sozinha, gosto disso ou não

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Ao cair do barco, o impacto da água gelada contra minha pele fez meu corpo se contorcer involuntariamente. A sensação de afundar, de ser engolido pelo mar, foi avassaladora. O som da minha própria respiração misturado ao rugido das ondas ecoava nos meus ouvidos, enquanto eu lutava para emergir à superfície.

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Quando finalmente abri os olhos, a intensidade do sol me atingiu como um soco, forçando-me a apertá-los com força. Tossi violentamente, expulsando a água salgada dos pulmões enquanto tentava orientar-me na confusão. - Mãe? Amanda? - gritei, minha voz perdida na vastidão do oceano.

À medida que minha visão se ajustava, percebi que estava em uma ilha desconhecida. O desespero tomou conta de mim. Eu estava sozinha, desamparada, em um lugar que parecia tão distante da civilização. O calor abrasador do sol contrastava com a solidão gelada que se instalava em meu peito.

Os dias se transformaram em semanas, e semanas em meses. Eu sobrevivia como podia, explorando cada centímetro da ilha em busca de recursos. Uma plantação improvisada de trigo se erguia ao lado de algumas árvores frutíferas, oferecendo-me um sustento frágil. A pesca tornou-se uma habilidade essencial, e eu aprendi a domar o mar selvagem em busca de alimento.

A construção do meu abrigo foi um marco de sobrevivência. Com pedaços de madeira à deriva, ergui um refúgio modesto que, apesar de rudimentar, me protegia das intempéries da natureza. À noite, o silêncio da ilha envolvia-me como um manto, mas também amplificava a solidão que me consumia.

Nas noites mais frias, eu me encolhia sob meu moletom, minha única fonte de conforto em um mundo tão hostil. O tecido áspero arranhava minha pele, mas era o único calor que eu conhecia. A incerteza sobre o destino da minha família era um fardo insuportável, uma sombra que pairava sobre mim mesmo nos momentos mais tranquilos.

E então, naquela noite como tantas outras, um estrondo ecoou pela ilha, dilacerando o silêncio. Meu coração disparou no peito, meu corpo tenso em alerta máximo. O desconhecido sussurrava em cada sombra, alimentando meus medos mais profundos.

Cada fibra do meu ser estava alerta, meu coração martelando no peito enquanto me aproximava do local da colisão. O barco estava lá, uma monstruosidade de metal retorcido e madeira fragmentada, testemunha silenciosa de uma tragédia terrível. Corpos espalhados na areia como peças de um quebra-cabeça macabro, um lembrete cru da fragilidade da vida.

Corri até o corpo mais próximo, uma mulher de semblante sereno, agora imersa em um sono profundo da qual talvez nunca acordasse. Com esforço sobre-humano, arrastei-a para perto do meu abrigo improvisado, depositando-a com delicadeza sobre uma folha de bananeira. Agitei-a com desespero, suplicando ao universo por um milagre.

- Por favor, acorde! - implorei, minhas mãos tremendo com a urgência da situação. E então, um milagre aconteceu. A mulher tossiu, engasgando-se com a água que inundava seus pulmões, mas finalmente voltou à vida, seus olhos se abrindo para o mundo desconhecido que a cercava.

- Carol, Carolyna! Filha! - ela chamou, desesperada, seu rosto contorcido pela agonia da incerteza. Eu a encarei, meu coração apertando-se com compaixão diante da sua dor. - Ei, calma. Não sei quem é sua filha, mas lá na frente tem mais corpos jogados. Preciso de ajuda para tirá-los de lá- expliquei, determinada a enfrentar os horrores que aguardavam adiante.

Juntos, arrastamos os corpos inertes pela praia, cada passo pesado como um fardo de chumbo. Eu lhe dei instruções sobre como reviver os outros, mas seus olhos ainda refletiam o temor pela sorte de sua filha perdida.

- Ei, o que foi? Parece nervosa ainda - questionei, observando-a atentamente enquanto tentava manter a calma.

- Carol, minha filha, ainda está por aí. Eu não a encontrei - ela confessou, lágrimas silenciosas escorrendo por suas bochechas. Meu coração apertou-se ainda mais diante da angústia de uma mãe separada de sua cria.

- Vou verificar o barco e procurar por ela. Você pode me descrevê-la? - perguntei, reunindo toda minha coragem para enfrentar o desconhecido.

Ela me descreveu sua filha - morena, baixa, da minha idade. Um lampejo de determinação ardeu dentro de mim enquanto me preparava para a busca. - Vou encontrá-la- prometi, antes de me afastar em direção ao barco naufragado.

A subida era íngreme, cada rocha uma barreira a ser superada. Com cuidado meticuloso, escalei até a borda do barco, minha respiração ecoando no silêncio opressivo que me envolvia. O interior do navio era um labirinto de destroços, cada passo incerto uma dança com a morte iminente. A inclinação do navio tornava cada movimento uma batalha, mas eu avançava com determinação, minha mente focada apenas na missão de encontrar a filha perdida.

A descida pelas escadas corroídas foi uma experiência angustiante, o rangido da madeira submersa ecoando como um lamento macabro. Cada degrau era uma incerteza, uma aposta arriscada contra as forças do naufrágio. Mas avancei, guiada pela esperança de encontrar a jovem perdida.

No interior do navio, o ar estava impregnado com o cheiro de sal e decomposição, uma mistura nauseante que fazia meu estômago revirar. À medida que avançava, meus olhos vasculhavam cada canto em busca de qualquer sinal de vida. E então, o vi: um corpo caído no chão, oculto sob uma montanha de destroços.

Com movimentos frenéticos, afastei os objetos que o cercavam, minha mente em turbilhão enquanto tentava confirmar a identidade da jovem. A morena deitada ali, tão frágil e indefesa, era a prova de que o destino podia ser cruel além da imaginação. Um corte profundo na coxa dela, jorrando sangue vermelho-vivo, era um lembrete doloroso da fragilidade da vida.

Sem hesitação, rasguei minha camisa, transformando-a em um improvisado torniquete para estancar o sangramento. Cada nó, cada pressão sobre a ferida, era uma oração silenciosa pela vida daquela jovem desconhecida. Com cuidado e determinação, ergui-a nos braços, seu peso uma lembrança vívida da responsabilidade que agora carregava.

O retorno ao meu abrigo foi uma maratona de desafios físicos e emocionais. Cada passo era uma luta contra a exaustão e a incerteza, mas eu avançava, impulsionada pela urgência de salvar uma vida. Ao chegar, a mulher, Fernanda, correu para mim, seus olhos transbordando de emoção.

- Calma, ela tem chances de estar viva, mas preciso da sua ajuda - disse-lhe, depositando cuidadosamente a jovem sobre minha cama improvisada. Ouvindo minhas instruções, um garoto, chamado allan se ofereceu para buscar o kit de primeiros socorros no barco naufragado.

Enquanto esperávamos, aproveitei para perguntar sobre a história por trás daqueles rostos desconhecidos. Fernanda se apresentou como uma pesquisadora de tesouros, sua filha, Carolyna, e seus colegas estavam envolvidos em uma busca épica que os havia levado ao naufrágio. A ausência do piloto apenas intensificava o mistério que os envolvia.

Quando Allan, o assistente, retornou com o kit de primeiros socorros, agradeci-lhe com um aceno de cabeça e comecei a tratar os ferimentos da jovem. O alívio inundou-me quando vi que o curativo estava surtindo efeito, a ferida estancada e a respiração da jovem mais estável.

- Ela vai ficar bem - assegurei a Fernanda, sentindo o peso do momento se dissipar lentamente. Com um último olhar para os outros sobreviventes ainda desmaiados, deixei-os descansando em meu abrigo improvisado, sabendo que a noite reservaria novos desafios e provações.

𝗜𝗟𝗛𝗔𝗗𝗔𝗦 𝗘 𝗔𝗣𝗔𝗜𝗫𝗢𝗡𝗔𝗗𝗔𝗦Onde histórias criam vida. Descubra agora