Teru sentia seu coração batendo rápido, sendo mais veloz que suas pernas cansadas da correria. Nunca tinha notado o quão grande Kamome era até aquele momento, onde rodava os dois prédios de cima a baixo de forma um pouco desesperada.
Abriu a porta de uma das salas. Nada. Apenas a sua silhueta azulada refletida nas janelas (extremamente) limpas. Não tendo escolha, continuou com sua procura, ignorando o barulho irritante que sua espada fazia ao ser arrastada no chão. Esse com certeza não era a forma correta de levá-la, porém essa era a menor de suas preocupações.
"Será que ele se importa?" — se questionou mentalmente ao dar uma leve espiada em Gravity's Rainbow, o livro que segurava em sua outra mão. Seria complicado fazer o trabalho de exorcista com o objeto na mão, no entanto, não podia largá-lo por ai sem mais nem menos. Logo, o livro seria uma lembrança.
Ao abrir a última porta que restava, o Minamoto parou de negar e finalmente aceitou.
Ele sabia onde procurar.
Seria mais doloroso, entretanto, repito: ele não tinha escolha alguma.
Seguindo seu infeliz caminho até o grande relógio, o presidente nota algo estranho. A porta do conselho estava encostada. Se fosse obra de quem ele estava pensando, foi proposital. De qualquer forma, Teru se preparou para atacar caso fosse necessário agir logo de cara — embora o Mistério não fosse esse tipo de pes... ser, esse tipo de ser.
A porta rangeu de forma quase inaudível ao ser aberta lentamente. O barulho só pode ser escutado por causa do silêncio que ambos garotos faziam. Sim, a sala do grêmio não estava vazia. Agora, ao olhar na janela, era possível ver duas silhuetas: uma azul e uma rosa. Era engraçado como o mesmo céu noturno podia refletir coisas tão diferentes.
Percebendo que seu oponente não demonstrava nenhum tipo de sinal de ameaça, o Minamoto abaixa a espada — porém sua guarda seguia firme e forte.
— Você me achou. — disse Akane de forma neutra.
— Você veio até mim. — a resposta saiu no mesmo tom, sem nenhum tipo de emoção. Eles sabiam disfarçar muito bem. — Por que?
— Sabia que você ia procurar no relógio. Também sabia que você partiu daqui, então resolvi vir 'pra cá me esconder. Mas não deu certo, não é? — mentira, uma das descaradas. Aoi nunca foi um covarde que se escondia para se poupar. Ele batia de frente, independentemente da situação. Era cabeça dura demais. No entanto, Teru compreendia o motivo da mentira.
Akane Aoi não queria ter de ficar esperando sua morte. Teru Minamoto, em compensação, não queria ter de matar ninguém.
As cores no vidro faziam sentido. Azul e rosa eram cores opostas. O azul era uma cor primária, sendo importante para formar outras cores. Era remetida à segurança e força. Já o rosa era apenas uma secundária, porém, era bem mais graciosa. Significava romantismo e proteção.
Apesar dessas coisas, não eram totalmente opostas. Azul era completamente oposta a vermelho, enquanto rosa a verde. Ou seja, nada impedia que as cores se misturassem. Bom, quase nada.
Em qualquer pintura, quem se destaca mais entre essas duas cores é o azul por ser uma primária, então era como se exterminasse o rosa.
E a situação em que os alunos se encontravam não era diferente.
O N.01 dá um passo a frente.
— Vamos, não hesite. — afirma, abrindo um pouco os braços. Olhando mais atentamente em seus olhos castanhos, era possível enxergar a tristeza. — Eu falhei como mistério e você tem que me punir, é o seu trabalho. Anda, me mate. Acabe com o nosso sofrimento, por favor, Minamoto.
Cerrando os dentes e segurando o livro no braço, o presidente levanta a espada e a enfia no coração do vice de um jeito tão profundo que dava para ver a ponta vermelha nas costas de Aoi. Logo, os raios amarelos circularam o corpo magro em um enorme choque, o fazendo cair de imediato no chão assim que a espada sai de seu interior, manchando diversas coisas de sangue.
— Não se lembre de mim como um vigarista, é tudo o que lhe peço. — falou com a voz chorosa.
O ruivo não teve a oportunidade de responder. O cadáver se tremia e contorcia por inteiro como consequência do choque e por movimentos involuntários de seus músculos, indicando que suas células morriam aos poucos.
Quando parou, sua mão se abriu e Teru se abaixou para pegar o objeto antes segurado por ela.
Era um isqueiro. Seu isqueiro.
O deixou na mão de Akane. Era justo. Ele ficava com o isqueiro de Teru enquanto Teru ficava com seu livro.
Aquela situação podia ser comparada com um Coliseu Romano. Ambos levavam um objeto do outro, como se fosse uma parte deles.
Agora, eles eram o que havia restado do amor seco e inútil que um dia tiveram.
Azul e rosa. Exorcista e sobrenatural. Completamente estúpido.
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Eu (não) sou um vigarista!
FanfictionTodos sabem que opostos se atraem, mas será que conseguem ficar juntos até o final, apesar das diferenças?