I See Fire - Ubbe Ragnarson

O nascer da primavera

O grito agudo de Maeve percorria em cada canto do Grande Salão, podia-se jurar que até mesmo por toda Kattegat. Mas não era somente o som angustiado da ruiva que fazia barulho, trovões também. Sim, trovões... Os ventos fortes batiam com tanta força nas portas de entrada em cada casa da cidade que era comparada a escudos partidos. A neve estava alta, estava densa, estava mais branca que dias e dias anteriores, sendo conhecido aquele dia como o mais "Tenebroso Inverno da Noruega".

Ah, sim... O frio estava terrível durante aqueles meses, mas não tanto quanto aquele momento. Parecia que qualquer habitante poderia sufocar de tremores, animais poderiam congelar em poucas horas, o ar branco e respiração ofegante. Sim, estava difícil até mesmo de dormir. O fogo não durava mais do que uma ou duas horas e isso fazia com que mais escravos se arriscassem a sair naquela nevasca para buscar lenha unicamente no intuito lógico de se manter aquecido... ou vivo.

Porém, isso tudo não passava na mente de Maeve e Ubbe, nada além do que realmente importava para eles: seu primeiro filho.

A ruiva ficou no tormento de dores e contrações ao longo daquela noite, da madrugada, ao nascer do dia até por fim, à tarde. Contudo, até mesmo com o passar das horas, a tempestade de névoa não parava. Os pequenos flocos de neve, milhares e milhares deles dominaram por completo aquela cidade. Estava branco demais, o céu mal se via com todas aquelas nuvens cinzentas e densas. Unicamente era só visto raios entre elas. Os deuses estavam ali, mas só um dentre eles estava realmente com ela, ali por ela e para ela.

Apesar do clima perturbante e gelado, Maeve estava suando e ofegante, como se tivesse treinado por um dia inteiro sem pausa a descansos. Estava impaciente, estava inquieta, estava... por Odin, ela gritava e gritava. Única coisa que podia fazer era gritar, como se o som da sua voz pudesse tranquiliza-la. Detestava ouvir sons de trovões, sempre teve medo disso. Apesar do inverno abafar o som dos trovões, ainda podia-se ouvir de longe e mesmo assim, ainda tinha medo.

Era irônico aquela cena, chegava até mesmo ser um insulto a Thor.

Seu irmão, Liam, costumava brincar com ela quando era criança. Sempre que chovia em Arwen e o som do grunhido alto dos trovões rangia no céu, ela ouvia do mais velho "se não me obedecer, irei gritar como esse trovão".

Quando menor, ela ficava com medo. Seu pai, Galahard, entendia o medo da filha, mas não sabia fazer muita coisa além de contrariar o filho para não perturbar a caçula. Evie era a única que consolava a irmã quando estava com aquele medo, seja cantando ou a distraído com suas histórias de guerra.

Lembranças... ela pensou, se permitindo viajar com elas por breves segundos até sentir mais uma contração forte vindo.

Ubbe estava abraçando-a por trás, seus braços ao redor do corpo de sua amada, enquanto a mesma dividia entre segurar seus braços e os panos da cama.

Pelo suor, tudo estava encharcado. Sua camisola verde-clara, os lençóis do lugar onde repousava, seu cabelo, seu corpo. Durante a noite anterior até pela manhã, Maeve percorria pelo Grande Salão, impaciente. Não queria ninguém perto dela e nem mesmo seu marido.

Ora rezava por Freya, ora chorava enquanto fazia. Murmurava e murmurava palavras de súplicas para os deuses, chegando até mesmo se perguntar se estava rezando certo, falando certo.
Lagertha ordenou que parteiras e curandeiras ficassem ali, de prontidão para a ruiva, sua amiga. E que ousadia aquelas senhoras tinham em contrariar a rainha.

"Não queremos ajudar essa forasteira"

Ah, sim... dentre aquelas mulheres, uma ou duas se atreveram a falar em voz alta o que todas queriam dizer. Contudo, o som da lâmina sendo puxada do cinto de Ubbe foi ouvido por elas, ameaçando queimá-las, matá-las, esfolá-las vivas se necessário para que obedecessem a rainha, salvasse sua esposa, salvasse seu filho. Seu primeiro filho...