Terceiro Capítulo

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Então, minha história junto a um humano , inicia-se no dia em que conheci, nada mais, nada menos que um rei. Tenho muitas, muitas coisas para falar sobre o Rei- ele nunca permitiu que eu me dirigisse a ele negando seu título monárquico-. Procurarei ser o mais breve sobre o que tenho para dizer sobre o Grande Rei visto minha repulsa por pormenores. Confesso também que aprecio a não elucidação da curiosidade alheia. Uma boa pitada de mistério é de longe um dos meus apreciativos de mais valor. Digo como é de comum acordo, que o Rei Luís XIV era um monarca tendo como inquietude uma de suas qualidades -ou defeito- mais marcantes, sempre apontando estratégias para o reconhecimento e perpetuação do seu governo extremamente totalitário, bradando sobre as normas condizentes do sistema absolutista, já que o controle de seu reinado deveria estar totalmente centralizado no poder monárquico. E olha que já o conheci em idade um tanto avançada, contabilizando a sétima década de sua existência, porém o Rei Sol se redimia ao seu povo em feitos beneficentes ampliando a economia, criando fábricas, ampliando o comércio marítimo, investindo sua supremacia monárquica em prol do reino francês.

Francês, a língua materna do Rei Luís XIV foi o primeiro idioma que aprendi, sendo ele mesmo meu único e fiel professor. Admirava ele a minha facilidade em aprender as palavras, em memorizar todas as histórias escritas nos livros e para surpresa do Rei, após pouco tempo, era eu quem lhe contava sobre muito que eu lia em outros livros escritos em diversificados idiomas. Vestes foram confeccionadas especialmente para mim, mas jamais destoavam da cor preta, até porque era minha cor absoluta; segundo porque somente o Rei podia se cobrir com cores vibrantes, iluminadas como o sol. Era ele exímio admirador do astro que tanto me causava aversão. O sol simbolizando a luz, vida, grandeza, poder supremo, tal qual como o Rei se apresentava. Por conta da sua apreciação pelo crepúsculo, ele próprio projetou a torre mais imponente do Versalhes para que de lá presenciasse o "cair da bola de fogo". No entanto, ao passar a distinta acomodação para mim, muitas alterações foram realizadas para que o ambiente se tornasse amplamente adaptado a mim. O Rei nada me negava, porém ele mesmo nunca esclarecia sua real pretensão em me manter unicamente em sua nobre e luxuosa acomodação.

Quando eu queria alçar voo, volta e meia ele me mergulhava em artifícios para me intimidar, criando os mais sórdidos motivos para que eu permanecesse somente em Versalhes. O Rei pouco esclarecia sobre suas pretensões a mim, tampouco elucidava o motivo de nunca eu poder ser visto no palácio, em lugar nenhum, muito menos por mais ninguém que não fosse ele.

Tornou-se uma relação de solicitudes e maledicências. Eu poderia alimentar muitos sonhos sobre o Rei Sol, porém era eu também motivo de seus pesadelos. Ele me tinha tal qual um adorno, escondido só pra si, criatura única intocável e subestimada. Eu sempre indagava ao Rei, se não haveria outro da minha espécie, já que até então eu não vira mais ninguém como eu, porém o máximo que ele dizia era que eu saberia da verdade quando chegasse a hora certa. E isso perdurou durante todo o tempo em que estive ao seu lado.

Exímio apreciador de festas, extasiado, o Rei preparava os festivos por conta do transcurso do seu septuagésimo sexto aniversário. Como procedência em outros aniversários contemplativos, uma grande festa seria oferecida a centenas de convidados, porém para aquela data, teve o monarca a ideia de realizar uma festa à fantasia. A lista contava com 2.000 convidados, todos membros da realeza e a cada nome da lista citado, debochava ele em largas gargalhadas algum detalhe pernicioso a respeito do convidado. Ele se fantasiaria de sol, uma vasta roupa dourada cravejada de ouro, mas então lhe instiguei se algum dos convidados pretendesse usar uma fantasia como a dele. Por conta disso, lhe sugeri que ordenasse que cada convidado usasse a fantasia proposta por ele, o que ele concordou com muito agrado. Mais gargalhadas foram produzidas enquanto diante de cada nome, ele descrevia a fantasia do convidado. E tomado pelo hilário sarcasmo ia o Rei listando fantasias das mais improváveis, diversas, excêntricas: Para tal nobre: Fantasia de avestruz; para outro, fantasia de uma garrafa de champagne; para tal princesa, fantasia de um vidro de perfume; fantasia coberta de pêlos para determinada baronesa...

Aguardei ansiosamente até o último instante pelo meu convite, no entanto, não fui convidado.

Porém... (749 palavras)

O Vampiro e o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora