Único.

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23:14 — noite.

"Satoru, lamento lhe informar de que em algum horário das próximas 24 horas, você irá enfrentar uma morte prematura. E embora não exista nada que possamos fazer para evitar, continuas a ter uma oportunidade para viver."

Satoru ouvia em completo silêncio a voz feminina ler uma série de coisas em que ele ainda poderia fazer em suas últimas horas de vida. Ele não deveria estar zangado, afinal... Era apenas o trabalho daquela mulher, mas ele estava, conseguia sentir que suas veias estavam prestes a explodir enquanto ouvia ela dizer com tanto tédio e tranquilidade, avisando sobre a morte de alguém.

Irritadíssimo, desligou o celular, ergueu suas mãos pálidas até seus cabelos tão brancos quanto, e apertou fortemente as mãos em seus fios, sentindo aquela sensação desesperadora o consumir. Ele não iria realmente morrer, iria? Iria.

Ouvia o barulho torturoso que o relógio de parede fazia enquanto os segundos, minutos.. E horas se passavam. Aquilo era uma tortura, ele desejava ser um pesadelo, um pesadelo do qual ele em breve iria acordar no escuro de seu quarto, olhar ao redor e perceber que nada foi real, em seguida voltar a fechar seus olhos e adormecer rapidamente.

23:24 — noite.

Satoru encarava com seus olhos azulados, a parede branca que tinha alguns contrastes de sombra causados pela janela e a luz dos postes que invadia, já que a luz de seu quarto estava apagada.

Toda sua esperança de uma longa vida foi tirada a força quando ouviu seu celular tocar, e ao atender ouvir a voz feminina questionar se ele era Satoru Gojo.
Ele estava incrédulo, ainda não havia aceitado seu destino, que já estava selado para hoje mesmo.

O maior questionamento de Gojo seria como isso iria acontecer... Ele não estava realmente assustado agora, e sim curioso... Talvez ele poderia morrer neste exato momento se colocasse os pés para fora da cama para alimentar seu peixinho no aquário, tropessasse e então caísse de cabeça em algo afiado, ou talvez atropelado enquanto atravessasse a rua para ir comprar doces no mercado que tinha bem na frente de sua casa.

Talvez nesse meio tempo ele pudesse visitar uma conhecida de longo prazo do qual ele tem evitado contato a anos, e ele tem certeza de que Shoko está fazendo o mesmo, então descartou a ideia. Mesmo que no fundo isso apertou um pouco seu coração. Ele tinha quase certeza que ela nem mesmo ficaria sabendo, ele tinha a certeza de que ela nem poderia estar lá quando a terra fosse estar sendo jogada em cima do grande caixão de madeira. Ele pensava isso, pois de acordo com suas ligações que ele fez há mais exatos 4 anos atrás de semana em semana, ela sempre estava muito ocupada, não tinha tempo.

Era estranho saber que ela em si era uma estranha para ele.

Ele sabia que Shoko era apenas uma pessoa solitária que estava destinada a continuar assim para o resto de sua vida. Silenciosamente ele desejava que um dia ela pudesse encontrar alguém, ter filhos, e então com aquele velho e empoeirado álbum de fotos em suas mãos, ela iria sentar-se junto de sua família em seu sofá espaçoso e começar a passar as páginas, contando histórias de como era sua adolescência, e então quando parasse em uma foto sua, ela contaria sobre ele a seus filhos, e um dia talvez os diria o quanto ele foi importante para ela.

00:37 — Madrugada.

Satoru tomou a pior, ou talvez a melhor decisão de sua vida.

— Eles me ligaram. — Seu tom de voz estava neutro, embora suas mãos tremiam tanto que ele achava ser capaz que ele estivesse escutando seus ossos se remexendo pela linha da ligação.

— .... — O silêncio era ensurdecedor, tudo que Gojo mais queria nesse momento era escutar a voz dele, queria desesperadamente que ele falasse algo, ele precisava falar algo!

Os dois morrem no final - SatoSugu. Onde histórias criam vida. Descubra agora