Capítulo 8

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Voltamos, Abelhinhas.

Tivemos que fazer uma pausa para não parar de vez. Mas já estou bem, me cuidando direitinho e vamos que bora.


KHALID

Um dos seguranças avisa que o um helicóptero com a ummi acaba de pousar no ponto do hotel.

Claro que ela fará uma de suas entradas teatrais pela porta principal e me preparo para lidar com a balbúrdia que será. Aparentemente, o sheik não deve ser visto consumindo bebida alcoólica, e além da confusão com a dançarina, a noite da apresentação me trouxe mais esse aborrecimento.

Não é como se eu nunca tivesse bebido socialmente, talvez já tenha protagonizado alguns excessos, mas eles estão caçando o minusculo desvio do meu 'caráter contaminado' para usar contra mim.

Ouço o falatório se aproximando, ela gosta dessa mise en scène de grande diva.

Aperto o osso entre os olhos, tenho tido muitas dores de cabeça ultimamente.

A visita da ummi após uma reunião com os membros mais antigos do conselho, sem a minha presença, é só mais uma delas.

As portas se abrem estrondosamente, a mulher de pouco mais de 1,60m me fuzila com os olhos e uma carranca.

Estou acostumado com esse olhar dela desde sempre, não tenho mais medo de ter ofendido a ummi.

— Khalid Rafiq, filho ingrato, quer matar sua ummi de vergonha e desgosto.

— Bom dia, para a senhora também. Ummi.

— Eu carreguei um ovo de serpente no meu ventre por nove longos meses — ela sempre usa umas analogias que não entendo para expressar seu aborrecimento — Devia fingir que Deus não te criou. Quanto trabalho o filho primogênito pose dar depois de virar homem. Era para você cuidar da sua mãe na velhice, não o contrário, Rafiq.

Fala comigo em voz alta e chorosa estapeando meu braço, a contenho com um abraço e ela suspira em meu peito.

— Eu não posso continuar negociando com eles, Rafiq. Ceda, só um pouco.

— Eu não fiz nada, ummi. E eles não me confrontam porque não podem desmoralizar minha palavra sem provas.

— Você e seus irmãos me trazem mais preocupações agora que quando crianças — Ummi suspira mais uma vez.

— Foi tão ruim assim?

— Até nossos aliados questionam seu comprometimento com Almasir.

— Só eu sei com quem e o que tive que negociar para contornar a crise politica que Ebraim e seus homens criaram durante a transição após a morte do tio. Essa ilha, e não só o nosso resort, vive do turismo. Deles se sentirem protegidos aqui. Não podemos começar uma guerra civil.

— E foi justamente isso que argumentei, você sabe ser diplomático, Rafiq. É bom em negociar e aproximar os melhores de você. É exigente e leal. Mas é importante que você demonstre mais respeito pela nossa cultura.

— Eu respeito, ummi. O que nunca conseguirei respeitar é a hipocrisia desses homens que me julgam e fazem igual ou pior que eu.

— Eles esperam que você aceite uma esposa.

— Eu não vou me casar para agradar o conselho, muito menos com alguém que eles escolham.

— Escolha, então.

— Não é assim, ummi. Eu não vou viver uma guerra na minha casa como você e o abbi.

Ela se afasta e respira fundo

A Obsessão do SheikOnde histórias criam vida. Descubra agora