O Primeiro Amor.

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Comédias românticas são tudo para mim, desde a infância. Eu culpo minha tia Maria. Quando criança, ao invés de assistir Barbie, Hello Kitty ou Moranguinho, eu costumava me sentar em seu colo durante toda a tarde para assistir as suas comédias românticas favoritas. "Uma linda mulher" "Um lugar chamado Nothing Hill" ...O filme "Ghost"? Eu sabia as falas de cor. Enquanto eu crescia, comecei a projetar em minha vida expectativas de viver um romance como aqueles de cinema. Sentir o frio na barriga com um primeiro toque, as borboletas no estômago, estar com sorrisos bobos no rosto a todo tempo. Eu procurava entre vários rostos aquele que seria o especial. O escolhido. Aquele que sempre se destacaria dentre a multidão. Minha tia nem imaginava o monstrinho que ela estava criando toda vez que colocava homens como Edward Lewis na minha frente.

Tantas comédias românticas deixaram meus parâmetros um tanto quanto...altos demais, pelo menos durante a primeira parte da infância. Não demorou muito tempo para eu perceber que, dentre a população infantil dos anos 90, dificilmente eu encontraria alguém que atingisse minhas expectativas. Devo admitir, ninguém deveria esperar palavras doces e atos grandiosos de amor de meninos de seis anos. Minha tia dizia que eu encontraria a pessoa certa no momento certo, porém, eu nunca estive muito disposta a esperar isso acontecer. Eu tinha pressa, mais do que o normal para qualquer garotinha. Eu era decidida, obstinada, e queria, de todos os modos, encontrar aquele com quem eu viveria um romance de cinema.

Foi então que eu o conheci. Apollo de Castro, o príncipe dos meus sonhos.

A primeira vez que o vi, ele mal poderia ser considerado um rapaz. Com apenas nove anos, ele se mudou para a mesma vila onde eu morava com minha tia, no início da 28 de setembro. Todo sorridente, tal como um príncipe, ele surgiu em meu campo de visão. Em uma mão, uma bola de futebol, na outra, a mão de uma menina pequena e definitivamente mais tímida. Aquela era sua irmã, Atena, três anos mais nova que nós. Inocentemente, ele me chamou para jogar futebol com eles, mal sabendo o quão rápido meu coração batia por nosso encontro. O primeiro encontro com o amor da minha vida.

Por mais desesperada que pareça, eu consegui conter toda a alegria dentro de meu pequeno corpo. Afinal, eu não era uma amadora naquilo. Nove anos de pura educação cinematográfica me prepararam única e exclusivamente para um momento assim, onde minha história de amor começaria. E, como toda boa história de amor, eu não poderia apressar meus passos, ou seria um completo desastre. Eu precisava ser cuidadosa, paciente.

Eu e Apollo teríamos o que era chamado "amor de infância". Pela minha experiência, esse é o mais complexo método de amor. Qualquer erro era decisivo no andamento da trama. Paixões reveladas durante a infância estavam fadadas a um desenvolvimento mais complexo, cheio de altos e baixos, de juras de amor recusadas. Eu não queria isso. O que eu queria, certamente, era a abordagem mais lenta, paciente. Aquela onde a amizade seria alimentada por anos, com paciência e cuidado, para que no futuro, a descoberta da paixão mútua fosse doce e emocionante, causando alegria no público pois, finalmente, o casal destinado, estaria junto. Era isso o que eu queria para nós.

Até Apollo estragar meus planos.

Foi durante a adolescência, o que me faz perdoar seus erros, visto que era a puberdade falando mais alto. Quando entramos no ensino médio, Apollo passava por sua melhor fase estética até então. Havia, enfim, conseguido convencer sua avó a deixar seu cabelo crescer, fazendo com que os cabelos cacheados começassem aparecessem para ressaltar seu rosto, dando um destaque para os grandes olhos cor de mel. A pele, que aos treze anos fora muito maltratada pelas espinhas, adquiriu um aspecto aveludado, estranho demais para o calor do Rio de Janeiro. Em meio a pele negra clara, algumas sardas escuras brotaram, provavelmente por conta dos últimos anos de fundamental naquela escola a duas ruas da praia. Sua altura espichou, o deixando uma perigosa combinação adolescente de altura+ charme + beleza. Foram três anos difíceis, o vendo pular de namorada em namorada, cada uma mais fútil que a outra. Durante esse período, minha imagem idealizada de Apollo quase caiu por terra. E eu quase desisti do meu maior amor.

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⏰ Última atualização: Feb 29 ⏰

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