Estava de manhã, metade das aulas já haviam se passado.
- Cara, eu tô tão ansioso! Hoje vai ser foda, você vai ver - esse é meu melhor amigo, Leo.
- Tá falando do que? - perguntei.
O rosto animado dele se fechou por um momento. Depois ele sorriu novamente e me deu um soco de leve no ombro.
- Que susto, cabeção. Por um segundo eu achei que você tinha esquecido mesmo.
Eu esqueci. Mas não falei pra ele, dei uma risada de leve.
- Vamo comigo? - já que sempre íamos juntos, talvez isso me de uma dica de para onde vamos.
- Dessa vez não vai rolar né cara, tenho que buscar a mina. Você não vai ir com a Lara também?
Lembrei do que ele tá falando.
O negócio de encontro duplo.- Eu nem conheço ela. Na real, quando eu concordei que ia mesmo?
- Quando eu te implorei porque a Juliana disse que só ia se a amiga dela fosse.
Suspirei.
- Leo, eu...
- Eu sei que você não tá muito animado agora, mas, cara, a Lara parece uma mina legal, sabe? Você devia pelo menos tentar.
Eu não quero fazer isso.
- ....Tá, tanto faz. Que horas?
- Às 20h, não se atrasa em.
- Leonardo, desce da mesa - a professora falou.
- Foi mal 'fessora! - Ele respondeu. Fez como ela disse e a aula começou. Segundos depois, ele se virou para mim de novo e sussurrou - Não esquece o RG falso, menor de idade não entra.
Concordei com a cabeça.
Onde caralhos eu concordei em ir?~
19h em ponto. Eu realmente não estava afim de sair hoje.
Às vezes eu queria só ignorar que eu falei que ia pra algum lugar, mas aí eu seria um babaca.Respirei fundo e olhei para aquele RG que claramente é falso. Tarde demais pra correr atrás, né?
Me arrumei e corri para não perder a hora.
~
Meia hora para a meia noite. Irônico.
Estava escuro, e a gente, já lá fora, nos despediamos para ir embora.- Tô tão feliz que finalmente conseguimos sair nós quatro, sério. Eu e a Lara só falávamos nisso - a Juliana disse.
- Juuu, não explana! - a Lara deu uma risadinha de leve.
- Foi legal foi legal - o Leo falou, com seu braço no ombro da Juliana. Depois, lançou um olhar para mim que dizia algo como "agora é hora de você beijar ela", e eu o ignorei.
- Bom! Tá ficando meio tarde né, você vai embora como, amiga?
- Vou de ônibus, Ju, tem um ponto aqui perto.
- Nananinanão, você não vai ficar no ponto de ônibus sozinha essas horas - ela olhou pra mim - Você pode ficar com ela até o ônibus chegar, né?
Olhei para o Leo.
Olhei para a Lara.
Suspirei.- Claro, eu também vou embora de ônibus mesmo - respondi.
- Ai que ótimo! - Juliana disse assim que eu respondi, como se ela já esperasse que minha resposta fosse sim - Bom, vamos indo então.
Nós nos despedimos e cada "casal" foi para um lado.
Chegamos até o ponto de ônibus dela e nos sentamos.
Meus olhos no mesmo instante se prenderam em um estabelecimento chamativo atravessando a rua.- O que você acha que é aquilo? - perguntei apontando.
- Tem umas luzes bem fortes e da pra ouvir os ruídos da música daqui, então deve ser uma boate.
- Acho que é um bar.
- E tem diferença? - ela perguntou, encostando sua perna na minha, meus olhos trombaram no seu batom cor de rosa por um instante, depois voltaram-se a olhar o estabelecimento aberto.
- Tem. Não sei qual, mas deve ter.
Ela riu de leve.
- Se for assim, então eu acho que é um bar gay.
A resposta dela me surpreendeu, me virei na hora para o seu rosto.
- Por que seria gay? - perguntei.
- Sei lá, acho que o pouquinho que da pra ouvir da música, junto com as pessoas que entram e saem de lá, meio que dão essa impressão.
Pensei no que ela disse.
Faz sentido.- Ótima observadora, já pode ir pra selva tirar foto dos animais escondidos.
Ela riu de leve de novo.
Ficamos em silêncio por um instante.
- Tem um ônibus vindo, acho que é o seu - ambos nos levantamos.
- Você é gay?
Por um segundo eu gelei. Me virei para ela no mesmo instante.
- Não. Por que você pergunta?
Ela se aproximou, tipo, muito.
- Que bom - seu sorriso sumiu, e seu rosto sério se aproximou mais. Seus lábios com batom cor de rosa encostaram-se nos meus. Sua mão tocou no meu rosto, mas eu não me mexi - Eu...meio que já estava querendo fazer isso a um tempo.
Ainda não me mexi.
Minha cabeça também decidiu não pensar. Minha boca, seguindo essa ideia, não se abriu, não ousou fazer um mísero som.Lara fez o sinal para chamar o ônibus e o mesmo parou. Ela subiu, me olhou de último instante, e, no final, desapareceu na enorme caixa de metal que se move.
Eu ainda não me mexi, mas minha cabeça voltou a funcionar.
Foi meu primeiro beijo, mas eu não tô sentindo nada além de choque.
Era pra ser assim? Era pra eu ter gostado? Era para eu desejar mais?
Eu não senti nada.
Por que eu não senti nada?
Eu fiz certo?A Lara é fofa, então por que sentir aquele batom cor de rosa tocando meus lábios não pareceu certo?
Comecei a encarar o bar, que agora tocava música mais alto.
Minha boca ficou seca.
O que deve ter de mais em um bar gay... né? Entrar lá não vai automaticamente me tornar um.
Eu só estou com a boca seca.
Estou com sede.
Olhei para os dois lados e atravessei a rua. Cantarolando a música que eu escutava de lá.
Eu sou curioso.
Quando me pediram documento, peguei o falso e torci para que desse certo.
Quando notei, eu já estava lá dentro.
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O Batom Vermelho.
Teen FictionEM EDIÇÃO!! Miguel, um menino de 17 anos que mora em São Paulo, sempre foi um rapaz muito curioso, até que, em uma noite voltando para a casa, ele vê um bar um pouquinho diferente. Intrigado, ele entra. [Ps; é uma história autoral minha! Todos os p...