Capítulo 01 - Escondidos

300 48 64
                                    

Da janela da casa que agora chamo de lar, observo o sol mergulhar lentamente no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Da janela da casa que agora chamo de lar, observo o sol mergulhar lentamente no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho. Vivo dentro de um dos inúmeros complexos residenciais abandonados na cidade quente e úmida de Tampico, localizada em Taumalipas, no México.

Mais uma noite calma que nos apaga do mundo. Mais uma noite que eu agradeço o silêncio e por essa parte abandonada da cidade. Não foi fácil me estabelecer aqui, passei por pelo menos três complexos residenciais abandonados até conseguir ficar aqui em paz. Por sorte, havia muitas moradias abandonadas espalhadas pelo México.

Eu tinha aprendido a me precaver ao longo dos anos, tinha aprendido a mapear bem todo o espaço e desenvolver estratégias que me mantinham nas sombras. Havia uma rota de fuga clara que eu havia estabelecido quando estudei a região atual, nela eu tinha uma rota que me levava até o golfo do México, de lá eu pegaria um barco e iria para outro país, qualquer um, caso fosse necessário, eu havia inclusive treinado esse caminho algumas vezes, ao ponto de conseguir fazê-lo sem precisar pensar, tudo no modo automático. Até hoje não foi preciso, e espero com todo o meu coração que não seja nunca. Eu gosto daqui. Me afeiçoei ao local.

Um longo suspiro reflexivo e logo saio da janela, voltando para minha última tarefa do dia. Contabilizo todos os mantimentos que temos na despensa, e chego ao final da lista dos itens que preciso trazer para casa. Tudo aqui é muito bem-organizado, o quanto menos eu sair, melhor. Então consigo mantimentos que duram por cerca de três meses, apenas quatro saídas por ano. São suficientes.

Além disso tenho uma mini plantação no local, algumas frutas, legumes e temperos, me fazem ter uma boa base alimentar fresca, além de três galinhas que consegui comprar na cidade, que me permite ter ovos frescos todos os dias. Hoje preciso pouco de mantimentos externos, apenas carnes, remédios, produtos para as pragas, itens de limpeza e higiene de um modo geral e roupas.

Temos alguma autonomia de vida por aqui que consegui ao roubar um kit de energia solar, que com um pouco de esforço consegui instalar, a geladeira que tenho estava abandonada em uma das casas, assim como os demais móveis que acomodei nessa casa, toda essa mini infraestrutura nos permite viver isolados do mundo.

Não trabalho na cidade, não por falta de oportunidade de empregos, mas por medo, puro e simples, se tem algo que eu tenho certeza nesse mundo é que eu jamais posso baixar a guarda. Basta uma câmera, um descuido mínimo, e todo meu esforço vai por água abaixo. Não aceito correr qualquer mínimo risco. Mesmo que eu acredite que estou livre, mesmo que eu saiba que ele não existe mais nesse mundo, há algo dentro de mim, um instinto de alerta poderoso que grita constantemente que eu devo continuar escondida, talvez, para sempre.

Eu termino a lista satisfeita com o trabalho e meus olhos se voltaram para meu pequeno tesouro. Sorrio ao vê-lo concentrado em sua nova ideia. Emílio estava sentado no chão velho, brincando com um punhado de dados coloridos. A criança estava prestes a completar três anos, e a efervescência da infância brilhava em seus olhos inocentes.

O Carniceiro (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora