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Embora Vegas tenha afirmado não uma, mas várias vezes, que não abandonaria Pete sob quaisquer circunstâncias, conseguia notar o pequeno traço que misturava dúvida e receio cruzando seu olhar. Não o culpava. Sua atitude no passado era como uma mancha difícil de ser apagada. Por isso, se empenhou ao máximo nas duas semanas que sucederam à conversa com o mais velho, sobre morarem juntos, na procura por casas ao redor da área conhecida. Fez uma lista de imóveis um tanto exagerada e junto ao Saegthan selecionou quais iriam visitar.

Eles haviam tirado aquela quarta-feira para fazer um tour pelas casas. Com Mikaela ainda em recuperação, Pete retornando ao trabalho, Venice fazendo acompanhamento médico e Vegas se estabelecendo definitivamente em Seattle, a rotina estava meio caótica e em processo de adaptação. O Theerapanyakul amava cuidar de Venice e mimar, então não era nenhum sacrifício o acompanhar na fonoaudióloga quando o Saegthan não podia, assim como amava parar todas as tardes para contar histórias que, provavelmente, o garoto nunca lembraria, mas que faziam com que os dois criassem um vínculo ainda mais forte.

Mas, nesse momento, tudo que Vegas desejava era encontrar um lugar confortável e espaçoso o mais rápido, assim, conseguiria ajudar Pete um pouco mais. O problema era que eles estavam indo para a quinta casa e até a anterior o Saegthan não havia demostrado qualquer interesse. Mesmo que ele fosse educado e tivesse ofertado sorrisos doces aos corretores, Vegas o conhecia suficientemente bem para saber que não passava disso: educação.

Já era quase fim da tarde e aquela era última visita do dia. Caso não fosse do interesse do Saegthan, teriam de reconsiderar alguns locais na lista do Theerapanyakul e também esperar alguns dias até Pete ter outra folga do trabalho e fazerem o mesmo processo. Apenas que Vegas desejava imensamente que isso não fosse necessário. Ele só queria poder curtir sua família. Poxa! Isso era pedir muito?

Ele parou o carro em frente ao último imóvel do dia, olhou pelo retrovisor o pequeno Saegthan sentado em sua cadeira de elevação, recém comprada, brincando com uma pelúcia da sua animação favorita — Píper — que Vegas havia praticamente atravessado a cidade para comprar e que agora havia se tornado seu brinquedo favorito. Ao seu lado, no banco da frente,  Pete encarava a entrada da casa com atenção, soltando um longo suspiro antes de lhe encarar com um sorriso doce. O Theerapanyakul retribuiu de maneira automática, constatando mais uma vez que faria qualquer coisa para que aqueles dois fossem felizes e se mantivessem protegidos. Sua mão foi de encontro a de Pete, enviando boas vibrações de maneira silenciosa, antes de destravar o carro e sair indo em direção à porta traseira para retirar Venice, que ao seu ver, parecia tão exausto quanto eles.

Dessa vez era um corretor bem jovem que os esperava e Vegas sentiu certo incômodo pela maneira que o homem fitava Pete. Existia cobiça em seus olhos e Vegas sentiu que poderia arrancá-los a qualquer momento e colocar de amostra para outros engraçadinhos, se ele não se colocasse em seu devido lugar. No entanto, não foi preciso. Venice se mostrou tão ou mais ciumento que ele, e teve de conter o riso quando o garotinho se jogou para frente e se agarrou ao pescoço de Pete, oferecendo ao estranho uma careta de desgosto. Pete apenas acariciou suas costas e beijou seu rosto, ignorando o homem ao seu lado. Vegas sorriu internamente com a ação do mais velho.

— Vegas Theerapanyakul, o contratante e futuro esposo dele.

O olhar felino e territorialista que ele deu ao homem foi o suficiente para esse retesar os ombros, lógico que o aperto de mão extremamente forte dado pelo Theerapanyakul também contribuiu para isso. Vegas sorriu satisfeito quando o rapaz balançou a cabeça quase que de maneira frenética e começou o caminho para o interior da casa, sendo seguido pelo casal e a criança ciumenta. Enquanto mostrava o lugar, o corretor se manteve a dada distância de Pete, sem ousar o encarar e todas as suas explicações eram direcionadas a Vegas em um tom tão profissional que parecia robótico e até monótono. Se o Saegthan não estivesse tão fascinado pelo ambiente, teria conseguido notar a tensão instalada entre aqueles dois. Porém, os quatro quartos, a garagem espaçosa, o pequeno jardim e o gazebo charmoso retinham toda sua atenção. Quando o corretor deu espaço para os dois olharem o lugar com mais calma, Vegas pode constatar o brilho volumoso nos olhos de Pete que se alongavam até seus lábios rosados e esticados em puro êxtase. Ele teve a certeza que aquele seria o novo lar deles e a pergunta seguinte foi apenas para confirmar.

— Você gostou? 

Pete olhou para Venice que corria de um lado para o outro em uma felicidade extravagante, no espaço aberto que havia nos fundos da casa, e alargou ainda mais seu sorriso, deixando seus olhos tão fechados quanto era possível. Vegas amou vê-lo daquela maneira. Principalmente porque era a primeira vez após semanas e com certeza não permitiria que fosse a última.

— Amei Vegas! Acho que propositalmente, você guardou o melhor para o final. — fez biquinho. Sua maneira fofa de pedir carinho.

— Esse ainda não é o nosso final, meu amor, é apenas o começo. — Carinhosamente, Vegas o puxa para perto e beija sua bochecha e Venice corre na direção dos dois se agarrando a uma perna de cada, se mostrando tão territorialista quanto Vegas.

— Colo. Colo. — seus bracinhos curtos se esticam na direção dos dois. — Nice quer colo dos papais. — Vegas sorrir antes de se abaixar e pegar o garotinho nos braços, deixando um beijo longo em seu rosto, enquanto Pete faz o mesmo, sem deixar de sorrir lindamente em sua direção.

O Theerapanyakul sente uma onda de felicidade aumentar a cada segundo em que seu cérebro tenta compreender o sentido daquela pequena, mas significativa, frase. Seu coração prestes a explodir, tamanha a sensação de completude que o invade. Aquele era o lugar que desejava permanecer por toda sua existência. E, embora, não fosse a primeira vez que o garotinho demonstrasse sua afeição, era a primeira que ele conseguia expressar em palavras. Para ele, ser chamado de pai o deixava nas alturas, como se um dever tivesse sendo cumprido. Nem sabia ao certo explicar a sensação que percorria suas veias e retumbavam em seu coração, apenas se deixava inundar por ela.

Era ciente do fato de Pete ser seu lar. Havia entendido isso há muito tempo, mesmo antes de cometer a burrada de afastá-lo. Agora, Venice também fazia parte dessa equação e juntos eles construiriam um império regado de amor e felicidade. Uma extensão do que eles de fato eram: uma família.

Uma família unida pelo destino.

Fim :-*

Destiny↬VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora