✓ 𝑵𝒐𝒃𝒐𝒅𝒚'𝒔 𝑫𝒂𝒖𝒈𝒉𝒕𝒆𝒓 | (𝐶𝐶𝐼𝑇𝑌 𝑎𝑓𝑡𝑒𝑟 𝐻𝑂𝐹𝐴𝑆)

𝐷𝐼𝐴 8

"Eu cresci do dia para a noite".

Ruhn apertou as alças das sacolas em uma mão e usou a outra para bater na porta à sua frente. Ele sabia que ela costumava acordar cedo, então fez questão de programar o alarme do celular antes mesmo do sol nascer. Deixou Lidia ainda dormindo na cama dos dois quando se levantou, trocou de roupa, tomou um café forte para despertar e pegou as sacolas acumuladas perto do sofá, partindo para o outro lado da cidade, perto do Istros.

Na recepção do hotel, havia informado o número do quarto que pretendia visitar. Agradeceu mentalmente por ser uma figura pública famosa o bastante para poder usar algum tipo de influência sobre a recepcionista, dizendo se ela poderia não anunciar a presença dele porque desejava fazer uma surpresa para a menina. A fêmea da recepção nem mesmo pensou duas vezes antes de acatar o que ele pedira. Com isso, teve sua passagem liberada e então subiu pelo elevador em direção ao quarto de número 316.

Ruhn esperou por alguns segundos antes da porta se abrir. Morana arregalou os olhos quando o viu parado no corredor. Ela vestia um macacão cinza diferente do habitual, de um tecido mais flexível. Ruhn supôs que aquele fosse o uniforme que enviaram com ela para seus treinos matinais. Os cabelos loiros dela estavam presos em uma trança única jogada entre as asas. Parecia prestes a ir para a academia, não que estava voltando de lá — a constar que ela não mostrava indícios de cansaço e suor.

— Bom dia — ele desejou com animação, abrindo um sorriso gentil quando ela olhou para ele como se o macho fosse um fantasma. — Eu diria que é legal te ver, mas parece que você está chocada demais comigo aqui.

— Bom dia — ela parecia receosa. Olhou para os lados, como se esperasse que alguém a ferisse. Em seguida, voltou seu olhar indagador para Ruhn. — O que está fazendo aqui?

— Ithan deixou isso com a Bryce e ela me entregou de noite — ele ergueu as sacolas com os produtos que ela e o lobo tinham comprado na tarde de ontem. — Vim trazer para você.

— É muita gentileza, não precisava — ela esticou os braços para pegar as sacolas, mas Ruhn as afastou, negando com a cabeça.

— Só me diga onde colocar e eu resolvo pra você.

Morana olhou para ele por um segundo, hesitando com a possibilidade de permitir que ele entrasse no seu quarto. Ela mordeu o lábio por alguns segundos e então assentiu, abrindo um pouco mais da porta e dando passagem à ele. Ruhn não titubeou um segundo antes de avançar e passar por ela, indo em direção a escrivaninha do outro lado do quarto. Ele olhou ao redor, absorvendo o quanto tudo parecia no lugar de um jeito esquisito. Não parecia que ela estava usando o quarto há uma semana, tudo ainda estava do mesmo jeito padronizado de arrumação hoteleira. A cama não tinha um vinco nos lençóis, não tinha roupas espalhadas nem calçados jogados em lados diferentes.

Ruhn colocou as sacolas pesadas em cima da mesinha e notou o cartão de crédito em cima de uma carteira de identificação, reconhecendo-a como uma agente da Rainha do Oceano. Ao lado, seu celular estava com a tela virada para baixo. O feérico se virou devagar, fingindo estar soltando as amarras das alças das sacolas quando, na verdade, tentou reparar em qualquer coisa que pertencesse à Morana.

Tudo o que encontrou fora uma mochila preta dentro do guarda roupa — que tinha as portas entreabertas — e uma maleta de mão preta com a tampa aberta, mostrando pelo menos três tipos diferentes de armas e uma quantidade alarmante de munição, facas e vidrinhos com líquidos do que provavelmente seria sonífero ou algum soro da verdade, dada a natureza do seu trabalho como Carrasca.