Capítulo 5

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- Any -

Observo atentamente enquanto Sina se equilibrava em uma cadeira para endireitar um quadro. No pouco tempo que estive com ela, entendi que se as coisas a irritam ela foca em duas coisas: Mia e Arrumação excessiva. Como Mia está na escola...

- O que acha? melhor?

- Acho que você está a dez minutos arrumando um quadro que já estava arrumado. – Lhe entrego um copo com água. – Se quer arrumar algumas coisas, por que não arruma o escritório do andar de cima?

- Porque lá, ninguém entra. Nem a pessoa que deveria, que no caso seria o Josh. – Sina solta o ar. – Era o escritório da Savannah.

- Ah...

Não sei muito da história dos dois, mas pelo que entendi Savannah morreu a três anos.

- Any, precisamos conversar. – Josh aparece atrás de nós nos assustando.

- Meu deus, Josh! Você gosta de assustar os outros. – Falo com a mão no peito e ele apenas sorri ladino.

O sigo até o seu escritório e assim que começo a me desculpar por falar sobre o escritório do andar de cima, ele me interrompe.

- Não precisa se desculpar, Any. Realmente ele está abandonado. Vou contratar alguém para arrumar...

- Eu sei que vou ser a intrometida, mas já estou aqui a quase dois meses, então vou arriscar. É uma parte importante para você, não deixe outra pessoas ver memorias que te fazem falta e decidir se elas ficam ou vão para o lixo.

- Até onde eu sei você não sabe como é estar no meu lugar. – Josh responde ríspido e eu me xingo mentalmente.

- Você tem razão, me desculpa. – Pigarreio e não luto contra a vontade de encarar o chão. – Não acho que tenha sido por isso que você me chamou para conversar.

- Os advogados de Dytto entraram em contato comigo, hoje pela manhã. Eles querem uma reunião para colocar os pingos nos "i"s. Tudo bem, eu marcar para as dez?

- Ah, sim...

- Ótimo, amanhã passo para te buscar...

- Não, eu te encontro lá. – Ele me fita, nada agradável. – Limites.

- Você quem sabe. – Josh continua com a expressão irritada. – Voltei mais cedo do trabalho para falar sobre essa ligação. Não pretendo voltar para a empresa hoje, então se quiser, está livre mais cedo.

- Tudo bem. – Respondo simples. – Mia vai ficar feliz em ver que você foi buscá-la. Obrigado por tudo, Josh. Com licença.

Limites, é isso que eu preciso. Desde que vim para trabalhar aqui, me senti muito a vontade com as pessoas e a minha rotina. Nunca pensei que cuidar de uma garotinha seria tão bom. Mas acabei me enganando quanto a limites e isso não vai mais acontecer. Eu sou a babá e não a amiga da família.

Vou para a cozinha pegar minha bolsa e me despedir de Sina. Ela estava reorganizando todos os potes de Josh, não era por cor e nem por tamanho, mas era de uma maneira que fazia sentido em sua cabeça.

- Estou indo, Sina. – Falo e ela para imediatamente de empilhar os potes.

- O que meu irmão fez? Ele estava ranzinza e de cara emburrada né?

- Não, ele só voltou mais cedo do trabalho e me liberou. Ah e amanhã tenho uma reunião com os advogados da Dytto.

- Que bom, Josh vai arregaçar eles. Ele sempre faz isso. – Sina me puxa para um abraço. – Josh é muito sensível sobre o assunto sobre Savannah, não liga.

Me afasto levemente do abraço apenas para mostrar que estava tudo bem com um sorriso.

- Eu que pulei um limite, Sina. Eu sou uma empregada e não amiga.

- Isso não é verdade.

- É sim e está tudo bem, porque sou muito grata pelo emprego. Agora eu vou aproveitar que me liberaram e comprar umas coisas que estão faltando em casa. Até amanhã Sininho.

- Até Anyelly.

...

- Josh –

Uma dor de cabeça latejante, é isso que eu sinto nesse momento. E eu sei que a culpa de ter essa dor é minha por ser tão fraco e me deixar ser atingido por um assunto que já devia ter passado.

- Eu de verdade não entendo você! – Sina entra no escritório gritando, ou pode ser minha dor de cabeça. – Em um momento está "Vou fazer de tudo para ajudar ela" e no outro está "Limites, Any, limites". Você que passa dos limites e quer pedir isso a ela?

- Sina, eu...

- Que eu saiba ela não pediu para você a ajudar com os problemas com a Dytto. Você teria dois motivos para isso: o primeiro seria se vingar da sua ex-namorada mal caráter. O segundo seria ajudar uma moça que desde o momento que apareceu no seu campo de visão já se apaixonou... Ou pode ser os dois.

- Não estou apaixonado pela Any. Ela é uma funcionária. Sou muito grato pela forma como ela cuida de Mia e como organiza as coisas aqui mesmo não sendo função dela. A ajudo como forma de agradecimento.

- Isso se chama salário, qualquer coisa além disso é muito mais que pagamento. – Sina começa a andar de um lado para outro – E a parte que você escutou Any e Krystian conversando? Está investigando alguma coisa, que você ainda não sabe aproposito, que aconteceu na escola de Mia com Any. Você não é um chefe tão bonzinho assim, Josh.

- Eu posso falar?

- Não! Agora você quer que Any se sinta apenas uma funcionária e não como amiga? Você pulou todas as cercas que separam profissional de amizade e quando ela tenta pular uma dessas cercas você dá um coice que a faz... – Ela respira com os dedos na ponte do nariz. – Você é um idiota.

- Eu não dei um coice em ninguém. Sempre que tento ajudar Any o faço por ser uma coisa que eu sei ajudar, mas ela ia tocar em um assunto que ela mesmo não conhece. Nunca passou por isso.

- Será mesmo, Josh? Você a conhece suficiente para saber se ela nunca perdeu ninguém para a morte? Ou que ela já sofreu o suficiente, sozinha, e que ao invés de levantar, sacodir a poeira e carregar o filho nas costas, podia estar igual a você, fugindo das coisas quando se tornam serias ou se lamenta pelos corredores da casa, como uma alma penada, por ter perdido a esposa a três anos. – Sina se senta na poltrona na minha frente. – Eu sei que você não está preparado para um ponto da conversa que eu queria tocar, mas o outro ponto é que você não pode se importar com as pessoas e as afastar por se importarem também. Any não só ajuda Mia, mas também me ajuda e ajuda você, mesmo você não querendo admitir. Porque a tratar da maneira groshua de ser?

- Groshua?

- Grosso e Josh. Combinação perfeita.

Sina e sua contaminação chamada Noah.

- Você está certa, Any só tentou me ajudar e eu fui grosso com ela. Percebi isso quando o fiz.

- Mas foi cabeça dura demais para pedir desculpas.

- Talvez... – Recebo um virar de olhos. – Amanhã, depois da reunião com os advogados de Dytto, vou pedir desculpas a Any.

- Por que não pede antes? Vai buscar ela na casa dela...

- Eu me ofereci, mas ela falou "Limites". – Sina sorri. – O que foi?

- Nada, é só que essa história vai ser muito boa.

A BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora