Meu primeiro martírio tratou-se da "bola amarela de fogo" que surgiu matando a noite. O sol. Meus olhos passaram a arder mais do que o calor que inundava minha pele sendo invadida por bolhas. E eu senti dor, muita dor e por conta do infernal tormento, gritei. Eu perdia minhas forças, meu corpo se desfalecia, minha mente girava deformando meus sentidos. Meu único refúgio era a água que me servia como manto protetor. Mergulhei mais uma vez, deixando meu corpo totalmente entregue ao líquido insípido e assim fui retomando minhas forças enquanto eu sentia a fria maciez cicatrizando minha pele. Lá embaixo, pontos multicoloridos se mesclavam ao ambiente aquático. Eram tão belos que peguei um entre as mãos e o cheirando percebi que meus sentidos se afloravam diante o pequeno item avermelhado. Coloquei-o à boca e o gosto era muito bom, adocicado. Colhi vários dos "pingos" coloridos colocando todos à boca, porém era o vermelho o mais saboroso. Não sei como lhe denominam, tampouco nunca procurei saber o nome dos saborosos frutos agridoce, azedos como os limões, mesclados ao mais doce e puro mel.
Ali permaneci por muito tempo, até novamente chegar a noite. Dos dias eu sempre me escondia até a chegada da noite para então eu perpetuar meu desbravamento pelo mundo. Seguia por terra, voava, mas as árvores eram meu lugar preferido. Galhos que me acolhiam quando eu me cansava, quando eu alçava voos longínquos que me titubeavam. Voei desbravando apenas na companhia dos animais ou em solidão, terras, montanhas, rios e mares. Sobre muito descobri, mas sobre mim mesmo nada sabia. Era somente o mundo e eu, até que...
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O Vampiro e o Sol
Short StoryNa França, mais propriamente na segunda metade do século XVII, o Rei Luís XIV se depara com uma improvável visita em seu palácio...