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8 meses atrás

A rasteira que a vida nos dá em certas situações é como estar em plena queda livre. O peito arfa, você fica cabisbaixo e se pergunta onde errou.

E quando se trata de terceiros a estarem envolvidos nessa queda livre, tudo se torna pior. Sufocante do seu modo, e não é só pelo choro preso que fica na nossa garganta.

É porque o coração parece inchar e pressionar nossos órgãos, e a angústia se faz presente com tanta veracidade. Que você se sente sufocado.

Quando estacionou o Mustang em frente a uma lanchonete vinte e quatro horas, passou a mão no rosto na tentativa de limpar os vestígios das lágrimas que saíram durante a viagem. Foram equivalentes 214 quilômetros, em horas, exatas três. Dirigiu com cautela por vez ou outra a visão embaçar por conta dos olhos marejados.

O letreiro reluzente da cafeteria me mostrava onde eu estava "Montclair coffee". Montclair, uma cidade, calma, límpida e um tanto rústica.

Olhou a volta quando saiu do carro e pode notar que a cidade parecia ter parado no tempo, ambiente pacífico e pessoas que não pareciam julgar todos a volta. Olhares vieram na minha direção, mas a curiosidade era por conta do carro clássico e da mulher de olhos inchados que era dona dele.

Não havia julgamentos, ouvia as vozes saindo da cabeça de cada um ali devido ao dom. Era apenas piedade e empatia.

Arrumou a jaqueta no corpo devido ao vento gélido que soprou e foi rumo à cafeteria. Olhou para o relógio na parede que marcava quase três e meia da madrugada quando adentrou o local.

Por viajar por um bom tempo sozinha e com os próprios devaneios, estar naquele ambiente foi quase como um abraço.

Algumas mulheres olharam na minha direção quando passei, assim como as garçonetes. Um rosto novo, talvez nem tanto, já que a notícia sobre eu voltar dos mortos devia estar na maioria das páginas de fofoca.

Ouviu graças a boa audição uma das garotas que usava um uniforme de enfermeira falando "Não é a doutora Langford?" E o outra, provavelmente sua colega de trabalho, rebatendo com um "Parece ser ela, mas o que ela estaria fazendo neste fim de mundo?".

Elas custaram a desviar o olhar da minha direção, ainda naquela briga sobre eu ser quem elas achavam. Resolveu distanciar os ouvidos daquilo, não era algo relevante e nem importante o suficiente.

Se sentou na mesa mais afastada e próxima à janela, a neblina da madrugada jazia presente. O cheiro da madrugada, misturado com café, era acalentador.

O ruim de ficar muito tempo a míngua dos pensamentos, era que eles eram perversos. Estava se achando a pior pessoa do mundo.

Egoísta por estar ignorando as ligações de Wednesday, egoísta por não tê-la respondido através do vínculo. Mas, ao mesmo tempo, estava se achando certa por tomar aquela decisão.

Tempo, precisava de tempo para se estabilizar, porque estava quebrada. Estava sob pressão desde que explodiu aquela porcaria de ponte, com a consciência pesada desde que se conhecia por gente.

Sabia que ninguém entenderia as atitudes que teve, ir embora sem olhar para trás em busca de se encontrar, de fazer o que precisava ser feito para ser uma pessoa melhor.

Devia estar sendo a pessoa mais odiada naquele momento, por todos, sendo julgada assim como foi Jesus. Era um fato que tudo poderia ser resolvido através do diálogo com Wednesday.

Mas como vamos resolver tudo no diálogo, sendo que estamos quebradas e nos partindo em pedaços?.

Discussões, atitudes ruins da minha parte que a deixaram de saco cheio. Wednesday estava cansada, e não era de hoje. Foi um balde que extravasou, um vulcão que entrou em erupção.

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora