CAP 36 - Um poço bem fundo

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15 dias depois 

MAX NARRANDO*

Sabe o fundo do poço? Eu achei que eu o conhecia , mas , eu estava enganada porque em toda a minha vida essa era a primeira vez em que eu havia de fato chegado nele , diante da escuridão opressiva do fundo do poço, percebi que não havia luz no fim do meu túnel e cada suspiro era um esforço para não sucumbir ao desespero, as paredes úmidas pareciam se fechar ao meu redor, enquanto o eco dos meus pensamentos angustiados preenchiam o vazio e era como se o tempo tivesse parado, deixando-me cativa da minha própria aflição. A cada momento que passava, a sensação de sufocamento se intensificava, como se o próprio ar se transformasse em uma prisão, cada pensamento negativo se multiplicava, alimentando a escuridão que me envolvia, a esperança, antes uma chama tênue, agora parecia vacilar diante da magnitude da minha tristeza.

Cada batida do meu coração ecoava como um tambor ensurdecedor, marcando o ritmo da minha agonia crescente, eu me sentia perdida em um labirinto de angústia, onde cada passo em falso parecia me afundar ainda mais nas trevas , o medo se transformava em uma sombra que me envolvia por completo, obscurecendo qualquer vislumbre de esperança , a  solidão era minha única companheira, sussurrando palavras de desalento em meus ouvidos.

Sabe quando você tem certeza que ama alguém? Eu tinha certeza que eu amava a Yas e mesmo tendo mais de vinte dias que ela foi embora o meu peito ainda apertava quando eu deslizava meus dedos pela tela do Instagram dela , suas fotos me deixavam ainda mais pior , e eu nem se quer me lembro o quanto eu já havia ingerido de álcool dentro desse último mês , era muito .

O meu pai já estava a ponto de me internar , o meu melhor amigo assim como seu pai já haviam feito de tudo pra que eu reagisse e saísse de dentro desse quarto e era raro as vezes em que acontecia possivelmente ja estava ate reprovada em algumas matérias da faculdade por falta ,normalmente era só quando eu ia até a porta receber mais alguma bebida que eu havia comprado que eu deixava aquele espaço .

Mais hoje foi um dia diferente, hoje ao entrar no perfil dela, a primeira foto me pegou de surpresa, ela estava com uma garota , um pouco mais velha e grávida,  estavam se beijando e aquilo me apertava o peito , a lágrima desceu no meu rosto e aquilo doeu mais do que já estava doendo .

Ao deslizar logo notei que a foto estava marcada e então vi o nome "Geórgia Ranvis", eu pisquei por um segundo e eu vi uma segunda publicação onde elas estavam abraçadas com a legenda "Encontrei o amor na Itália" .

Aquelas palavras escritas ali  perfuraram meu coração como facas afiadas, dilacerando ainda mais a ferida já aberta, o choque e a dor se misturavam dentro de mim, formando um turbilhão de emoções indescritíveis. Eu não conseguia entender como ela poderia ter seguido em frente tão rapidamente, encontrando o amor em outro lugar enquanto eu ainda me afogava na solidão e na tristeza.
—Como pôde fazer isso comigo sua cretina !? - resmungava alto em meio ao choro .

A imagem daquele abraço, daquela felicidade compartilhada, parecia um golpe final, uma confirmação cruel de que eu não era mais parte do seu mundo, as lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto, uma mistura de tristeza, raiva e desamparo.

Enquanto eu encarava aquelas fotos, uma parte de mim desejava gritar, implorar por uma explicação, por um motivo para tamanha dor, mas outra parte, mais resignada e resignada, simplesmente se encolhia ainda mais dentro de si mesma, aceitando o fato de que talvez nunca entenderia completamente o que havia acontecido entre nós.

E assim, com o coração em frangalhos e a alma dilacerada, eu me vi afundando ainda mais no abismo da minha própria desolação e quanto mais eu bebia parecia me dar apenas algum conforto.

A dor parecia insuportável, como se cada respiração fosse um esforço monumental,  eu me sentia perdida em um mar de emoções turbulentas, lutando para encontrar um porto seguro em meio à tempestade. A imagem de Yas nos braços de outra pessoa atormentava minha mente, corroendo qualquer resquício de esperança e lucidez que ainda pudesse restar.

Era como se um pedaço fundamental do meu ser tivesse sido arrancado à força, deixando-me desprovido de propósito ou significado, o amor que uma vez nutri, agora se transformava em um fardo pesado demais para suportar.

Eu me perguntava onde havia errado, o que poderia ter feito de diferente para evitar essa desfeita , mas , as respostas pareciam escapar das minhas mãos, fugindo como areia entre os dedos, e no fundo do meu desespero, uma voz sussurrava que era minha culpa , mesmo eu não entendendo oque .

Mas mesmo enquanto essa voz ecoava em minha mente, eu sabia que deixar para trás o que tínhamos significava abrir mão de uma parte de mim mesma , era uma escolha impossível, uma encruzilhada entre a dor da lembrança e o vazio do esquecimento e naquele momento eu só queria ela de volta , a minha garota de volta ... era tudo que eu queria .

Estava sentada no chão do meu quarto , com os cabelos desengrenhados , estava de fato na pior .

E assim, enquanto as lágrimas continuavam a cair e a noite se arrastava implacável, eu me encontrava presa em um ciclo interminável de lágrimas e whisky .

No silêncio sufocante do meu quarto, as horas se arrastavam como sombras escuras, cada uma mais dolorosa que a anterior, eu me sentia como um náufrago em um mar tempestuoso , sem bússola, sem rumo  e cada pensamento  era um redemoinho de angústia me fazendo girar em torno dos meus próprios medos , do medo se ter sido falha , de não ter sido boa o suficiente e principalmente a dor de ser substituída com tamanha facilidade.

Minha cabeça já pesava bastante e o sim da voz de Julian chamando pelo meu nome era distante mesmo eu vendo seu vulto em pé a minha frente, o som da voz dele ecoava como um sussurro distante em meio ao turbilhão de pensamentos que consumia minha mente, minha visão embaçada tentava focar em seu rosto mais era difícil.

—Max... - sua voz soava como um eco distante, como se estivesse tentando atravessar um abismo para alcançar minha alma , ele se ajoelhou ao meu lado, colocando uma mão reconfortante em meu ombro, mas eu mal conseguia sentir seu toque. —Max, você precisa reagir , sair disso.. você não está sozinha, nós estamos aqui por você.

Com muito esforço , levantei os olhos para encontrar os dele, e era doloroso ver o meu meu melhor amigo me olhar com pena .

Inusitado (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora