abraçou, dizendo que me amava e eu senti suas lágrimas molhando meu ombro e me senti amada pela primeira vez em tantos meses. Eu me senti segura com você,
pai. Você sempre foi o herói dos meus sonhos e de repente virou o vilão dos meus pesadelos, eu te vi virar outro homem, um homem que eu não conhecia.

Na carta da mamãe eu citei em voltar ao passado e eu faria exatamente a mesma coisa com você. Te daria todo o amor do mundo e te faria um menino feliz, diria que você é forte e suficiente para que assim você pudesse crescer e se tornar um homem menos amargo, um homem mais amável.

Eu te amo muito, e ter sido sua princesinha foi o maior prazer da minha vida, a maior saudade que eu sinto e meus pensamentos sempre estarão em você, pai.

Eu queria que você voltasse, porque se você estivesse aqui, a mamãe também estaria. E assim poderíamos ser uma família feliz, ou aparentar ser.

Eu te amo, sinto sua falta.

Com muita saudade, Petrie."

Irene levantou-se e seguiu em direção a porta, relendo a última linha em uma repetição exagerada. Passou a chave e girou a maçaneta, quase caindo pra trás quando sua filha mais nova encarava toda a situação emocionada. Não pensou, puxou-a para um abraço e ambas se permitiram desabar em um choro de saudade. Saiu do abraço e segurou o rosto dela nas mãos, estava linda, parecia tão feliz que isso a acalmava.

Petra passou os olhos pela mãe e não a reconheceu de imediato, realmente parecia outra mulher, mas quando ela sorriu e seus olhos se iluminaram, teve a certeza que estava diante da mulher que ela mais amou durante toda a vida – mesmo que agora ambas dividissem a atenção.

Rodeou o ambiente e é seu corpo pareceu falhar ao encarar a figura tão conhecida na poltrona e se assustar cada vez que ele se aproximava, cada vez que ele chegava perto ela sentia o corpo falhar cada vez mais.

Seu pai estava vivo e a abraçava extremamente forte.

Como se os seus desejos de criança estivessem sendo realizados com seus pais a abraçando forte e lhe transparecendo segurança. Mas seu corpo falhou quando sentiu tudo ao seu redor se tornar um completo breu.

Antônio não soube exatamente o que fazer quando Petra caiu desmaiada em seus braços.

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⏰ Last updated: Feb 24 ⏰

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com muita saudade, petra. Where stories live. Discover now