Capítulo 16 - Dualidade

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        De todas as coisas imprudentes que fiz desde o momento em que pisei na Corte Primaveril, me render aos efeitos do laço de parceira foi a maior.

        Os dentes dele estavam marcados na minha pele em uma mordida perfeita entre os fios prateados da tatuagem sinuosa. A sensação das suas mãos na minha cintura, descendo pela minha coxa e segurando minha nuca, ainda queimava, mesmo que seu toque já não existisse mais ali para isso. E mesmo que Tamlin estivesse do outro lado das portas do banheiro, em meio ao saguão, eu ainda era capaz de sentir seu cheiro nublando minha mente e sua respiração quente no meu pescoço, arrepiando meu corpo inteiro.

        Abri a torneira e enchi a mão, jogando a água pela minha nuca, em uma tentativa de apagar a brasa ardente que ainda queimava no meu peito em forma de um coração palpitante.

        Me apoiei na pia, respirando fundo enquanto tentava conter os efeitos que o laço de parceria havia carimbado de vermelho nas minhas bochechas, junto com o calor que ainda corria pelas minhas veias, e também toda a vergonha que precisava impedir que me dominasse a todo custo, mas não desgrudava da minha pele. E acima de tudo, tentava me impedir de pensar na necessidade primitiva de que os braços de Tamlin ainda estivessem ao meu redor.

        Não era o momento adequado para sucumbir a nada disso. Talvez nunca fosse. Eu tinha um único propósito na fortaleza e na Corte Primaveril, e me distrair com o laço de parceira não iria ajudar. Mas lá estava eu: afetada e febril, trancada em um banheiro como um rato encurralado há minutos.

        Enchi a mão novamente, e joguei a água no rosto, esfregando-o com desespero, pois minha mente insistia em seguir imaginando cenários onde Tamlin chutava a porta daquele banheiro apenas para vir até mim e continuar o que tinha sido interrompido nos estábulos.

        Aquilo era absurdo.

        Tudo naquela situação era absurdo. E eu tinha muito mais o que fazer além de ficar fantasiando.

        Encarei meu reflexo com raiva e pura frustração, analisando minha aparência pela milésima vez. A gola do casaco caída no ombro onde Tamlin havia deixado sua mordida perfeita, meu cabelo desgrenhado e metade solto, meu rosto miseravelmente corado e meus lábios inchados por se arrastarem sobre sua pele com força demais. Eu havia andando na frente de todos os seus sentinelas daquele jeito, em um retrato escrachado de desejo interrompido e necessidade primitiva.

        Miserável.

        Esfreguei o rosto e penteei meus cabelos com os dedos trêmulos, tentando desfazer os nós que suas mãos haviam causado ao segura-los com força enquanto trilhava meu pescoço com seus beijos incandescentes. Uma onda de arrepios percorreu minha coluna com a simples lembrança. Respirei fundo outra vez, apertando as bordas da pia até sentir minhas unhas doerem. Precisava me controlar, caso contrário, acabaria espalhando meu cheiro pela fortaleza inteira e isso estragaria tudo, pois não apenas eu perderia o foco, mas Tamlin também.

        Quanto a Tamlin... eu gostaria de saber como ele estava lidando com tudo isso, se era tão difícil para ele quanto era para mim. Preferia acreditar que estava sendo ainda pior para ele, pois isso me trazia certo conforto. No entanto, ele parecia tão controlado quando deixei o saguão para vir ao banheiro que feria meu ego. Eu desejava que ele estivesse agonizando em estado febril assim como eu estava fazendo, não contido como se nada daquilo fosse capaz de perturbá-lo.

        Sequei meu rosto, removendo todos os fios de cabelo que haviam grudado em minhas bochechas e boca com a água. Empenhada a parecer pelo menos apresentável novamente, arrumei meu cabelo, prendendo-o para trás com a fita que restou.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora