Coração em Jogo

01_ Hola, Los Angeles!

Dizem que a probabilidade de alguém ganhar na loteria é de 1 em 50 milhões. Ou seja, é praticamente impossível. Mesmo que uma pessoa compre um bilhete de loteria todo dia, as chances de realmente ganhar são quase extintas.

Quem diria que isso poderia acontecer com a minha família?

A cerca de um mês meus pais ganharam dois milhões de reais na loteria. Nós morávamos numa casa pequena em Puerto Vallarta. Eu frequentava uma escola pública que tinha mais alunos que carteiras e nem tinha um próprio quarto em casa. Agora, de repente, estávamos nos mudando para a famosa cidade de Los Angeles. Moraremos numa casa gigante perto da praia e eu vou frequentar um colégio particular gigante nos Estados Unidos.

Se dissessem para mim que minha vida mudaria tanto em poucos dias, eu não acreditaria. Na verdade, acho que a minha ficha só caiu quando o carro novo do meu pai deixou o México, chegou nos Estados Unidos e adentrou os portões brancos da casa. Ele estacionou em frente a gigantesca casa de dois andares e mais cômodos do que precisamos.

ㅡ Pensei que tinha dito que era uma casa comum. ㅡ Foi a primeira coisa que falei quando saí do carro e encarei as paredes em tom azul claro com detalhes brancos envolto às janelas e portas. ㅡ Quantos quartos tem?

ㅡ Sete. ㅡ Meu pai bateu a porta do carro e observou a casa com um sorriso orgulhoso.

ㅡ Sete?? ㅡ O encarei em choque. ㅡ E quantas famílias vão morar com a gente? ㅡ Meu pai e minha mãe riram juntos e nós caminhamos na direção da porta.

ㅡ Foi a menor que consegui encontrar pela região. Você acostuma. ㅡ Ele deu dois tapinhas no topo da minha cabeça e abriu a porta da casa.

Acho que não preciso descrever o quão era grande e rico lá dentro, né? Já estava mobiliado e decorado. Eu ainda parecia estar sonhando. A todo momento tinha medo de acordar e ver que tudo foi um sonho idiota que minha mente projetou. Uma vez sonhei que tinha passado pra Havard e chorei três dias por ter sido só um sonho.

ㅡ Como vou saber qual dos sete é meu quarto? ㅡ Pisei no primeiro degrau da escada. Nós não tínhamos muita coisa na nossa casa antiga, então não tinha muito o que trazer, mas o que tínhamos, já estava aqui. O que quer dizer que minhas poucas coisas já estavam em algum quarto lá em cima.

ㅡ É o da porta rosa. ㅡ Meu pai disse antes de sumir para outro cômodo.

ㅡ Rosa? ㅡ Encarei minha mãe. Por que meu quarto tinha uma porta rosa em meio a uma casa praticamente toda azul e branco?

ㅡ Ele só cuidou da porta, não se preocupe. ㅡ Minha mãe deu uma piscadela ㅡ Sabe como é o seu pai. Para ele você ainda tem dez anos, só usa rosa, vestidos e brinca de boneca. ㅡ Balançou a cabeça. ㅡ A decoração ficou a cargo da decoradora, mas você pode mudar. Falando nisso, suba e desça logo, precisamos comprar roupas pra escola.

ㅡ Okay! ㅡ Falei já no meio da escada.

Segui por um corredor no andar de cima até encontrar a chamativa porta rosa. Não enrolei para abrir, estava morrendo de curiosidade. Seria o meu primeiro quarto e eu até prendi a respiração quando abri a porta e vi aquele quarto maior que minha antiga casa.

As paredes não eram rosas, como a porta, eram de um tom azul um pouco mais claro que o resto da casa. Tinha uma cama de casal, um closet com quase nada, uma penteadeira, um espelho enorme na parede, e uma bela de uma sacada com vista para a cidade e parte da praia. Parecia um sonho.

Era óbvio que eu sentiria falta do México. Só que isso não diminuía o fato daquele lugar parecer um paraíso. Caramba, eu tinha um quarto só pra mim! Eu teria privacidade e uma vista magnífica. E eu tenho certeza que deixaria tudo com a minha cara em pouco tempo, a começar por uma pequena bandeira mexicana na parede e o meu primeiro sombrero pendurado em algum lugar.