PRÓLOGO - BEFORE OF THE FLOOD - FLASHES DE UMA MEMÓRIA

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"Mas que porra foi essa?"

"Será se..."

"Vamos, agora!"

Essas foram as últimas palavras que a mulher ouviu antes de saltar do sedan preto. A tempestade que se formava do lado de fora era imponente, carregada por lufadas de vento e raios prateados que rasgavam as nuvens negras da cidade californiana. A chuva caia do céu noturno de forma caótica, fazendo com que as gotas se parecessem com picadas de agulhas sobre a pele humana. Bandos de estudantes e trabalhadores agitados por conta do início oficial das tempestades de inverno passaram correndo pelo veículo estacionado do outro lado da rua do apartamento, alheios ao fato de que duas pessoas saiam dele (naquele momento). A multidão corria de um lado para o outro, tentando desesperadamente chegar em suas casas antes que os céus desabassem sobre as suas cabeças. Empurravam carrinhos e carregavam maletas, lutando para não tropeçar nas calçadas escorregadias, seus guarda-chuvas virando ao avesso sob o ataque implacável da mãe natureza enquanto moradores de rua, encharcados e tremendo de frio, buscavam abrigo sob marquises precárias e caixas de papelão que se desfaziam sob a chuva torrencial. O homem era bem-disposto e até estaria se divertindo com toda aquela situação se não estivesse preocupado pelo que o havia lhe tirado de seu carro.

"Mas que som é esse?"

"Se abaixa! John, se abaixa! Agora!"

E, de repente, o tempo pareceu parar.

Atenta a cada movimento dele, Elizabeth desferiu um golpe desesperado com uma faca de aço, espalhando uma grande quantidade de sangue pelo balcão e piso (da cozinha). Então, ele a jogou com força contra a parede, fazendo-a bater a cabeça no armário de mármore e cair em queda livre. Ao pousar, ele se arremessou sobre ela. Então Elizabeth começou a esmurrar e arranhar o corpo do agressor sobre si. A dor que a assolou foi aguda, insuportável, obscurecendo sua visão e deixando suas habilidades auditivas gravemente comprometidas. As mãos frias e ásperas do agressor logo apertaram sua garganta com um ímpeto que ameaçava dilacerar sua já diminuta vida. Elizabeth tentou se debater e chutar mas seus movimentos eram desesperados e inúteis, mal conseguindo afrouxar o aperto da mão brutal no seu pescoço. A falta de oxigênio logo se fez presente, fazendo com que ela emitisse um grito aguda e estridente, que penetrou no silêncio opressivo do apartamento. O medo que antes se agarrava em seus olhos dissipou-se com a tragédia inebriando-a de fúria e instinto de sobrevivência. Mas foi inútil. Logo sua visão começou a desaparecer. E ela se entregou a escuridão, consciente de que esse poderia ser o seu último suspiro na terra. A cortina do destino caiu abruptamente megulhando-a numa infinidade de escuridão.

Naquele momento, todo o corpo da garota ficou tenso e todo o cômodo foi ofuscado pela explosão fortíssima de uma luz branca que saiu do nada. O estranho facho inundou todo o apartamento e com ele veio um zumbido agudo de alta frequência. O agressor levou as mãos aos ouvidos, não que adiantasse muito, já que o som atravessou aquele pequeno empecilho como se não estivesse ali. E o barulho foi ficando cada vez mais intenso em meio às janelas e lâmpadas estilhaçando-se em milhões de pedaços ao longo do prédio. O corpo do agressor começou a expelir fumaça como se estivesse queimando de dentro para fora. Foi então que ele desapareceu no meio do facho de luz branca. Só era possível ouvir os seus gritos de dor. A luz ficou ainda mais forte, e tudo que havia ali, o agressor, a garota, o apartamento e até o prédio, desapareceram no meio dela. E tudo acabou com a mesma rapidez que começara. O eco de seu grito finalmente se extinguiu, a luz se apagou e todo o apartamento ficou em silêncio novamente... Como se não passasse de um sonho ruim.

O peso em suas pálpebras era agonizante e as lágrimas fluíamz ardendo como ácido pelo seu rosto. De repente, sentiu braços agarrarem seu corpo esguio e erguerem-na pelas coxas e abaixo do pescoço. Lutando contra a tempestade do lado de fora, ambos - Elizabeth e a figura que, para ela, era uma silhueta embaçada e indefinida - atravessaram a rua até chegarem a um veículo onde o corpo da garota foi deixado atenciosamente no banco de trás. Confusa e atordoada, abriu os olhos novamente, mas tudo o que viu foram vultos.

"Acha que ela vai sobreviver?"

As vozes estavam praticamente inaudíveis naquele momento, porém, Elizabeth sabia a resposta. Tudo se tratava de uma questão de tempo. E para ela, esse tempo já havia se encerrado. Um último suspiro emergiu-lhe dos lábios, enquanto a chuva se chocava contra o teto do carro, numa melodia que reverberava em meio a uma vastidão sombria.

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⏰ Última atualização: Mar 06 ⏰

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