Sarada
31 de março. Meu aniversário.
Até uns 3 anos atrás, eu odiava o meu aniversário, odiava com todas as minhas forças, porque eu passei os últimos 4 anos "comemorando" dentro do hospital, eu odiava aquilo. Como se já não bastasse o fato de eu estar morrendo, eu ainda tinha que comemorar o fato de eu estar um ano mais perto da morte, eu realmente odiava isso.
Odiava porque eu não tinha esperanças de que eu venceria o câncer. Eu não tinha expectativas que continuaria viva, e acho que isso foi o meu pior erro. Demorei um pouco mais para melhorar porque eu me recusava a fazer as quimioterapias. Eu odiava aquilo, me desgastava, cansava, doía, tanto fisicamente quanto emocionalmente, era um inferno, e nem no meu aniversário, eu me livrava da quimio, minha vida era um inferno.
Mas um dia, eu acabei desmaiando, e quando acordei no quarto do hospital, escutei minha mãe chorando abraçada ao meu pai, ela chorava tanto, dizia que tinha medo de me perder, que não aguentaria me ver morrer. E escutar aquilo foi o que me deu motivos para não desistir do tratamento e que me deu ânimo pra continuar lutando para vencer.
Meus pais trabalhavam feito loucos pra conseguir pagar tudo, e eu, uma menina egoísta, não fazia questão de pelo menos fingir que queria melhorar. Mas depois daquilo, eu tirei forças que eu nem sabia que tinha e consegui finalmente vencer.
Então hoje, eu vejo o meu aniversário como uma vitória, e não como "um ano mais perto da morte", vejo como um ano de mais vitórias, pois foi isso que eu consegui. Consegui vencer.
Como todo ano, meus pais me acordavam cantando parabéns, sempre acordei assustada nesses dias, porque ninguém merece acordar ouvindo vozes cantando, mas sei que eles não fazem por mal.
Esse ano eles entraram segurando um bolo de chocolate com uma vela em cima que marcava a minha idade.
19 anos.
Me sentei na cama e sorri para eles que chegaram perto de mim com o bolo e soprei a vela. Ver os dois sorrindo era a minha felicidade.
- Vem tomar café - mamãe me chamou e eu os acompanhei até a cozinha.
Como em todos os meus aniversários, mamãe sempre fez um café da manhã cheio de coisas que eu gostava. Dei um abraço nos dois e os agradeci.
- Não vou poder comprar um presente pra você hoje, só quando eu receber, desculpa filha - meu pai me disse com um olhar triste.
- Não tem problema, e não precisa - falei a ele - O meu último aniversário foi dentro do hospital, e poder comemorar esse ano dentro de casa com vocês é o melhor presente que eu poderia receber - vi os olhos da minha mãe lacrimejarem com minha fala.
Papai me deu um beijo na testa e fomos comer.
Apesar da minha relação com o meu pai não estar muito boa esses dias, eu ainda me sinto grata por ele conseguir ignorar isso e estar ao meu lado agora.
......
Depois do café eu me arrumei e fui para a escola, eu nunca fui fã de ir para a escola no meu aniversário, mas como é o meu último ano, eu quero aproveitar o tempo que me resta, porque por mais que eu reclame quase todos os dias de estudar igual uma condenada, eu sei que vou sentir falta da escola.
Chocho tinha faltado, porque acordou atrasada, então infelizmente tive que sentar com o Boruto e os amigos dele durante o intervalo. Eles também me parabenizaram antes de ficarem zoando com a minha cara.
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Laços inquebráveis - Borusara.
RomantizmA vida não tem sido muito gentil comigo, e a prova disso foi a morte do meu pai. Durante uma viagem, ele sofreu um acidente de carro que acabou com sua vida. É realmente uma tragédia. Tudo tem piorado depois disso. E como se a minha vida já não esti...