Rotina

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O palácio encontrava-se cheio. Barulhos altos de conversas e música clássica. Os corredores ecoavam as risadas dos mais ricos do país, enquanto eu e uma pequena confusão de cachos ruivos nos esgueirávamos pelos cantos da cozinha.

A garota se levantava na ponta dos pés, perto da panela borbulhante; os dedinhos seguravam a borda quente, e um grito tão estridente quanto se pode imaginar encheu o lugar. A panela virou, manchando o chão e a garota. Eu me apressava para ajudá-la enquanto a mesma gritava em agonia...

Um xingamento ecooa na sala enquanto minha cabeca gira em tontura. Sinto leves tapinha na minha cara e tento focar na visão a minha frente.

  "De novo, Mike!"

Sua mão brilhava em raios com tons de roxo enquanto ele se aproximava novamente.
"E pelo amor, foco!"

Oh! Nem fodendo! Deu cara. Eu não aguento mais isso, preciso de um descanso"

Tento me levantar, tropeçando em meus pés como um bêbado. Uma maca sai magicamente das paredes brancas acolchoadas.

"Três horas, Jasper. Tres horas."

Eu me deito e encaro o teto branco; a sala toda parece um quarto de um hospicio, porém fora magicamente projetado para funcionar como uma ala médica, por isso macas ou equipamentos médicos podem ser 'invocados'.


"É serio? Porra..."

Ele anda em círculos com um semblante irritado.
"Cara, ninguém mandou você ser a merda de um doente, tem como você ajudar?"


"Ninguém mandou sua irmã sumir. Mas adivinha? Ela sumiu!"

Um silêncio seguido pela porta se batendo.

Essa semana foi péssima e mal lembro de como ela foi. Frustrante; Definitavemente a palavra que eu usaria para descrever tudo que vem acontecendo.

A garota sumiu, eu vi para onde ela foi e com quem, mas minha mente simplesmente decidiu que agora não é o melhor momento para se lembrar disso. E agora, tenho que lidar com o prazer que é meu melhor amigo gritar sobre como ele está preocupado...

  Tudo isso é cansativo, minha cabeca doi enquanto me levanto e me levo ate a porta; Todo o instituto é feito de madeira escura, exceto o interior de certas salas. O corredor nao é exceção. Ele é iluminado por uma luz aconchegante e amarelada e decorado com espelhos ao seu redor, da mesma forma que o elevador.

Sétimo andar do subsolo, segunda porta a esquerda. Meu apartamento é mal iluminado, cheira a vodka e eucalipto; e com certeza poeira. A sala de entrada passa despercebida, a única coisa que consigo focar é a maciez da cama e os cobertores; quentes de mais, porém deixo meu corpo suar enquanto adormeço em minutos.

Um borrão de cabelos loiros e pele marrom sendo puxado. Gritos e pedidos de socorro fazem meus tímpanos arderem de dor. Tudo parece errado, falso. Tudo some quando encaro minhas mãos cobertas de sangue.

A luz faz meus olhos arderem no momento que acordo. Me levanto e caminho a uma porta conjunta ao quarto bagunçado; as paredes azuladas com anjos decorativos séria algo agradável se as paredes nao estivessem mofadas e o cheiro de sangue não me intoxicasse. A pia tem lâminas jogadas e sangue manchando os arredores, mas eu relevo isso e apenas jogo alguma água em meu rosto.

Meu reflexo parece errado.

Deixo minha roupas cairem pelo chão e ligo o chuveiro que tem na banheira, coberta demais de poeira para eu usada como deveria. O tempo corre enquanto a água encorre em meu corpo suado pela noite turbulenta. Sinto minha mente desligar por alguns instantes, esquecer tudo isso, apenas para sentir meus pulsos e coxas arderem por entrarem em contato com a água quente. Vejo novamente o sangue em minhas mãos, gritos ecoam cada vez mais longe, gritos quase infantis. Consigo ouvir ela implorando para parar. Me implorando.

A lâmina que estava na pia agora faz minha banheira ter uma grande mancha de sangue em meio a água empoeirada. Minha lagrimas se misturam com a água que molha meu corpo.

Fecho a torneira e saio do banheiro, ignorando o rastro de água ensanguentada que deixo. Apenas jogo uma camisa amarrotada e uma calca qualquer em meu corpo e pego uma garrafa que se encontrava na escrivaninha zoneada. 'Jack Daniel's'. Deixo minha garganta ardem até a porta de entrada, jogando a garrafa vazia no chão e saindo de casa.

Novamente: elevador, segundo andar, ala médica. Desta vez tem algumas pessoas.


"Chefe!"

Uma garota baixa, não mais do que um metro e meio, de pele escura e olhos esverdeados se aproxima. Nao a reconheço.
"

Mais uma equipe foi para o hotel, não acabou muito bem. 5 feridos e um morto. Uma garotinha, nem se quer era da ordem para estava indefesa então tentamos tira-la do lugar."

Isso me pertuba, mas apenas passo reto e vou ate os agentes que estavam deitados. Cortes profundos de facas e envenenamento, como o padrão.

Meu padrão.

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⏰ Last updated: Mar 02 ⏰

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