Marcas do Passado | Adaptação MALILA

CAPÍTULO UNO

Maraisa  abriu as cortinas da janela do quarto e sorriu ao contemplar a bela vista da cidade de Roma. Amarrou o cinto de seu roupão e fechou os olhos, respirando fundo. Aquela cidade era belíssima, a sua favorita. O sonho de conhecer Roma já era antigo, e ficou muito feliz por poder tornar aquele momento realidade. Finalmente estava ali, após um longo período de espera.

— Acordou cedo, amor. Maraisa  olhou para a cama e viu Fernando, ainda enrolado nos lençóis, mas com um sorriso, o sorriso pelo qual se apaixonou há três anos. Não havia pensado em mais ninguém para fazer aquela viagem ao seu lado. Na verdade, não queria a companhia de outra pessoa.
— Claro, temos apenas mais dois dias. Disse, se aproximando da cama.
– Vamos, quero conhecer Óstia.
— Ouvi dizer que tem belas praias.
— E sítios arqueológicos. Fernando sorriu e puxou a noiva para um abraço. Colocou o rosto em seu pescoço, sentindo o cheiro de sabonete do banho recém-tomado. — Cheirosa. Sussurrou.

– Vou tomar banho, tomamos café e podemos sair.
— Perfeito! Fernando se levantou e seguiu para o banheiro, enquanto Maraisa  se deitava novamente, agora pensando nas coisas que iriam acontecer após sua volta para o Brasil. Aquela viagem era para comemorar um novo ciclo que estava se iniciando.

Havia passado no concurso da universidade na cidade onde nasceu e viveu até os dezoito anos. Agora estava voltando depois de quinze anos. Havia abandonado amigos, sua família e um grande amor, pois o desejo de viver coisas novas fora mais forte do que tudo. Sua época no colégio não foi a melhor. Era uma garota gorda, e isso trazia muitas inseguranças por conta do bullying que sofria. Para completar seus problemas, era apaixonada pela menina mais popular do colégio.

Clichê, ela sabia, mas não escolhia seus sentimentos. Felizmente, apesar dos erros, sua grande paixão se mostrou bem diferente, mas era um sentimento para não dar certo naquele momento; havia muitas confusões na mente e nenhuma certeza. Maraisa  também sentia anseios mais fortes: vontade de conhecer coisas, viajar e viver longe de tudo aquilo que a machucava. Ir embora foi uma decisão difícil, mas sentia que precisava, principalmente fugir de tudo que a feriu durante sua vida. Apesar das dores, não se arrependeu de partir.

Viveu, conheceu pessoas, amou outras vezes, estudou bastante, tornando-se uma grande doutora em sua área, as artes. Nessa caminhada, conheceu Fernando, com quem já estava há três anos. Ele era um homem especial, e havia decidido que viveria ao lado dele de uma forma mais séria, por isso aceitou o pedido de casamento.

Estava feliz e ansiosa para voltar, mas o medo estava presente, pois não sabia o que a esperava ou se ainda tinha alguém para recebê-la. Sabia que podia contar com seus pais para estarem ao seu lado, mas não sabia se podia dizer o mesmo de seus antigos amigos. Não sabia se a forma como sumiu fora suficiente para acabar com todos os laços de amizade que construiu.

Nesses anos todos, não se preocupou em manter contato com nenhum deles, não procurou ninguém, apenas viveu sua vida e pensou em si mesma. Esperava que isso não tivesse acontecido, pois apesar do afastamento, ainda tinha todos em seu coração, e revê-los seria maravilhoso. Nesse momento, seu celular tocou. Olhou para a mesinha de cabeceira e pegou o aparelho. Não reconheceu o número que estava na tela, mas identificou ser uma chamada do Brasil, por isso atendeu.
— Oi.  Disse curiosa.
— Maraisa ? — Sim, quem fala?
— Como assim? Sou eu. Maiara Carla . Aquele nome estava guardado em um lugar distante de sua mente, que foi acessado com aquela ligação. Todo o passado veio à sua cabeça e não teve como evitar o sorriso.
— Maiara Carla? – Perguntou, sentando-se na cama.
— Claro! Conhece outra Maiara ?!
— Não.  Sorriu.
– Mas como conseguiu meu número?
— Encontrei sua mãe esses dias, ela me disse que você estava em Roma, mas que estava voltando para cá. Não acreditei e pedi seu número porque queria ouvir essa novidade da sua boca.

— Estou voltando, Mai. – Usou o apelido que agora estava vivo em sua memória.
– Dentro de algumas semanas.
— Que maravilha! Finalmente, amiga. Sempre falei para Stella que você voltaria, sempre tive certeza. —

Lauana ? Vocês ainda estão juntas? –Perguntou surpresa, lembrando de ter visto algumas fotos das duas juntas em uma rede social.
— Sim, claro. Casadíssimas, querida!
— Incrível.... – Estava realmente surpresa.

Nesse momento, um nome veio à sua mente, mas reservou a pergunta que queria fazer.
– Então podemos marcar algo quando eu chegar por aí?
— Claro! Liguei para isso, quero as informações de quando você vai chegar para organizar um jantar. Apenas nosso grupinho. Lembra?
— Claro que sim.
– Novamente, o mesmo nome veio à sua mente, mas não disse nada. Apenas passou as informações, como o dia que chegaria e onde ficaria. Estava feliz com toda a animação de Magda, e a ansiedade por rever todos só aumentava.

— Então, quando você chegar, nos encontraremos assim que estiver instalada na casa de seus pais.
— Com certeza, se você não me mandar mensagem, eu mandarei. Agora tenho seu contato.  Maraisa disse sorrindo. — Estou feliz com sua volta, amiga. Agora como uma incrível professora universitária, doutora Maraisa.

— E cheia de novidades.
— Como esse noivo lindo que vejo no seu perfil do Instagram.
— Ele mesmo. Maraisa  riu divertida, se perguntando por que nunca havia mandado uma mensagem para Maiara , sendo que a tinha em suas redes sociais.
– Vou apresentá-lo a vocês.
— Assim espero. Amiga, o dever me chama. Agora também virei uma grande engenheira civil. Estou cuidando da construtora junto com meu irmão, já que meu pai e a tia Cris estão oficialmente aposentados, mas vou contar tudo quando você chegar.

Aproveita sua viagem, porque quando a gente se encontrar, quero saber de tudo. Se despediram e Maraisa  tinha um largo sorriso no rosto. Se antes não tinha certeza de que seria bem recebida por seus amigos, agora sabia que pelo menos Maiara  e Lauana estavam à sua espera. Não se orgulhava de ter se afastado de todos, mesmo com tantas formas de entrar em contato com alguém, e apenas desejava que com essa volta, pudesse também ter a chance de se aproximar das pessoas que abandonou.

Maraisa  passou seus últimos dias em Roma sem pensar nas mudanças que aconteceriam ao fim daquela viagem. Nada importava. Estava em sua cidade favorita, ao lado de uma pessoa especial. Não queria dar espaço a pensamentos desnecessários. Eles não eram bem-vindos, não havia espaço para eles. Quando deixou Roma, sentiu a saudade da partida e a ansiedade e expectativa pelo novo ciclo que estava por vir. O medo do desconhecido era real, mas ela sabia que era normal. Apenas não deveria deixá-lo tomar conta.

Tinha Fernando  ao seu lado e sabia que podia contar com ele.
— Está longe. Fernando comentou. Estavam dentro do avião, e Maraisa  olhava pela janela a cidade que desaparecia de sua vista.