Capítulo Dois

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Kimberly

Levo meu almoço para o banheiro, o som borbulhante ecoando ao meu redor como uma sinfonia fodida.

Você conhece o som distorcido que alguns violinos produzem?

Sim, eu também não. Papai e mamãe gostam de música clássica - eles se conheceram em um concerto. Surpresa. Eu prefiro punk e rock alternativo. Muito obrigada.

Enfim, encho minha mente com minhas músicas favoritas, em vez do som do ardor.
Você nunca se acostuma com isso, nem com a ponta do dedo na garganta e nem com a parte do vômito; é sempre nojento. Toda vez que faço isso, sinto como se as aranhas rastejassem sobre a minha pele com as pernas peludas, deixando rastros de lixo por onde passavam.

Quando meu estômago faz o som vazio, anunciando que não há mais nada, saio do banquinho. Ninguém está aqui, como não deveria estar.

Eu só faço isso logo antes da aula, depois de garantir que todos estejam lá. É por isso que às vezes chego atrasada e finjo que é por causa de uma dor de cabeça.

Ser invisível é fácil, mas ser completamente inexistente é um pouco difícil. Se eu fosse um fantasma, não teria que passar por esse problema todos os dias.

Você sabe, a parte de garantir que ninguém esteja dentro do banheiro público de garotas. Se houver alguém por perto, apenas vomito no quintal da RES na lixeira e só volto aqui para escovar os dentes.

Assim que termino de lavar a boca, olho para o meu reflexo no espelho.

Esse rosto também é um pesadelo.

Na verdade, é o pior pesadelo. Aquelas bochechas que eu pensei que não seriam mais surradas, aqueles seios que parecem pequenos demais contra a minha blusa. Meus braços flácidos com estrias em abundância. Elas estão por toda parte - estrias, quero dizer na parte de baixo dos braços, no estômago e nas coxas.

Em toda parte.

Eu as odeio e odeio essa porra de corpo. Eu me odeio nele. Eu gostaria que houvesse uma maneira de detoná-lo de dentro para fora, além de vomitar meu almoço.

Um pensamento ataca meu subconsciente.

Quero bater meu punho contra o espelho, quebrá-lo em pedaços e depois pegar um pedaço de vidro e...

Não.

Não, não!

Balanço minha cabeça freneticamente e dou um tapa nas minhas bochechas, resistindo à vontade de tocar meu pulso.

Pelo Kir, você está aqui pelo Kir.

Meus passos são duros e determinados quando eu saio do banheiro enquanto fecho minha bolsa.

Estou atrasada para a minha próxima aula. Ou mais, chegarei atrasada em cerca de um minuto.

Essa é a desvantagem de estar no banheiro das meninas depois que todos se instalam.

Estou correndo pelo corredor quando um braço envolve meu ombro. Por um segundo, congelo, pensando que Bill voltou por vingança.

Cavaleiro Negro - Bill Kaulitz VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora