𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨

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Nasci em pleno equinócio da primavera, onde o sol se alinhava e abençoava toda a corte florida com raios brilhantes e quentes de luz e a neve acumulada derretia lentamente e banhava o solo fértil.

Abençoada com uma beleza encantadora, como uma pequena fada travessa inocente. Com olhos verdes esmeralda, cílios longos e escuros, lábios pequenos e rosados e cabelos loiros dourados, uma característica típica da maior parte dos moradores da Corte Primaveril.

Meu nascimento foi celebrado por um dia e uma noite, lanternas de papéis com orquídeas brancas pintadas na fina camada translúcida foram penduradas em arcos por todas as ruas, música alegre e danças comemorativas em busca de prosperidade e paz foram tocadas e dançadas por toda a corte por horas a fio.

E apesar de estar sendo amada pelo povo do lado de fora, do lado de dentro eu estava sendo mantida como um pássaro engaiolado com as asas quebradas e as pernas acorrentadas.

Minha mãe, Caelia, era a fêmea mais lamentável que eu já havia conhecido e apesar da pouca idade que tinha pude reconhecer que ela, assim como eu, era apenas mais um pássaro engaiolado.

Privado de sua liberdade e suprimido pouco a pouco, se afundando em ilusões de palavras amorosas e ações carinhosas.

Ela era bela como um lírio, de pele branca e cabelos loiros claros com olhos azuis turquesa grandes e arredondados. Mas toda essa beleza era apagada lentamente, como uma fraca chama no último resquício de uma vela prestes a ser afogada em cera quente e líquida.

E a causa de toda essa situação era meu pai, Killian. O macho mais odioso que já vi.

Controlador, enganador e manipulador eram as suas três principais características. Belo, tolo e violento eram outros. 

Com cabelos loiros num tom escuro quase âmbar e olhos verdes profundos, com pequenas marcas de idade na pele dourada e postura elegante e ereta.

Sua história de amor era trágica no meu ponto de vista.

Minha mãe, filha de um nobre e meu pai filho de um Grão-senhor. Um casamento arranjado sem sentimentos que com o passar do tempo foram evoluídos para um amor egoísta e possessivo.

Minha mãe foi pressionada pela sua família e pela corte para engravidar ainda jovem, em menos de 20 anos de casado ela enfim engravidou. Uma notícia que foi celebrada já que a fertilidade das mulheres feéricas eram muito baixas. 

Sua gravidez correu bem, entretanto seu parto foi complicado e demorado, pelo menos 14 horas foram necessárias para que o primeiro filho de ambos nascesse, meu irmão mais velho, Drystian.

Sua aparência era parecida com a de Killian, olhos verdes profundos e cabelos loiros escurecidos quase num tom de caramelo. 

Sua educação foi rigorosa desde a infância, por ser o futuro herdeiro da Corte ele teve uma atenção extremamente sufocante desde seu nascimento. Aulas de história, política, guerra, artes, idiomas antigos e dialetos. Sua vida praticamente fora resumida em estudar e se aprimorar para se tornar um futuro Grão-Senhor.

Séculos após meu segundo irmão nasceu, ele foi nomeado de Cesare. Ele era uma cópia idêntica a Caelia, os mesmos olhos azuis turquesa e cabelos loiros claros quase platinados. 

Entretanto sua criação foi diferente da de Drystian. Cesare foi educado para ser um substituto, uma segunda opção e nada além disso caso o Grão-senhor mudasse de opinião.

Talvez seja por isso que sua natureza seja rebelde e desenfreada. Sempre indo atrás de aventuras e se afogando em devassidão para esconder sua inferioridade interior e preencher aquele desejo de ser mais do que uma ferramenta.

E por fim eu, a terceira filha. 

Apenas um rostinho bonito e decorativo para todos. Com os mesmos olhos do meu pai, verdes e afiados e os mesmos cabelos de minha mãe, claros e brilhantes.

Minha mãe não deu muita atenção para mim como dava em relação aos meus irmãos mais velhos, percebi isso ainda muito nova. 

Ela sempre estava distante, parecendo perdida em seus pensamentos, quando via Drystian ela tinha uma atitude educada e rígida, como uma marionete, porém quando via Cesare ela sempre estava mais relaxada. Com um sorriso pequeno nos lábios rosados e um leve brilho nos olhos há muito tempo apagados.

Talvez porque Cesare era mais parecido com ela fisicamente que sua atitude tenha se tornado mais complacente e próxima. 

Assim como minha mãe, meu pai não me deu tanta atenção. Ele já tinha dois filhos homens mais velhos e uma filha não era lá grande coisa. 

Por conta disso, nunca tive nenhuma interação com Drystian e Cesare por boa parte da minha vida. Eu não participei de nenhum banquete ou festas que ocorriam porque Killian frequentemente se esquecia de que também tinha uma filha.

Fiquei minha infância inteira sendo criada por uma governanta, já que Caelia não estava muito interessada em observar meu crescimento.

Alis, minha governanta era uma fêmea feérica inferior, com olhos castanhos e pele opaca feita de casca de árvore. Normalmente sua atitude em relação a mim era educada e pacífica, não possuía sequer um resquício de lealdade.

Isso me incomodou por um tempo. Entretanto fiquei em silêncio e a deixei ficar ao meu lado.

Tive muitos tutores durante minha infância, a maior parte da minha educação foi voltada para as artes, como pintura, música, dança e canto. 

Honestamente eu detestava. 

Entretanto eu fiquei em silêncio e obedientemente cumpri todas minhas obrigações.

Meu quarto ficava na vazia ala oeste da mansão primaveril, havia apenas uma sala de dança e uma sala de música que estavam disponíveis para meu uso, de resto havia apenas portas e portas fechadas.

Meus irmãos mais velhos ficavam na ala leste e meu pai na ala norte junto a minha mãe. 

Eu estava praticamente isolada em toda a mansão e minha única companhia eram os criados e guardas que foram designados para ficar à minha disposição.

Era tão entediante que acabei me acostumando. 

Então quando de repente a porta de meu quarto foi aberta por um mordomo e fui guiada para ir até o escritório de meu pai soube que minha vida seria virada de cabeça para baixo. Suspirando lamentei que meu curto período de paz estivesse saindo voando pela janela.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐌𝐞𝐧𝐭𝐢𝐫𝐚𝐬 𝐞 𝐌𝐚́𝐬𝐜𝐚𝐫𝐚𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora