Capítulo 7

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O set do estúdio havia sido levemente reorganizado. Geralmente, apenas Dylan e eu nos sentávamos diante da câmera com meus pais, mas, naquela noite, Sofia e Harry também
receberam lugares no palco.
Os conselheiros do meu pai ficaram em cadeiras do lado oposto às nossas, e no meio havia
um pote com todos os envelopes que eu havia sorteado antes. Ao lado dele estava um pote
vazio onde eu os colocaria depois de abertos. Eu tinha certas restrições à ideia de que eu mesma leria os nomes, mas isso ao menos dava uma sensação de controle. E eu gostava disso.
Atrás das câmeras, os assentos estavam tomados por pessoas próximas à família. O general
Leger estava lá, beijando madame Lucy na testa e sussurrando-lhe algo. Haviam se passado
alguns dias desde que eu ouvira a conversa dos dois, mas ainda me sentia péssima por ela. Se
havia um casal no mundo que deveria ter filhos, era o casal Leger. E se havia uma família no
mundo que deveria ter o poder de resolver as coisas, era a família Schreave.
Contudo, eu ainda não fazia ideia de como ajudar.
Madame Clara estava mandando Taylor a ficar quieta, provavelmente porque a garota ria de
uma piada própria que carecia de qualquer nível de graça. Jamais entendi como uma pessoa maravilhosa como ela pôde ter filhos tão péssimos. A minha tiara favorita? A que eu estava usando? Só era minha favorita porque Taylor entortara a minha primeira favorita e perdera duas pedrinhas da segunda. Ela não tinha nem o direito de tocar nelas. Nunca.
Ao lado de Taylor, Lawrence mexia no celular. Porque, claro, tudo o que acontecia em nosso país e em nossa casa era chato demais para ele. Ingrato. Ele deu uma espiada por cima do celular, viu que eu o observava, fez uma careta e voltou ao que estava fazendo. Por que estava lá?
— Como se sente?
Minha mãe apareceu ao meu lado de repente e passou o braço pelo meu ombro.
— Bem.
Ela sorriu.
— Não tem como você estar bem. Isso tudo é aterrorizante.
— Ah, é mesmo. Quanta gentileza da sua parte me submeter a algo assim.
Ela ensaiou uma risada, tentando descobrir se já estava tudo bem entre a gente.
— Não acho que você seja incapaz — ela disse em voz baixa. — Penso mil coisas maravilhosas sobre você. Um dia saberá o que é se preocupar com os filhos. E eu me preocupo com você mais do que com os outros. Você não é apenas uma garota, Camila. Você é a garota. E eu quero tudo para você.
Fiquei sem saber ao certo o que dizer. Não queria que brigássemos naquela hora, não com
algo tão grande prestes a acontecer. Como o braço dela ainda estava no meu ombro, passei o meu pelas costas dela. Ela beijou o meu cabelo, bem abaixo da tiara.
— Me sinto bem desconfortável — confessei.
— Apenas lembre o que os garotos estão sentindo. Isso é muito importante para eles
também. E o país ficará tão alegre.
Me concentrei na minha respiração. Três meses. Liberdade. Moleza.
— Estou orgulhosa de você — ela disse, abraçando-me uma última vez. — Boa sorte.
Minha mãe saiu para cumprimentar meu pai. Então foi a vez de Dylan se aproximar,
ajeitando o terno enquanto caminhava.
— Não acredito que isso está acontecendo de verdade — ele disse com autêntico
entusiasmo na voz. — Quero muito ter companhia.
— Por quê? Lawrence não basta para você? — disse, cravando novamente o olhar no garoto, que continuava com os olhos concentrado em algo no seu celular.
— Não sei o que você tem contra Lawrence. Ele é muito inteligente.
— Isso é um código para “chato”?
— Não! Mas estou ansioso para conhecer gente nova.
— Eu não — disparei, cruzando os braços tanto para demonstrar minha frustração como
para me proteger.
— Ahhh, vamos lá, irmãzinha. Vai ser divertido.
Ele olhou para os lados e sussurrou:
— Posso até imaginar o que você preparou para os coitados.
Tentei conter o sorriso, mas mal podia esperar para ver os candidatos passarem vergonha.
Dylan pegou um dos envelopes e o bateu de leve no meu nariz.
— Esteja pronta. Se você já foi alfabetizada, vai conseguir se virar bem nesta parte.
— Como você é irritante — falei e lhe dei um soco no braço. — Amo você.
— Sei que ama. Não se preocupe. Vai ser fácil.
Fomos orientados a nos sentar. Dylan largou o envelope e me deu a mão para me conduzir
até meu lugar. As câmeras começaram a rodar, e meu pai iniciou o Jornal com uma notícia sobre um acordo comercial que estávamos próximos de assinar com a Nova Ásia.
Trabalhávamos tanto em parceria com eles que era até difícil imaginar que um dia estivemos
em guerra. Em seguida, meu pai tratou das leis de imigração, e todos os conselheiros falaram,
até a ministra Ally. Tudo aquilo pareceu se arrastar por horas e, ao mesmo tempo, acabou em um instante.
Quando Gavril anunciou meu nome, precisei de um segundo para lembrar exatamente o que
deveria fazer. Mas levantei, atravessei o palco e assumi meu posto diante do microfone.
Abri um sorriso e olhei direto para a câmera, ciente de que todos os televisores de Illéa
estavam ligados naquela noite.
— Tenho certeza de que todos vocês estão tão ansiosos quanto eu, por isso vamos pular a
cerimônia e ir direto ao assunto que todos querem saber. Senhoras e senhores, saberemos
agora quem são os trinta e cinco rapazes convidados a participar desta revolucionária
Seleção.
Levei a mão ao pote e tirei o primeiro envelope.
— De Likely — li, fazendo uma pausa para abrir a carta —, sr. Nuno Gallego.
Exibi a fotografia do garoto.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora