Tecelã Ⅰ

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Havia um menino. Este menino foi criado por seus pais e morava numa casa, sendo filho único.

Estava ele em suas aventuras quando se empolgou e saiu da rua em que vivia para uma pequena floresta que havia detrás de sua casa.

Sem muito temor a inocência infantil o levava a brincar entre seus amados besouros e as curiosas aranhas em suas teias, dentre elas a que mais gostava era as saltadoras.

Andando um pouco mais, uma intuição, e se moveu. Indo a diante para o lado que nasce o Sol, encontrou uma pequenina aranha do tamanho de um polegar, quando percebeu já estava em sua casa e estava brincando com ela em um pequeno viveiro.

Uma exímia aranha saltadora com uma inteligência notável, ele movia o dedo e assim ela ia para um lado e movendo de novo assim ia a outro lado. Ele ria, começou a se afeiçoar a tal aranha e chamou-a de Helena.

Com alguns dias naquela casa, logo ela cresceu, e possuía já o tamanho de um palmo, ainda era curiosa e parecia que sua inteligência tendia a aumentar e já conseguia distinguir objetos e pessoas e dormia ao lado do menino por quem tanto tinha carinho.

Assim foi até completar um mês de permanência da Helena e com isso, quando os seus pais o deixaram a sós durante uma semana, conversava com ela. Sendo um rapazinho inteligente, não sabia que ela o responderia.

Ele se surpreendia ao ouvir em sua mente uma voz calma e suave de uma menina, do qual tinha certeza que era Helena. Ela se apresentava como mãe de todas as aranhas e rainha da realidade.

Seus olhos negros inspiravam algo de certa forma indizível, amor ou compaixão talvez. O menino não entendia aquela situação e na verdade estava tentando a responder, mas não lhe saiam palavras de sua boca de tamanha surpresa.

A aranha, porém, trouxe e segurou sua mão com seu pedipalpo e a acariciava com o outro, nesse momento o jovem tomava coragem e respondia perguntando seu nome.

"Meu nome é Helena, não foi este o nome que me deu?" E mais uma vez o jovem ficava perplexo, dessa vez pela ternura da aranha. E com isso passaram a desenvolver uma profunda intimidade.

Com o passar de mais um mês, Helena já era maior que seu aquário e ela escavou na parede e retirando o tijolo do lugar, fez seu novo lar a parede da casa.

Assim vivia o menino: acordava e se arrumava para ir na escola, depois chegava em sua casa por volta das 13 horas e fazia seu almoço a maioria das vezes, depois ele ia a seu quarto e conversava com Helena. Alguns dias seus pais brigavam e muitas vezes teve que limpar manchas de sangue de seu pai e de sua mãe de sua casa.

Houve certo dia em que ele comentou com Helena que queria ter dinheiro para pagar as contas de seus pais e a aranha no outro dia lhe empurrou uma substancial quantia de ouro e dinheiro pelo buraco da parede, porém ele nada o fez e na verdade o guardou com medo de seus pais.

Em uma outra noite em que reclamou das moscas e pernilongos que o impediam de dormir e foi dormir no próximo dia, ele acordou de madrugada e viu aranhas de longas e finas patas tecendo camadas de teia em seu quarto, aliadas de varias outras aranhas saltadoras que se dispunham em meio as camadas de teias, fato é que tomaram cuidado com o menino e mantinham dele uma distância de um palmo para não lhe incomodar.

Acordando, percebeu ainda as teias lhe recobrindo o quarto, porém as mesmas que fizeram a estavam devorando e tornando o esbranquiçado em translúcido e o translúcido em nada, num processo que não demorou ao menos 20 minutos.

Sua mãe, entrava no quarto no meio do processo e estava ela com algumas faixas na cabeça e curativos em seus braços, ela gritou que possuía uma infestação de aranhas naquele quarto e praguejou seu filho por isso.

Coletânea de contos e poesiasOnde histórias criam vida. Descubra agora