Acabei o meu banho que era lei antes de dormir e aproveitei para arrumar algumas peças de roupa que haviam ficado bem bagunçadas porque tive que procurar com agilidade algo para dar a Attena. No meio do processo, senti que era observada e então decidi encerrar minha atividade, quando me deparei com os olhos azuis atentos, pareciam estar sonolentos e eu até deduzi que por minha causa não tinha ido dormir, portanto fui respeitosa.
— Seus cabelos branquinhos acinzentados com preto, são divinamente belos. — Elogiou preguiçosamente ao me ver soltando meus fios porque nunca dormia com eles presos, a não ser quando estava de preceito.
— E seus cachinhos de ouro também são divinamente esplêndidos. — Devolvi de bom coração, vendo-os esparramados no travesseiro, eram lindos. Ela fez que não acreditou, negando, como se minhas palavras não valessem.
— Você vai dormir aqui comigo hoje, não é? — Deu dois tapinhas ao seu lado, mostrando que havia deixado um espaço para mim. — Vou ficar mal se continuar dormindo no chão, no meio da noite sairei da cama e deitarei do seu lado. — Me fez rir e pelo visto, não me restou outra opção a não ser aceitar.
Apaguei a luz, deixando somente a do pequeno abajur acesa. A vi sorrir enquanto me aproximava e aos pouquinhos me deitei, enfiando-me meio sem jeito por baixo das cobertas, tinha medo de invadir o espaço dela. Ela pareceu não se importar, tanto é que virou-se de lado, de frente para mim e ficou com seus olhos me encarando.
— Não acredita que seus cabelos são bonitos? — Questionei curiosamente iniciando um assunto já que pela postura, ela gostaria de conversar um pouquinho antes de dormir.
— Não acredito. — Respondeu vestida com a sinceridade que era bem característica sua. — Ele está todo quebrado por causa do sol quente, além de estar com a textura que dá agonia de pegar por causa do ressecamento. Então, desculpe, mas não consigo acreditar. — Me senti um tanto atacada, fez parecer como se eu tivesse mentindo para devolver o elogio, mas a verdade era que o cabelo dela era realmente muito bonito mesmo.
Dentro de uma casa só o dono sabe onde está as goteiras, quem via de fora não percebia esses problemas. Os fios eram bastante definidos e curvados por si só, mudavam entre um loiro claro e um mais escuro, além de ter um volume e um comprimento significativo.
— O que faz para deixar os seus assim? — Perguntou curiosa e se deu a liberdade de tocar na ponta de um cacho meu. Já os meus, diferente dos dela, são com menos definição, ele não tem uma curvatura determinada e eu usava e abusava disso. Meu cabelo mescla entre ondulados e cachos formados, utilizo do volume para lhes dar um ar selvagem. — Já tentei de tudo, já fiz hidratação, umectação, restauração e nada funciona... Eu não tenho tempo de ficar finalizando toda vez que lavo, fica complicado.
— Posso te ajudar um dia com isso, também estou para lavar o meu... Podemos fazer juntas. — Sugeri morrendo de vontade de tocar naqueles fios, não só hoje, mas sabia que esse desejo se estenderia ao longo dos dias assim como percorria os dias passados. — Você usa cosméticos próprios para cachos? Quais produtos você utiliza neles?
— Deixa pra lá. — Pontuou evitativa, seu comportamento mudou de automático. Tornou-se mais arisca, mais receosa e talvez entrou na área da defensiva. O que me fez ficar em alerta, não percebi nada em minha fala que podia dar a atender um ataque, por isso me foi estranho.
— O quê? Por quê? — Franzi o cenho, perdida com a sua reação. A vi analisar meus olhos, meu rosto e em seguida suspirou, parecendo tomar coragem.
— Sei lá, é melhor deixar pra lá. — Pediu abaixando a voz parecendo estar incomodada, o que me deixou em alerta completo.
— Fui invasiva? Acho que passei dos limites, não é? Juro que foram nas melhores intenções, era só pra gente trocar figurinhas sobre o assunto. — Tratei de me justificar ao notar um tom mais arredio vindo dela.
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Olhos de mar, céu e estrelas - Lésbico.
RomanceElizabeth desde a sua infância tem sonhos questionáveis com pessoas específicas a quem não conhece, mas a medida em que foi crescendo, receber a visita de uma determinada moça por meio dos seus devaneios tornou-se bem mais frequente. Como não podia...