Difícil escolha: sentimentos em vão

Um novo começo

"E eu quero chorar, eu quero aprender a amar, mas todas as minhas lágrimas foram gastas em outro amor" — Another love by Tom Odell.

𝗦𝗲𝗴𝘂𝗻𝗱𝗮-𝗳𝗲𝗶𝗿𝗮, 𝟮𝟮 𝗱𝗲 𝗝𝗮𝗻𝗲𝗶𝗿𝗼.

𝐄́ difícil escolher algo que você não sabe ainda ao certo se é bom para você. Você se sente incapaz no momento, não entende como funciona, em como buscar sem poder experimentar, pois tem medo de dar errado de novo e se perder mais uma vez.

Não entendo o porquê da vida pregar uma peça dessas em quem teve tanto cuidado para não se machucar. Aconteceu isso com elas, em minha árvore genealógica. Não sei qual foi a primeira, mas atingiu minha tataravó, minha bisavó, minha avó e por fim a minha mãe, todas passaram por decepções amorosas. Eu queria entender se isso é algum tipo de maldição. Porque nós mulheres sofremos tanto enquanto o cara corre atrás de outros corpos para se satisfazer e substituir a sua ausência? Isso é tão cruel.

Deveria existir algum tipo de justiça. Por que o Karma em quem eu tanto acreditava, não está funcionando. Ele me fez um mal gigantesco. Eu sofri por todos esses meses. E agora, vejamos onde ele está. Com uma namorada nova e o coração totalmente intacto. Engraçado que a sua atual é mesma que eu cismava quando ainda namorávamos. E para a minha surpresa, ela é sua vizinha. Queria entender o porquê das pessoas que nos fazem mal vivem bem, felizes e ainda esbanjam isso nas redes sociais. Eu queria um manual, de como não me meter em problemas mentais e emocionais. Isso sim, seria uma ótima utilidade pública, se não uma das melhores.

Tento me manter otimista, mesmo sabendo que no fundo, toda aquela manipulação, fez de fato efeito, me fazendo sentir que não mereço e conseguirei achar alguém melhor. Contudo, está sendo difícil escolher voltar à ativa, seguir em frente e encontrar um novo amor. Pois me sinto insuficiente e foi você que me deixou assim. Entretanto a culpa foi toda minha, por ter sido tão boba. Acreditei num canalha, só por que o mesmo demonstrou o mínimo e que para mim já era o bastante para suportar o nosso amor.

Até então, desejo que isto mude, que tais pensamentos se dissolvam quando eu encontrar uma razão para acreditar no amor novamente. Não quero me precipitar, mas tem um cara que pode tornar isso possível. Ele é jovem e bem bonito. Algo em mim despertou, quando seus olhos se encontraram com os meus. Houve um slowmotion no momento em que ele adentrou o estabelecimento. Parecia tudo muito fantasioso, como se ele pudesse entender o efeito que trouxe para aquele local e em mim.

Desta vez não posso ser inocente e frágil, não devo de forma alguma cair no seu papinho. Guardarei a única coisa que me restou disso tudo, a sanidade. E peço à Deus, que desta vez seja diferente. Não aguentaria passar por nada que me aconteceu ano passado novamente.

Esse novo alguém que avistei é do meu ambiente de trabalho, onde infelizmente o meu ex namorado também está, porém oque nos separa são os horários. Eu ainda não sei seu nome, pois ele acabou de ser contratado. Conseguiu o emprego de jovem aprendiz no mesmo setor que o meu (uma coincidência, eu diria). Somos recepcionistas de uma Clínica médica bem conhecida na cidade. Meu amigo João, que tá sempre comigo, foi o primeiro a comentar sobre o menino. Ele é um baita fofoqueiro, mas tem um bom coração, foi isso que nos tornou amigos.

— Esse moleque deve ser mais novo que eu. Não deve saber nem como mexer no sistema da clínica para atender os pacientes. - Diz João todo esnobe ao se sentar na poltrona da recepção, mantendo sua atenção no rapaz.

Foco em seus passos e dou uma breve risada. João sempre se sentiu superior aos outros colegas de trabalho por estar atuando nesta clínica desde que a mesma abriu. Faz pelo menos uns 2 anos.

— Você não tem vergonha de dizer isso não? Vai que ele é bom em computação. Não é atoa que foi contratado. - Respondo a altura e o vejo aborrecer.

— Tá defendendo o cara? Nem o conhece. Isso tá me parecendo outra coisa. - Questiona com sarcasmo enquanto cruza os braços e me encara com um sorriso malicioso.

— Deixa de ser bobo, eu só dei minha opinião. E acho melhor você voltar a trabalhar antes que o supervisor venha te cobrar. - Dou um sermão ao me ajeitar na cadeira da recepção, justamente onde fico a maior parte do tempo, atendendo os clientes pelo WhatsApp da empresa e em loja física.

— Você tá chata. Faz tempo que não fofoca direito comigo. Que que foi em? Tá mal de novo com aquilo? Achei que já tivesse esquecido. - Conclui sua afirmativa ao se levantar da poltrona todo desengonçado, indo em minha direção para se sentar ao lado de minha cabine. Tendo feito a pergunta, mantém a atenção de volta para mim com um olhar compreensivo e preocupado.

João sabia oque eu tinha passado. Eu não contei tudo, mas uma grande parcela ele tinha noção. Desde o dia em que o confiei em lhe contar, nunca mais deixou de preocupar comigo. Sempre perguntava como eu estava em relação a tudo. Quando meu ex passava pela porta da frente para ir embora, só faltava João Inácio montar uma muralha da China para me proteger e esconder. Eu tenho um grande amigo, podia contar com ele pra exatamente tudo. Menos faltar o trabalho, ele nunca me encobre nisso. Entretanto, não me importo. Ele faz o certo pelo certo. Por isso sabe que tudo que me aconteceu, tendo em mente que a manipulação que o meu ex fez nele sobre mim era perceptível depois de tudo que lhe contei. E que bom que acreditou em mim e está do meu lado. É bom ter um amigo que possa nos escutar quantas vezes for necessário, independente do mesmo assuntou ou não. Recomendo um João como o meu a todas.

— Não é nada amigo, desta vez eu to bem. Eu só to com tpm. Bem que a gente podia sair daqui e comer uma pizza com o pessoal. Queria uma doce. - Dou uma sugestão assim que o respondo com total sinceridade. Eu estava realmente com fome e faltava apenas 2 horas para acabar nosso expediente.

— Tem razão. Na hora do intervalo, podemos convidar a Clarice, Samuel, o Felipe e a Sofia. E quem sabe.. convidar os dois jovens aprendiz novos. Oque acha? - Faz a pergunta intencional com um carinha diabólica. Sem filtro algum.

— Tinha que ser você mesmo. É a sua cara chamar eles. Mas tá, a gente vê isso na hora. - Dou um riso sincero ao perceber o que ele queria. Até parece que eu tenho que me preocupar com isso agora. Não tenho tempo. Agora não sinto vontade de conhecer gente nova. Apesar que não sou eu que decido isso. E tá aí o motivo pelo qual eu preciso me guardar mais. Me valorizar.