- Dmitry
As mãos de Aço eram grandes, quase o dobro das minhas, e isso resultava em arrepios involuntários enquanto percorria meu corpo com elas. Sua palma parou em minha cintura, tirando proveito da pouca roupa que usava e apreciando minha pele morena. Seu sorriso nojento não deixava seu rosto, e suponho que seus olhos não deveriam estar diferentes se eu pudesse vê-los, talvez analisando cada pedacinho do que eu havia exposto.
Senti sua língua comprida e viscosa percorrer meu abdômen enquanto suas palmas continuavam o trabalho de roubar tudo que havia de mim: minha dignidade e sobriedade. Muito provavelmente me arrependeria disso no dia seguinte, mas eu poderia culpar o álcool e as drogas que me deu na maior cara de pau, apenas para me ter assim, vulnerável. Aço era um maluco doentio, maníaco e masoquista, e um pouco sádico. Contudo, Deus me perdoe, eu amava tudo isso.
Sua atenção era toda minha, como um mortal reverenciado uma divindade, e por um momento eu me sentia vivo. As mordidas, beijos, toques obscenos. Tudo me fazia querer mais e depois negar, justamente para sentir o desejo correr minhas entranhas e me consumir como uma droga. O êxtase.
Com o pouco de consciência que me restava, dirigi minhas mãos, ainda trêmulas, até sua testa e de lá afastei as madeixas negras, achando seus olhos. Ah, seus olhos. Eles eram tortos, horrendos, um desgranhado de pele reposta no lugar com uma pitada de cor de suas íris. Seus olhos me causavam uma estranha repulsa, repulsa essa que era respondida pela minha adrenalina. Eu queria beija-los. Queria sentir o medo pingar, ao ponto de me sentir febril nos seus braços.
"Aço" eu resmunguei arrastado.
"Você é tão lindo, que dói" ele responde.
E termina com sua língua em minha boca, como se eu fosse seu oásis e ele o ambulante sedento no deserto.